Na entrevista concedida à Fox News, na quarta-feira, contudo, Mohammed bin Salman sublinhou que o tratamento dos palestinianos continua a ser uma questão "muito importante" a resolver.
A Arábia Saudita está a discutir um acordo com os Estados Unidos para normalizar as relações com Israel em troca de um pacto de defesa norte-americano e de ajuda no desenvolvimento do programa nuclear civil saudita.
Os sauditas afirmaram que qualquer acordo exigirá grandes progressos no sentido da criação de um Estado palestiniano. "Para nós, a questão palestiniana é muito importante. Temos de resolver essa parte", disse o governante.
"Esperamos que se chegue a um ponto que facilite a vida dos palestinianos e que Israel se torne um actor no Médio Oriente", acrescentou.
Mohammed bin Salman também negou notícias de que as negociações tinham sido suspensas, garantindo: "Todos os dias, estamos mais perto".
A entrevista foi difundida pouco depois de o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, se ter encontrado com o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, em Nova Iorque, à margem da Assembleia Geral da ONU.
Biden manifestou preocupação com a forma como o governo israelita trata os palestinianos e instou Netanyahu a tomar medidas para melhorar as condições na Cisjordânia, numa altura em que a violência aumenta no território ocupado.
O gabinete de Netanyahu afirmou que a reunião "tratou sobretudo de formas de estabelecer um acordo de paz histórico entre Israel e a Arábia Saudita, o que podia fazer avançar significativamente o fim do conflito israelo-árabe e facilitar a criação de um corredor económico para ligar a Ásia, o Médio Oriente e a Europa".
Questionado durante a entrevista sobre a possibilidade de trabalhar com alguém tão conservador como Netanyahu, o príncipe herdeiro disse: "Se tivermos um avanço, alcançando um acordo que dê aos palestinianos o que precisam e pacificando a região, temos de trabalhar com quem quer que esteja lá".
Bin Salman foi também questionado sobre a possibilidade de o Irão vir a construir uma arma nuclear. "Estamos preocupados com a possibilidade de qualquer país obter uma arma nuclear". E, se o Irão a obtiver, a Arábia Saudita procurará fazer o mesmo, afiançou.
O príncipe herdeiro deu muito poucas entrevistas aos meios de comunicação ocidentais, especialmente desde o assassínio de Jamal Khashoggi, um dissidente saudita e colunista do Washington Post, em 2018, numa operação executada por agentes sauditas que os serviços secretos dos EUA dizem ter sido, provavelmente, aprovada pelo príncipe, que negou qualquer envolvimento.
"Tentámos reformar o sistema de segurança para garantir que esse tipo de erro não aconteça novamente. (...) Foi um erro. Foi doloroso", disse Bin Salman, insistindo que "todos os envolvidos" cumpriram pena de prisão.
A Arábia Saudita fez grandes progressos no sentido de pôr fim à guerra devastadora com os huthis apoiados pelo Irão no Iémen, recebendo esta semana uma delegação dos rebeldes em Riade.
O país liderou o regresso da Síria à Liga Árabe e, em Março, aceitou um acordo mediado pela China para restabelecer relações diplomáticas com o Irão, principal rival regional.
Normalização seria traição à Palestina - a reacção do Irão
Entretanto, o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, advertiu, em Nova Iorque, que qualquer normalização das relações entre Israel e a Arábia Saudita seria uma traição à causa palestiniana.
"Acreditamos que uma relação entre os países da região e o regime sionista seria uma punhalada nas costas do povo palestiniano e da resistência palestiniana", declarou Ebrahim Raisi numa conferência de imprensa à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, após ter sido questionado sobre a aproximação entre Israel e a Arábia Saudita.
O presidente iraniano sublinhou que "iniciar uma relação entre o regime sionista e qualquer regime da região com o objectivo de trazer segurança a esse regime sionista não cumprirá obviamente esse objectivo".
Contudo, saudou a "relação em desenvolvimento do Irão com a Arábia Saudita".
Os dois adversários e rivais históricos no Golfo - a monarquia sunita saudita e a República Islâmica xiita iraniana - iniciaram uma surpreendente normalização das relações na primavera, sob a égide da China.