Em declarações publicadas no seu portal oficial, o Gabinete Nacional de Estatística (GNE) atribuiu os alegados problemas de fraude e interferência na recolha de dados a cidades e vilas em Guizhou e Shaanxi, embora não tenha revelado os nomes específicos das áreas em causa nem se foram propostas punições.
Durante o verão, o GNE efectuou inspecções em muitas províncias - incluindo Guizhou e Shaanxi - para garantir que os dados económicos que recebe das autoridades locais são fiáveis e não foram inflacionados por funcionários.
No mês passado, o GNE iniciou nova ronda de inquéritos em seis outras províncias e também em dois ministérios, o do Comércio e o dos Recursos Naturais, para além do recenseamento económico quinquenal que está a ser preparado para avaliar a situação do país, após três anos de política de 'zero casos' de covid-19.
O jornal de Hong Kong South China Morning Post recordou que os analistas há muito que manifestam dúvidas sobre a exactidão e a veracidade dos dados económicos da China, devido à falta de transparência, enquanto, a nível interno, Pequim precisa de números fiáveis para delinear eficazmente as suas políticas.
Segundo uma mensagem do departamento de Estado dos Estados Unidos divulgada pelo WikiLeaks, o antigo primeiro-ministro Li Keqiang, recentemente falecido, disse ao embaixador norte-americano em 2007 - quando dirigia a província de Liaoning, no nordeste do país - que não confiava nos dados oficiais e que tinha desenvolvido a sua própria forma de avaliar a economia da região.
O político disse que analisava a evolução do volume do transporte ferroviário de mercadorias, o consumo de electricidade e os empréstimos bancários, que foram condensados num índice alternativo - precisamente chamado "índice Li Keqiang" - pela revista The Economist, em 2010.
"Dados fiáveis são de importância fundamental para a elaboração de políticas racionais, bem como para a tomada de decisões empresariais. É, sem dúvida, do interesse do governo garantir a máxima fiabilidade dos dados", afirmou Chen Zhiwu, professor de finanças na Universidade de Hong Kong, citado pela The Economist.
O GNE também acusou alguns funcionários da província de Henan de "não compreenderem como é extremamente crucial" a fiabilidade dos dados, após alguns órgãos de comunicação social terem avançado que eles atrasaram a correção de dados falsificados.
Os funcionários locais tendem a inflacionar os dados económicos para aumentarem as hipóteses de promoção ou devido à pressão que sofrem para cumprir objectivos de crescimento económico.
O governo central está a tentar resolver o problema da dívida das administrações regionais, que acumularam grandes quantidades de "dívida oculta" através de canais de financiamento informais conhecidos como "veículos financeiros da administração local" (LGFV).
Os LGFV são entidades semipúblicas criadas para contornar as restrições ao endividamento das autoridades regionais e que se espalharam por toda a China após a crise financeira de 2008, acumulando uma dívida total de cerca de 66 biliões de yuans (8,5 biliões de euros), de acordo com estimativas do Fundo Monetário Internacional, mais do dobro do valor de 2017.