"Investigadores dos mais variados países têm-se interessado por esta temática colonial, nomeadamente pela escravatura, a própria luta de libertação e os movimentos desses países e os problemas internos dentro desses movimentos", referiu o professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL).
Segundo o historiador, "há uma produção enorme, muito interessante e de grande valia, que tem contribuído para perspetivar de uma outra forma a visão" que os portugueses tinham, "mas também a visão que esses povos tinham" da História Colonial.
António Ventura comparou o distanciamento temporal do tema com a subida de uma montanha: "Ao subirmos, temos uma perspetiva cada vez mais global do que está lá em baixo".
"Eu creio que estamos perfeitamente em condições de escrever sobre todos esses acontecimentos nas variadas vertentes, não só da descolonização, mas também da luta pela instauração da democracia e na sua construção, assim como os seus êxitos e insucessos", declarou.
Por isso, salientou que os trabalhos de investigação e a publicação de novas versões da História têm aumentado, numa perspetiva historiográfica, mas também os estudos em que a História se encontra com outras ciências sociais.
"Naturalmente, nesse acervo enorme de estudos que aparecem, há sempre visões particulares, visões pessoais, visões subjetivas. Aliás, eu creio que qualquer pessoa quando escreve, por mais objetivo que pretenda ser, há sempre um grau de subjetividade que não se pode nunca ultrapassar, evitar", declarou.
"São muitos os estudos que existem sobre Cabo Verde, Angola, Moçambique. Menos sobre a Guiné-Bissau, mas também há. Menos sobre São Tomé e Príncipe, mas também há. Alguns são estudos produzidos por portugueses, o que não quer dizer que não possam ter uma visão bastante ampla e bastante aberta", referiu.
"Por conseguinte, há toda uma historiografia a nível desses países que se tem desenvolvido nos últimos anos de forma interessante, e que é um contributo não só para a História desses países, como também para as relações entre esses países e Portugal", declarou.
"Quando se escreve sobre a História, por exemplo a de Portugal, que é controversa desde as suas origens, o historiador tem de interpretar o passado à luz do que somos e pensamos hoje, mas tendo sempre em atenção a mentalidade e cultura da época. Os historiadores não são juízes", referiu.
Este aprofundamento de conhecimentos da História Colonial é referente ao ensino superior, onde "tem havido desenvolvimentos extraordinários, como o aparecimento de cursos específicos em Estudos Africanos", declarou.
"Noutros níveis de ensino tem havido menos [aprofundamento]. Se olharmos para o ensino secundário, por exemplo, não há tempo naqueles currículos. Tudo tem de ser muito abreviado. E depois tudo piora com a desvalorização da História que tem havido", lamentou.
Assim, os alunos ficam com ideias muito vagas, muito genéricas, que no ensino superior são aprofundadas, indicou.
Esta evolução, disse, reflete-se também nas "relações que existem entre as instituições de investigação e universitárias portuguesas e desses países, portanto, há uma proximidade muito grande. Há um intercâmbio, há uma colaboração muito estreita".
António Ventura considerou ainda que esse aspeto "é fundamental, porque permite uma visão múltipla dos acontecimentos"