"Queria ouvir e escutei a opinião de Putin (...) As posições estão muito distantes, é preciso dar muitos passos para chegar mais perto do fim da guerra, mas o passo mais importante foi o estabelecimento de contactos e vou continuar a trabalhar", afirmou Orbán em declarações à imprensa no âmbito da sua visita de surpresa à capital russa, que motivou críticas dos seus pares europeus.
Orbán reivindicou que a Hungria é o único país da União Europeia (UE) capaz de dialogar com Moscovo e com o Ocidente e justificou que, "para a Europa, a paz é o mais importante" e que "a Europa precisa de paz".
"Há dois anos e meio que vivemos na Europa à sombra da guerra. Isto cria grandes dificuldades para a Europa. Vemos muita destruição e sofrimento. Esta guerra está a começar a afetar o crescimento económico e a nossa competitividade", afirmou.
Além disso, defendeu que, nos últimos dois anos e meio, desde a invasão russa em grande escala da Ucrânia, em fevereiro de 2022, ficou patente que "a paz não será alcançada sem diplomacia" nem "acontecerá sozinha" se ninguém trabalhar nesse sentido.
Após a reunião à porta fechada de mais de duas horas e meia, Vladimir Putin voltou a descartar um cessar-fogo com a Ucrânia, alegando que ajudaria o regime de Kyiv a recuperar e preparar-se para contra-atacar: "A Rússia é a favor do fim completo e definitivo do conflito".
O líder do Kremlin defendeu "a retirada completa de todas as tropas ucranianas" das autoproclamadas repúblicas populares pró-russas de Donetsk e Lugansk, no leste da Ucrânia, e das regiões parcialmente anexadas de Zaporijia e Kherson, no sul, bem como de "outras condições" que devem ser analisadas "com suficiente detalhe" em possíveis reuniões futuras.
Putin disse ter encarado a visita a Moscovo do primeiro-ministro da Hungria, que detém a presidência rotativa da União Europeia, como uma forma de tentar restabelecer o diálogo com Bruxelas, numa altura em que as relações "estão no seu ponto mais baixo".
O Presidente russo considerou que Orbán apresentou a posição ocidental sobre o conflito, "também do ponto de vista dos interesses da Ucrânia", mas elogiou os esforços do líder húngaro, como "uma tentativa de restabelecer o diálogo e dar-lhe um impulso adicional".
Considerado o líder comunitário mais próximo de Moscovo, o chefe do Governo húngaro reuniu-se terça-feira, em Kyiv, com o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, a quem pediu que considerasse a possibilidade de negociar um cessar-fogo com a Rússia e acelerar as conversações de paz.
Antes da chegada de Orbán a Moscovo, o alto representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros, Josep Borrell, afirmou que o líder húngaro "não representa de forma alguma" os 27, juntando-se a críticas no mesmo sentido do presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.
O secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, observou igualmente que Orbán não representa a Aliança Atlântica perante Putin, embora tenha admitido que Budapeste o informou antecipadamente da visita.
Kyiv também se distanciou ao salientar que o primeiro-ministro húngaro não está combinado nem coordenado com as autoridades ucranianas e rejeitou "qualquer acordo sobre a Ucrânia sem a Ucrânia".
Em reação, o chefe da diplomacia de Budapeste, Péter Szijjártó, afirmou que a Hungria, enquanto país soberano, vai ignorar as críticas durante a visita de Orbán a Moscovo.
"Somos um país soberano, pelo que não considero que devamos dedicar a nossa atenção a críticas deste tipo", disse à imprensa no Kremlin, após o encontro entre o Presidente russo e o chefe do Governo húngaro, que proclamou a paz na Ucrânia como um dos objetivos da presidência rotativa da UE.
Depois de se avistar com Putin, Orbán planeia viajar para o Azerbaijão para participar numa cimeira informal da Organização dos Estados Turcos (OTS).