“Não era isto que esperava”, disse o vice-presidente do partido, Califa Seide, em entrevista à Lusa no âmbito do centenário do nascimento do fundador do partido e da nacionalidade guineense, que se cumpre a 12 de Setembro.
O partido decidiu assinalar a data com iniciativas ao longo do ano no país e na diáspora e lamenta que não esteja programada qualquer cerimónia oficial do Estado.
Mais do que silenciar Amílcar, para o vice-presidente do PAIGC, “há uma tentativa de branquear tudo o que é história da Guiné-Bissau porque a história da Guiné-Bissau não pode contar-se sem se falar do PAIGC, a história do PAIGC confunde-se com a história da Guiné-Bissau”.
“Amílcar Cabral fundou o PAIGC, Amílcar Cabral é o fundador da nossa nacionalidade, não só da Guiné, mas de Cabo Verde, e como tal é estranho porque é que não se comemora dia 12 de Setembro aqui na Guiné-Bissau, não é feriado nacional”, considerou Califa Seide.
Para o dirigente do PAIGC “querem, até certo ponto branquear a história, podem tentar, mas não vão conseguir porque não vão eternizar-se no lugar onde estão”.
Califa Seide referiu que algumas datas históricas foram banidas na Guiné-Bissau, como o 20 de Janeiro, dia em que Amílcar Cabral foi assassinado, em 1973, ou o 08 de março, dia da Mulher, assim como o 03 de agosto, data do massacre no porto de Pindjiguiti na Guiné colonial, em 1959.
“São datas históricas, nós PAIGC e a população da Guiné-Bissau comemoramos isso. É uma forma de resistência, também”, afirmou, acrescentando que enquanto existir o PAIGC, não vai permitir “de forma nenhuma que seja branqueada a história deste país”.
O vice-presidente do partido lembrou que logo na primeira sessão da Assembleia Nacional Popular saída das eleições de junho de 2023, a maioria da coligação PAI-Terra Ranka, liderada pelo PAIGC, apresentou uma proposta para as comemorações do centenário natalício de Cabral.
Imediatamente a seguir, em dezembro de 2023, o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, dissolveu o parlamento.
“A partir daí criou-se um Governo de iniciativa presidencial que praticamente não ligou a essa resolução”, disse.
O PAIGC assumiu que tem a responsabilidade de comemorar “com dignidade o centenário de Amílcar Cabral” e está a promover desde janeiro até ao final do ano vários eventos, com o ponto alto em setembro.
“Janeiro vitorioso” como se refere ao primeiro mês do ano é o que tem mais datas históricas, concretamente no dia 20 o assassinato de Cabral, a 23 o dia do início da luta armada de libertação nacional e a 30 o assassinato da heroína Titina Silá.
“Essas datas foram comemoradas pelo PAIGC, apesar de certas vicissitudes que tivemos durante a celebração. Dia 20 de janeiro foi-nos impedido de entrar no mausoléu de Amílcar Cabral”, contou, referindo que também foram impedidos de se aproximarem da estátua de Titina Silá, no jardim em frente ao liceu de Bissau.
“Apesar disso tudo, nós comemoramos com dignidade essas datas históricas fundamentais”, acrescentou.
Em fevereiro foi recordado o primeiro congresso de Cassacá, em 1964, o momento em que Amílcar Cabral defendeu a sua teoria da criação do homem novo, de reafricanização das mentes dos africanos e o conceito de Estado-Nação, conseguindo unir todos os grupos étnicos da Guiné-Bissau.
Em março foram à ilha do Como, que resistiu mais de 70 dias ao cerco do colonizador e afastou as tropas coloniais portuguesas.
“Temos ido a várias localidades do interior e na diáspora para todos sentirem Amílcar Cabral, se fossemos Governo teria outra dimensão”, declarou.
Setembro, o mês do aniversário, será o ponto alto com o simpósio internacional, no dia 12, que juntará académicos e cientistas a falar das diferentes perspetivas de Cabral, em Bafatá, a cidade natal do líder histórico.
Segundo Califa Seide, “dentro em breve” o presidente do PAIGC e da Assembleia Nacional Popular, Domingos Simões Pereira, que se encontra fora do país desde a dissolução do parlamento, vai juntar-se às comemorações.
“Estará cá”, foi a resposta do vice-presidente à pergunta quando será o regresso.