A marcha, que era promovida por um grupo de conhecidos ativistas sociais, devia começar na estátua Eduardo Mondlane, no centro de Maputo, por volta das 08:30 (menos duas horas em Cabo Verde).
O destino era a Procuradoria-Geral da República, onde os manifestantes pretendiam submeter um documento de protesto contra a falta de esclarecimentos sobre o baleamento de figuras críticas à governação do partido no poder, a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo).
Vários grupos da Unidade Intervenção Rápida (UIR), polícia antimotim, tomaram o local onde a marcha devia começar, contingentes fortemente armados e com veículos blindados e pelo menos um camião equipado com canhões de jacto de água.
“Esta é mais uma prova clara de que o aperto de mão entre Daniel Chapo [Presidente moçambicano empossado em Janeiro] e Venâncio Mondlane [político que liderou as manifestações pós-eleitorais no últimos meses] foi apenas para inglês [ver]. Hoje, depois de termos comunicado e seguido todos protocolos exigidos, não devíamos ser impedidos de marchar”, disse à Lusa o activista Clemente Carlos, um dos organizadores da iniciativa.
Embora tenham sido impedidos de permanecer na estátua, os manifestantes tentaram percorrer a avenida Eduardo Mondlane, mas, depois de quase um quilómetro, as autoridades, sem disparar, obrigaram o grupo a abandonar o local.
“Vocês têm três minutos para sair daqui”, declarou um comandante de uma das unidades, enquanto os membros da força de proteção obrigavam, por vezes à força, os jovens com cartazes a abandonarem o local.
A marcha foi convocada na sequência do baleamento, no domingo, de Joel Amaral, um aliado do ex-candidato presidencial Venâncio Mondlane, no centro de Moçambique.
Amaral, que está em “cuidados intensivos embora a evoluir bem”, foi baleado no bairro Cualane 2.º, na cidade de Quelimane, província da Zambézia, por um grupo que se deslocava numa viatura todo terreno, quando a vítima seguia numa bicicleta.
Joel Amaral é um músico, autor de temas que mobilizaram apoiantes de Mondlane nas campanhas eleitorais para as autárquicas (2023) e depois para as presidenciais (2024).
Venâncio Mondlane, que classificou o baleamento de Amaral como mais um caso de “intolerância política”, ameaçou convocar protestos “100 vezes piores” se a “perseguição política” aos seus apoiantes continuar.
Mondlane, que rejeita os resultados das eleições de 09 de outubro, liderou, nos últimos cinco meses, a pior contestação aos resultados eleitorais que o país conheceu desde as primeiras eleições multipartidárias (1994), com protestos em que cerca de 390 pessoas perderam a vida em confrontos com a polícia, segundo dados de organizações da sociedade civil, degenerando, igualmente, em saques e destruição de empresas e infraestruturas públicas.
O Governo moçambicano confirmou anteriormente, pelo menos, 80 óbitos, além da destruição de 1.677 estabelecimentos comerciais, 177 escolas e 23 unidades sanitárias durante as manifestações.
Contudo, em 23 de março, Mondlane e o Daniel Chapo, Presidente já empossado, encontraram-se pela primeira vez e foi assumido o compromisso de cessar a violência no país.