Na copa do mundo

PorEurídice Monteiro,27 jun 2018 6:50

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​Não é à toa que o futebol é hoje designado de desporto rei. No lugar da espada colocou-se a bola. Entretanto, tudo indica que a forma de jogar futebol tenha surgido há mais de dois mil anos em algum lugar lá nos confins da China ou do Japão. Os egípcios, gregos e romanos são também apontados como tendo sido chutadores de bola na sua forma ainda rudimentar.

Na Antiguidade, nem os chutadores orientais nem os ocidentais tinham inventado as regras pelas quais actualmente se regimenta esse desporto tão popular entre nós. De maneira que, segundo algumas fontes da imprensa mundial, tudo leva a crer que os preceitos do futebol moderno tenham sido inventados provavelmente na Inglaterra aí pelos meados do século dezanove.

Tive a necessidade de andar durante algum tempo a pesquisar sobre esse assunto porque a minha tia passa a vida dizendo que não sabe quem inventou o futebol muito menos o Benfica. Eu que não tenho lá muita paixão pelo Benfica digo sempre que esse clube é uma invenção do Salazar e, por isso, todo o cuidado é pouco. Quanto à invenção do futebol aí já tive que realizar um esforço adicional para desvendar se foram os ingleses ou os antigos. Como nada ou quase nada é assim puramente uma invenção dos tempos hodiernos, lá fiquei a saber que os nossos antepassados orientais e ocidentais já tinham essa prática de jogar a bola e os chineses de épocas remotas assistiam na arquibancada à actuação dos seus jogadores mais talentosos. Apesar dessa ancestralidade do futebol, disso ser algo que os antigos já praticavam, os antigos que sempre foram sábios e gente de muito estudo, o certo é que a minha avó nunca gostou dessa mania da gente andar a dar chuto na bola (que, antes da chegada das lojas do chineses, era de meia), em vez de fazermos outra coisa que se considerasse útil para a sociedade e para o nosso futuro. Para além dos argumentos muito pouco abonatórios em relação à prática do futebol de rua, também era preciso ter muito cuidado com a vidraça da janela, com o sol na moleira e com o dedão do pé. Se efectivamente o que praticávamos era o futebol ou algo mais parecido com o brutebol não cabe a mim avaliar nem proferir mais declarações.

Presume-se que, por causa dessa engraçada habilidade de chutar a bola com os pés, da sua popularização à escala planetária e da indústria mediática que a envolve, na impossibilidade de estarmos todos presentes nas terras de Vladimir Putin, o mundo inteiro esteja de olhos no grande ecrã para assistir ao campeonato mundial de futebol, que decorre entre 14 de Junho e 15 de Julho, em onze cidades da Rússia. Por cá, oxalá luz ka bai, ZAP ka kai!

O campeonato do mundo de futebol é sempre um momento para reavivar a memória e as emoções de nós os torcedores, pôr em revista as glórias passadas e pôr em perspectiva táticas de bancada. Cá da nossa bancada periferia, fazendo os cálculos e contando com a divina mão de Deus, estamos crentes numa estreia muito em breve dos Tubarões Azuis na copa do mundo. Até lá, contentemo-nos com as seleções das nossas afinidades.

Um pouco por toda a parte começaram já as apostas nos favoritos. Rússia está vaidosa depois de oferecer quase meia dúzia de golos ao príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammad bin Salman, mas ninguém acredita de facto que esta seleção anfitriã poderá passar da fase de grupos.

Por causa dos milagres do Cristiano Ronaldo, acredita-se que desta vez é possível a sorte sair a Portugal. Depois do jogo contra a Espanha, CR7 deu mais uma prova a Marcelo Rebelo de Sousa que ele, Siiii, é «o embaixador mais qualificado e mais eficiente» do que os irmãos Sobral e «a generalidade da diplomacia lusa». Se no tempo do meu avô era Eusébio a estrela maior, nos dias de hoje, a seleção portuguesa é conhecida por causa do Ronaldo, apenas. Não restam dúvidas. Espera-se que Ronaldo tome as rédeas da seleção e faça por Portugal o que Maradona fez pela Argentina em 1986 (esse comentário ouvi do meu tio, fã do Maradona e crítico do Messi).

Quanto aos que veneram Lionel Messi, supõe-se que ainda acreditam que, de um momento para o outro, este pode inspirar-se e, por isso, apostam na Argentina, que continua ainda a ser lembrada pelos feitos da era do Maradona. Mas, verdade seja dita, o favoritismo pende para Alemanha, França, Brasil e Espanha. Não sem razão.

Entretanto, nenhuma dessas seleções brilhou no primeiro jogo. Apesar de estar de olho no canecão do hexacampeão e a sua torcida ser cada vez maior pelo mundo fora, Brasil perdeu uma excelente oportunidade de mostrar que dessa vez vai ser diferente da última copa em casa. Não se sabe ainda por quem Donald Trump e Kim Jong-un estão a torcer, se tiram onda com Michel Temer ou Putin. O certo é que a seleção de Neymar, Marcelo, Coutinho, Casemiro e Gabriel Jesus é a favorita em todo o mundo, até por causa do historial futebolístico do Brasil, que já teve astros como Pelé, Ronaldo Fenómeno, Ronaldinho Gaúcho e tantos outros.

Espanha foi notícia ainda antes de entrar em campo com a substituição de Lopetegui a dois dias do mundial por um outro treinador de nome não menos engraçado, Hierro. No seu jogo de estreia levaram três golos da estrela portuguesa do Real Madrid, nosso primo CR7. Ainda assim, campeã do mundo na África do Sul, em 2010, a equipa de Piqué, Sergio Ramos, Iniesta, Asensio e Isco é uma das favoritas deste mundial da Rússia.

A supremacia germânica foi completamente neutralizada pelo México de Herrera e Layún. Não obstante, a equipa de Müller e Jerome Boateng está a um passo de igualar o Brasil na conquista do título no campeonato do mundo de futebol, organizada curiosamente na Rússia.

Já a seleção francesa luta pela conquista do bicampeonato. É sem dúvida a equipa mais africana fora da África. Conta com os craques imbatíveis oriundos dos subúrbios de Paris, como Paul Pogba, Mbappe, Kanté e Matuidi.

Há um par de meses, li no Courrier Internacional, uma reportagem sobre o perfil e a trajectória de muitas dessas estrelas do futebol, que rematava que só a região parisiense tem mais talentos do que a Ásia, a África e a América do Norte juntas. Curioso é que esses craques do estrelato mundial são na maioria filhos de emigrantes africanos, que ocuparam as periferias da grande cidade francesa, no pós-guerra e na sequência do fim do império. De lá, surgiram outros nomes que povoam outras seleções, como Riyad Mahrez e Yacine Brahimi da Argélia, para além de um punhado de outros jogadores das seleções senegalesa e marroquina, que também se encontram na copa do mundo de 2018.


Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 864 de 20 de Junho de 2018.

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Autoria:Eurídice Monteiro,27 jun 2018 6:50

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  2 jul 2018 18:07

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