Amílcar Cabral – Doutor Honoris Causa do bem e da justiça: uma visão da Rússia

PorSarkiz Mirzachanian*,25 set 2018 6:27

​No dia 20 de Janeiro celebraram-se os 45 anos do assassinato de Amílcar Cabral. Esta data passou despercebida, embora seja uma razão importante para lembrar esta grande pessoa do seu tempo, como grande pensador, e revolucionário. O desenvolvimento criativo, a atividade revolucionária e o combate pela independência das Ilhas de Cabo Verde de Amílcar Cabral não podem ser desligados da Rússia.

A.S. Dzassokhov, um dos dirigentes do Comité Soviético de Solidariedade para com os povos dos países da Ásia e África, que chefiou a delegação soviética da comissão internacional sobre a investigação de motivos e circunstâncias da morte de Amílcar Cabral disse: «Cabral foi o líder originário de uma pequena colónia portuguesa, mas a escala da sua individualidade foi naturalmente maior. Por exemplo, lembro-me bem, nos fóruns onde se debatiam os problemas dos movimentos de libertação nacional, que regularmente se realizaram no Cairo, na altura da presidência de Gamal Abdel Nasser, Cabral com toda a dignidade e conhecimento, dialogava de forma igual com os líderes de qualquer estado – fosse Nasser ou os líderes europeus.” Cabral foi muito apreciado pelo líder da revolução cubana Fidel Castro. Muitos quiseram sempre falar com Cabral nas sessões da Assembleia Geral da ONU. Na Guiné (Bissau) Cabral é considerado como a personalidade que levou os guineenses à Independência (o irmão de Amílcar, Luís foi o primeiro presidente da Guiné (Bissau).

Amílcar Cabral foi amado e apreciado em Moscovo pela alta capacidade intelectual como organizador, que ele pôs ao serviço do progresso social. O próprio Cabral gostava de visitar a pátria de Lenine, cujo estudo ele considerava imortal e líder para toda a humanidade, inclusivamente para os povos da África. Ele fazia discursos perante especialistas de África, cientistas políticos, a juventude. Uma das praças em Moscovo tem o nome de Cabral.

A atividade revolucionária de Amílcar Cabral baseava-se nos profundos estudos cientifico-teóricos, nas reflexões e nas generalizações de processos sociopolíticos e tradições culturais da realidade africana. No dia 22 de Dezembro 1972, na reunião do Concelho Científico do Instituto da África da Academia das Ciências da URSS, Amílcar Cabral recebeu o diploma de doutor honoris causa. O diploma foi apresentado pelo diretor do Instituto, Presidente do Concelho académico, membro-correspondente da Academia das Ciências das URSS V. G. Solodovnikov. No diploma está escrito: «O Concelho Académico decretou: por méritos no desenvolvimento da ciência e progresso no saber humano conferir ao líder social e político da Guiné (Bissau) e das Ilhas de Cabo Verde, personalidade eminente do movimento de libertação nacional da África Amílcar Cabral o título de doutor honoris causa do Instituto da África da Academia das Ciências da URSS.

No seu discurso de aceitação Amílcar Cabral salientou que a entrega do diploma era considerada como a manifestação de solidariedade do povo soviético com povo combatente da Guiné e com o PAIGC (Partido africano da independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde, fundada em 1959 por Cabral, o irmão Luís Cabral, Aristides Pereira e outros companheiros).

Aproveitando as ideias e estudos dos clássicos da ciência política mundial, a experiência das revoluções na Rússia e na América Latina, Cabral tentou criar um precedente do socialismo africano. Conseguiu alcançar o entendimento do sentido profundo desta ideia que indica apenas um caminho geral para a construção da comunidade idealizada das pessoas, onde o bem e a justiça dominassem. Amílcar Cabral sinceramente acreditava nesta realidade dentro das condições africanas. Mas não conseguiu realizar os seus planos.

Em termos concretos, foi uma tentativa de síntese entre a ideia do socialismo e a cultura tradicionalmente emocional e cordial de África, que é claramente exprimida na cultura altamente espiritual do povo cabo-verdiano. Foi esta síntese que representava a estrela-guia de Cabral na sua luta de libertação. Foi uma arma forte, de cuja solidez ele não duvidou, inclusivamente nas polémicas com os seus críticos intrapartidários.

A herança de Cabral - os seus artigos científicos e reflexões, a experiência da actividade prática e do combate permanecem importantes para a ciência mundial política e histórica. Cabral, de facto, foi o último praticante romântico da grande época das revoluções do seculo XX.

A cultura capitalista e a democracia liberal não representam a fase final do desenvolvimento da ordem social mundial, mas constitui apenas uma etapa temporária, uma vez que as ideias do romantismo político da construção de uma sociedade humana ideal é um valor eterno da razão humana, à qual o ser humano inevitavelmente vai voltar. É por isso que os pensamentos e postulados científicos de Cabral têm interesse para muitos investigadores e especialistas de muitos países do mundo. Na Rússia, em 1973, foi publicado o livro de Cabral “Revolução na Guiné. Artigos escolhidos e discursos” sob a redacção do V. G. Solodovnikov. Este livro foi traduzido para inglês e francês.

Hoje a Rússia faz a “segunda marcha” de ideologizada para África. As relações russo-cabo-verdianas desenvolvem-se nos novos princípios da parceria igualitária e de respeito mútuo, que se baseiam no fundamento sólido de amizade e cooperação lançado por Amílcar Cabral.

O Instituto de África da Academia das Ciências da Rússia tomou a decisão de doar ao povo cabo-verdiano o segundo exemplar do original do diploma de Amílcar Cabral conservado no Instituto.

*Membro do conselho de peritos do Comité de assuntos internacionais da Duma Estatal da Assembleia Federal da Federação da Rússia, aspirante de ciência politica


Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 877 de 19 de Setembro de 2018.

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Autoria:Sarkiz Mirzachanian*,25 set 2018 6:27

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  25 set 2018 6:27

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