Autárquicas 2020 - Entendendo os Resultados

PorAntónio Ludgero Correia,31 out 2020 12:14

“Se você não quer repetir o passado, estude-o” Baruch Spinoza

Nas eleições de 25 de outubro último estavam em jogo o futuro político da líder do PAI e o futuro da própria democracia.

No que ao MpD diz respeito, e face ao presente de grego que recebeu nas autárquicas de 2016 (o controlo, direto ou por interposta pessoa, de 20 dos 22 municípios do país) era muito difícil, para não dizer impossível, conseguir manter o score então alcançado. Na verdade, um resultado irrepetível.

Posto isto, o confronto do último domingo tinha tudo para ser memorável.

De um lado, o MpD que poderia tirar vantagem de ser poder a nível central e de controlar a quási totalidade das Câmaras Municipais para tentar antecipar a vitória no pleito das Legislativas (a acontecer dentro de 06 meses), buscando mantê-las todas, ao mesmo tempo que exploraria eventual vulnerabilidade do PAI nos Mosteiros, mercê da aposentação de Carlos Fernandinho. Destarte, reforçaria a pole position para as eleições gerais, liquidaria a carreira política de Janira Almada e, condicionaria, sobremaneira, a prestação do PAI naquelas eleições.

Do outro lado, o PAI de Janira Almada para quem qualquer resultado seria melhor que o de 2016. Para quem tem como ponto de partida 02 Câmaras, em um universo de 22, suprindo tal marca ganha (e se safa); mantendo, ou piorando, morre, politicamente falando. O PAI só tinha, pois, que estar melhor do que esteve há quatro anos atrás.

E o que aconteceu?

Houve um grupo que agiu de forma coerente com a leitura da sua situação no xadrez político nacional e outro que dormiu à sombra da bananeira. De sombra e água fresca todo mundo gosta, mas, felizmente, na política não há vitórias antecipadas.

O MpD, apesar das vantagens de ser poder a nível nacional e de deter a quási totalidade das Câmaras, não esteve à altura dos acontecimentos ao não conseguir interpretar corretamente o resultado dos estudos de opinião que encomendou. Não os conheço, mas estes ter-lhe-ão dito que, na Praia, por exemplo, (1) haveria uma alta taxa de abstenção; (2) que a UCID, o PP e os Grupos de Cidadãos iriam abocanhar uma apreciável quantidade de votos; (3) e que a acomodação resultante do clima de “JÁ GANHOU” é perigosa qb, mormente em um ambiente de alta abstenção.

Resultado: a taxa de abstenção no município que alberga a Capital da República situou-se acima dos 55%; os habituais outsiders acabaram conquistando mais de 3.000 votos; o pessoal do “JÁ GANHOU” #ficou em casa; e os “tambarinas” não deixaram os seus créditos por mãos alheias (eles vão às urnas chova canivetes, caia neve ou faça 40 graus à sombra).

E tanto dona Abstenção como os ditos outsiders foram se abastecer na despensa do MpD. Aí, deu no que deu: caiu Óscar Santos (de Lém-Ferreira) e subiu Francisco Carvalho (de Vila Nova).

O PAI foi coerente. Lutou, persistiu, fez uma campanha alegre e colorida e, em consequência, não só saiu da zona de rebaixamento como até ficou bem posicionado para os embates do ano que vem. Andou por montes e vales, cruzou achadas e fajãs, deu tudo o que tinha, mobilizou a sua falange de apoio. Saiu de umas modestas manchinhas amarelas em Santiago e no Fogo para pintar de amarelo Santiago Sul e o extremo Norte da grande ilha, a Boa Vista e grande parte da Ilha do Vulcão. É um feito e tanto. E como nestas andanças a vitória depende da fasquia que se tenha colocado – e creio que o PAI nem colocou a fasquia tão alta – pode muito bem a líder do PAI falar de vitória (relativa) na medida em que atingiu os objetivos que perseguia.

Mas os resultados da eleição de domingo último nos deixam curiosos em um par de pormenores.

1. Aqui no Sul, quando Ulisses não aparece nos outdoors com os candidatos (como em 2016) estes, de per si, não dão para a caixa?

2. E a coincidência entre o novo mapa autárquico e o mapa da Covid 19, hein!? Santiago Sul, Boa Vista e Fogo pintados de amarelo - afinal a cor da quarentena - é mera coincidência?

Falei de perigo para o futuro da democracia. Alguém duvida que a democracia perigaria em um cenário em que o PAI estivesse mais vulnerável do que tinha estado até aqui? Ficando por duas Câmaras Municipais (ou pior) e chegando capenga às Legislativas, com um líder recém-eleito, seria presa fácil para o MpD, com consequências sérias para a democracia, sim senhora.

Para finalizar tenho por mim que assim como o MpD nacional e o Governo que lidera influenciaram os resultados nas autárquicas em 2016, aqui, e agora, no Sul do arquipélago, também tiveram a sua quota-parte nos resultados do pleito de domingo último.

A segunda volta segue dentro de momentos. Dentro de 180 dias. E nem se venha com aquela de que são duas eleições distintas: são, sim senhora, mas os resultados de uma contaminam os resultados da outra, mormente quando entre elas há um hiato inferior a 180 dias.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 987 de 28 de Outubro de 2020. 

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Autoria:António Ludgero Correia,31 out 2020 12:14

Editado pormaria Fortes  em  31 out 2020 17:47

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