Quando os músicos de palco se tornam cabeças de cartaz

PorPaulo Lobo Linhares,6 dez 2020 7:25

Sempre me atraiu na música quem esta por trás e (também) faz as coisas acontecerem. Talvez por isso tenha escolhido a profissão de produtor de concertos intimistas e conceptuais.

No caso da música, a língua inglesa tem o termo ideal para classificar os músicos que em palco fazem a banda que apoia voz ou instrumentista principal – a palavra “suport” – o que suporta, dá bases para que a figura de cartaz voe e todos em conjunto mostrem a beleza da arte que elegeram como rainha – a musica.

Para que tudo isso aconteça na perfeição é preciso duas condições sem as quais tudo se torna mais difícil na tal banda “suport”: humildade e um misto de técnica competência e profissionalismo.

Esta semana, tive o privilégio de assistir a um exemplo destes. Entre nomes mais experientes e outros mais novos, todos eram músicos de excelência, para os quais olhamos e adivinhamos tanta coisa boa na música Cabo-verdiana. Sim, para que os cabeças de cartaz brilhem, é indispensável o tal suporte de músicos que criam as condições para que o solista se sinta confortável e nas condições ideais para fazer fluir a sua arte.

Desde os ensaios dão opiniões e vão criando momentos para que todos os espaços vazios (que também são música) fiquem preenchidos da melhor maneira.

Sugerem com humildade, deixando a liberdade para que o músico principal aceite ou não.

Após este jogo de encaixes, há o momento do limar dos pormenores, pois não podem ficar arestas ou marcas desnecessárias quando tudo esta a ser feito para agradar ao músico e em ultima instância os mais importantes – o público.

Contudo, se alguns param por aqui, haverá o caso em que o grupo vais ainda mais longe. É a altura do verniz e da coloração…a mais doce e indicada para o publico alvo. Aí sobressaem as diferenças. Sim, para a criatividade deste género de músicos que falamos não basta apresentar o normal. É preciso ir mais além buscar a diferença – o que os torna únicos, pois tal como um quadro, cada uma das musicas leva a sua assinatura.

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Chegando a este nível, temos espetáculo. Num todo, fundem-se com o musico principal fazendo com que tudo se transforme num momento só – a musica que interpretam. Relembro o que acima referi – tem sempre a humildade de serem os tais “suporters” …porém indispensáveis para que o todo aconteça. A fusão é total onde o todo impera. Sim, é a magia da musica. Ai, conseguir que o publico se misture com o palco é tarefa fácil.

Voltando ao inicio do texto, esta sexta feira, num tributo a um nome que por si só inspira qualquer musico – Ildo Lobo – assisti a uma banda de suporte que assim o fez.

E assim, houve (e não houve…) o completo saxofone do “maestro” Totinho, os bronzeados bordões de Palinh Vieira, o picotado criativo das cordas de Jorge Almeida, a impressionante marcação dos tempos e os ataques cirúrgicos aos pratos da bateria de Buna e o “groove” que só poderia vir da musicalidade interior de Ivan Medina.

Bem…realmente não houve, pois tudo o que descrevi individualmente foi fundido em doses certas e posto humildemente ao serviço dos cabeças de cartaz…que na verdade, ao fim de algum tempo já se confundiam com a banda suporte. E quando isso acontece tudo se torna mágico…tudo se torna música pura…

Preciosa(mente) músicos.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 992 de 2 de Dezembro de 2020. 

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Autoria:Paulo Lobo Linhares,6 dez 2020 7:25

Editado porSara Almeida  em  9 set 2021 23:21

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