Para isso, suporto-me em 3 versículos bíblicos paralelos das epístolas do Apóstolo Paulo:
Efésios, capítulo 4, versículo 11: “E Ele mesmo deu alguns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores”;
I Coríntios, capítulo 7, versículo 20: “Cada um fique na vocação que foi chamado”;
Romanos, capítulo 12, versículo 7: “Se o teu dom é servir, sirva”.
Daniel de Barros foi chamado para ser Pastor e foi um homem de Deus, de fé sólida e com um sentido de missão, no sentido pleno do termo, na linha dos pioneiros do Evangelho em Cabo Verde como João José Dias, Francisco Xavier Ferreira, Luciano Gomes de Barros, seu pai, António Gomes de Jesus, José Maria Correia, Álvaro Barbosa Andrade.
Daniel de Barros teve o dom de servir e usou isso com um sentido prático. As suas muitas habilidades fizeram dele um ‘buldónhe”, na expressão de São Vicente significando uma pessoa com muitas qualidades inventivas para solucionar qualquer tipo de problema. E essas habilidades foram usadas para viver, resgatar e estimular os valores das gentes simples dos meios pequenos e limitados das ilhas contribuindo para a resolução dos seus problemas e sua elevação espiritual.
Foi assim no Tarrafal de Santiago, de 1969 a 1974; foi assim na Fajã, na Praia Branca e na Ribeira Brava de São Nicolau, de 1974 a 1984, onde foi, concomitantemente, a par de pastor, mecânico, electricista, canalizador, treinador de futebol, projectista de templos e construtor civil – os templos da Igreja do Nazareno na Fajã e na Ribeira Brava confirmam isso mesmo. Daniel de Barros foi ainda Delegado do Governo Substituto e Representante da Cruz Vermelha de Cabo Verde na ilha.
Na Praia, onde foi pastor de 1984 a 1991, Daniel de Barros adaptou-se às exigências do meio urbano mas ainda assim deixou a sua marca no jardim da Igreja com a concepção e construção do monumento, um diapasão em betão, para assinalar os 40 anos da construção do templo Memorial Maud Chapman.
Quando saiu de Cabo Verde em 1991, o Rev. Daniel de Barros seguiu para as ilhas dos Açores para continuar a servir. Em 2014 retirou-se para a ilha cabo-verdiana da cidade de Brockton, MA, nos EUA, não deixando de servir.
Daniel David Brazão de Barros (Praia, 21.03.1941 – 22.06.2021) dedicou-se com paixão a servir o povo de Deus e as gentes das ilhas.
A última viagem do Daniel e da Milú às ilhas de Cabo Verde foi em Outubro de 2019 pela celebração dos 50 anos da Igreja do Nazareno do Tarrafal, uma prenda em homenagem ao seu primeiro Pastor. A minha incumbência e função, enquanto antigo pastor e amigo do casal, era acolhê-los e acompanhá-los em nome da Igreja.
Durante esses dias pude testemunhar o afecto e o carinho de todos pelo Senhor Daniel e Dona Milú, estando já numa segunda e numa terceira geração de crentes, com pastores incluído.
Esses dias foram vividos intensamente procurando matar as saudades e evocando as memórias de um passado tão presente.
Telefonei há dias para o Tarrafal para a Secretária da Igreja, que foi presidente da Comissão para a Celebração do Cinquentenário, para lhe felicitar pela oportunidade da iniciativa e ousadia de uma igreja pequena face aos custos bem assim a generosidade de todos.
O que ouvi confortou o meu coração e deixou-me sobremaneira feliz. Afinal, essa comemoração serviu para vivificar a igreja e as contribuições monetárias ultrapassaram em muito as despesas efectuadas.
Eu tive a felicidade de ser amigo de peito desse servo de Deus que viveu procurando cultivar as características de um homem perfeito: bondade, justiça, amor, sabedoria e verdade.
“Se o teu dom é servir, sirva”.
Bem-haja Daniel de Barros e o seu legado!
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1022 de 30 de Junho de 2021.