Uma história única que se repete anualmente

PorLígia Dias Fonseca,19 ago 2021 9:56

Uma a uma, um a um, cada um deles foi fazendo 18 anos. As festas de aniversário sucediam-se a um ritmo alucinante, deixando-nos com os nervos à flor da pele, pois os testes estavam a porta, as PGIs seguiam-se e as notas deste último ano do ciclo eram determinantes. Mas eles não se stressavam. Ou nem todos.

Depois foi a emoção da colocação das fitas, da festa de finalistas. No meio, uns iam tirando a carta de condução e cada dia ficavam mais autónomos. Agora já não sabemos onde é a festa porque não precisam da boleia dos pais. “Vou com o meu grande amigo. Sabes, mãe, ele já conduz e é muito responsável!” Cá dentro de nós, a vozinha soa: ele é muito responsável, sim, mas o problema são os outros todos que não o são e que criam o perigo! Mas temos de calar essa voz e acreditar que tudo vai correr bem.

O verão chega em força e, mesmo com a pandemia, verão não deixa de ser verão para um jovem. Todos os dias há uma saída, um tchili, alguma coisa imperdível que se prolonga pela noite dentro. Muitas vezes o nosso cansaço vence e adormecemos antes de ouvir o barulho da chave a abrir a porta devagarinho, devagarinho… Mas eles voltam para casa e quando dormem, o rosto de criança toma o seu lugar e o recém adulto ou quase adulto é apagado de cena. Olhamos para esse rosto e damos graças a Deus por tudo.

E de repente chega o dia em que começam a partir. Cada um tem um destino diferente. O mundo é todo ele um destino: USA, CHINA, PORTUGAL, FRANÇA, etc.

Partem ansiosos, confiantes, mas também receosos. Mas cada um vai feliz.

Parece que quase todos os progenitores sabem que este momento, mais tarde ou mais cedo, vai chegar. Os filhos vãos em busca de um sonho: estudar, novas oportunidades de trabalho, ter uma vida melhor.

Sabemos e vamo-nos preparando para isso. Mas quando vemos os primeiros amigos mais próximos a começarem a ir, o aperto no coração liberta lágrima atrás de lágrima e nos apercebemos de que, afinal, não estávamos suficientemente preparados para o momento.

Fechamos os olhos e revemos cada minuto em que eles estiverem juntos nos últimos anos. Sentimos os abraços que se davam, as risadas, os amuos. Mas a imagem que mais se destaca é aquela deles todos juntos a saltar no final da cerimónia de colocação de fitas. Que felicidade genuína, pura, única! É uma imagem que nunca mais nos sai do coração.

Agosto entra na segunda metade e uma nova vida começa. Novas responsabilidades, novos encontros, novos expressares. Partem para um mundo totalmente diferente deste nosso Cabo Verde. Terão de lidar com fenómenos estranhos como o racismo, a discriminação social, o bullying por não obedecerem a certos padrões estéticos, o preconceito por isto ou por aquilo.

Vão ter de correr para apanhar o transporte, ter cuidado para não cair no meio da chuva torrencial, estudar sozinhos e com afinco mais de 12 horas por dia, depois de não sei quantas horas de aulas, cair de sono sem ter comido uma comidinha quente preparada pela mamã e, no dia seguinte, levantar com a mesma boa energia e batalhar para que o sonho que tudo motivou se concretize.

Mas esse mundo novo de muitas dificuldades também lhes trará milhares de coisas maravilhosas. Lugares lindos para conhecer, gente boa que com eles se cruzará, amores que surgirão, desafios intelectuais que os deixarão orgulhosos e, até, novas vocações. Enfim… a vida que merece ser vivida em todas as suas formas.

Nós cá ficamos, olhando sistematicamente para o móvel até que chegue a mensagem do dia. Será longa com o relato completo de todas emoções, ou um emoji que tudo resume. Uns dias poderá não chegar, noutros chegará uma atrás da outra. Eles lembrar-se-ão de nós quando tiverem tempo ao longo do dia. Nós ficamos com eles o dia todo, mesmo quando estamos ocupados com outras coisas.

O nosso trabalho de educar, até esta fase, foi feito. Cada um fez à sua maneira sendo que, verdade seja dita, todas as maneiras de educar com amor são boas. Uns foram mais liberais, outros mais responsabilizadores. Uns mais exigentes e repressores, outros mais tolerantes e permissivos. Mas todos nós procuramos que os nossos filhos se tornem independentes, emocionalmente fortes, com carácter suficiente para não se deixarem prejudicar pela intolerância, malvadez, cinismos ou oportunismos de quem com eles se cruza; com humildade necessária para aprender sempre e em todas as ocasiões e com a inteligência para compreender que o sucesso se alcança com esforço e perseverança.

Assim, cumprida a parte presencial do curso de formação de mãe/pai, os módulos que se seguem serão online. Com certeza que estaremos sempre presentes, seja de dia, de noite ou de madrugada. E, claro, continuaremos a praticar a lição primeira da manhã: orar, pedindo a Maria que nos continue a orientar e a interceder junto do Pai Celestial pela felicidade dos nossos filhos.

Este texto foi escrito no dia em que a Betsy iniciou viagem para a nova fase da sua vida, pensando na Giovana que já foi, na Jozienda e na Frederika que se preparam para ir e na Rita que, também, em breve dará os primeiros passos numa faculdade de medicina. O que mais vos desejo, minhas lindas, é que nesta nova etapa das vossas vidas, continuem a saber ser felizes.

Praia, 18 de agosto de 2021

Lígia Dias Fonseca

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Autoria:Lígia Dias Fonseca,19 ago 2021 9:56

Editado porSara Almeida  em  19 ago 2021 9:56

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