Vivíamos a década de 90 quando foi lançado o disco Mar Azul – disco este que não me canso de elogiar a banda base de suporte instrumental de luxo que acompanha Cesária e que depois viria a gravar um disco a solo (Os Mindel Band – Mindelo) que salvo uma ou outra alteração em relação ao disco, foi formada por Bau, Tey, Voginha e Humberto – grupo que se hoje pensarmos na excelência de cada um dos músicos ofusca de tanto respeito musical.
Contudo, antes, a rondar os finais da década de 80, teria sido lançado o disco “Cesária Évora, La Diva aux pieds nus”.
Apesar do termo “world music” ter nascido na década de 60, significando nessa altura algo que, fugiria mais para o sublinhar da diferença entre o “conviver” das várias culturas representadas pela sua arte. Este conceito ligado, à música é vincado na década de 80. Nasce assim claramente o estilo/género/classe da world music que claramente celebra as músicas de cada país. Nascem festivais e este género torna-se real.
Cesária Évora de mansinho se aproximava da nova corrente musical, pela pureza com que conseguia transportar consigo as nossas ilhas e deixá-las soar através da música. Nas costas o trabalho do produtor José da Silva e a sua escudeira Ana Zé Charrua.
Aos poucos a nossa “Diva dos pés nus” vai subindo, afirmando-se, colhendo fans e levando o nome de Cabo Verde para o mundo.
Logo a seguir a “Mar Azul” lança o que, para mim, está certamente na prateleira dos cinco grandes discos da nossa música – “Miss Perfumada”, já referido numa das minhas escolhas desta coluna. Na verdade, uma das referências da World Music. Com este álbum, o tema “Sodade” passa a ser um dos emblemas de Cabo Verde e a nossa Morna cada vez mais conhecida.
Sempre defendi que um percentual enorme do músico cabe à sua humildade e à capacidade de fazer da música sua companheira e não a usá-la como algo que o faça brilhar. Acredito que Cesária pertence a esse grupo relativamente restrito de músicos que o souberam fazer. Aliás, que o fizeram … fazer … ser … sobretudo ser, pois Cesária era ela.
Poucas vezes conversei com ela, mas esse pouco bastou para me deslumbrar. Muitas estórias já ouvi da equipa que trabalhou directamente com ela e de músicos que com ela estiveram.
Sim, confesso que me encanta essa tal postura de músicos que têm na música a sua companheira.
Assim, por isso e pelo resto que não citei por não caber neste espaço, mais uma vez, e haverá mais certamente, me curvo perante a Cize, desta vez dando-lhe os parabéns pelos seus 80 anos.
Parabéns Diva-nossa!
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1031 de 1 de Setembro de 2021.