Não gosto de concursos de beleza!

PorLígia Dias Fonseca,15 dez 2022 11:37

Stephanie Amado é bela, prosseguiu um sonho, teve uma organização nacional que trabalhou muito bem nesta candidatura e arrecadou títulos que a honraram. Venceu. Dou-lhe os meus parabéns e a todos os que trabalharam para isso, incluindo os que pagaram para votar. Mas, tenho de vos dizer que não gosto de concursos de beleza. Muito menos destes que perpetuam um ideal padronizado de beleza : mulheres altíssimas, esqueléticas, que têm de ter medidas certas de cintura, busto, que não podem ser casadas nem ter filhos e isto é aquilo. São concursos de glamour (é só vermos as fotos que os nossos mais altos representantes políticos e até o ICIEG postaram nas suas páginas sociais!), de luzes, que nos entretêm enquanto geram milhões para os seus organizadores.

Não gosto destes concursos porque passam uma ideia de mulher objeto (por mais que agora as ponham a debitar projetos sociais ou ideais de solidariedade), de uma mulher que tem de saber andar de uma certa forma, ter um estilo de corpo, as barbies que continuam a encher o imaginário das nossas crianças e que, são, também, o fruto das suas insatisfações. Fortificam a ideia de que, ao olhar para uma mulher, o que importa em primeiro lugar é ver se é fisicamente bela (agradável ao macho). Quantas de nós não sofremos por causa disto cada vez que vamos para uma entrevista de trabalho, para uma conferência?

O padrão de corpo de mulher que é alimentado por estes concursos internacionais de beleza física é também um fator que tem conduzido ao aumento de problemas de saúde como são os distúrbios alimentares como bulimia e anorexia e até ao aumento de tentativa de suicídio entre as jovens que não conseguem se sentir socialmente aceites por terem corpos bem diferentes desse padrão.

Num país, como o nosso, em que as mulheres belíssimas andam pelas ruas bem equilibradas com o balaio na cabeça e filho pendurado ao colo, pé no chão e têm um gingar único, de todas as cores, feitios de corpos e idades, até podíamos dizer que as ruas deste país são autênticas passareles de beleza pura.

Mas, dizia, eu, neste país em que estamos a desconstruir estereótipos, em que queremos combater os preconceitos contra as mulheres, em que se aprovam leis, regulamentos e fundos para trabalhar a auto-estima destas, em que diariamente dizemos às nossas meninas que elas são lindas e poderosas sejam gordas, magras, altas, de olhos azuis ou castanhos, é, também, neste país que a entidade governamental para igualdade e equidade de género (ICIEG), o Chefe de Governo e o Presidente da República destacam como grande feito e orgulho de um povo , uma vitória num concurso de miss internacional e postam a beleza glamourosa da inquestionavelmente bela eleita Miss Africana nos seus trajes e cenários ocidentais que se distanciam completamente do padrão corporal da mulher africana.

A aparência mediática é a essência destes concursos de beleza. Gostaria que a nossa essência fosse maior do que essa. E é. A nossa liberdade é bem maior, só ela me permite ousar escrever este texto e publicá-lo, neste momento.

Praia, 14 de dezembro de 2022

Lígia Dias Fonseca

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Autoria:Lígia Dias Fonseca,15 dez 2022 11:37

Editado porAndre Amaral  em  15 dez 2022 11:37

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