A indignação é geral e aumenta conforme sobem os números destes casos. As redes sociais enchem-se de fotos das vítimas e de declarações fortes de quem clama contra tudo e todos por causa destas mortes. No meio, claro, encontramos todos os aproveitamentos políticos.
Esta violência e apagamento injustificado de tantas vidas jovens, das mulheres assassinadas e dos homens que se suicidam a seguir ao cometimento deste crime, mais do que fortes declarações, têm de nos levar a adotar medidas de prevenção. E como se previne estes comportamentos contra a vida? Acima de tudo com valores que são transmitidos pela família e pela sociedade. Valores de respeito para com o outro, saber olhar para outra pessoa e reconhecer a dignidade dessa pessoa independentemente das suas diferenças, sejam elas físicas ou de outra natureza. Este respeito aliado à solidariedade e à compaixão, é condição essencial para toda a mudança de atitude. Não é a pobreza que incentiva a violência contra as mulheres. É a ideia errada que a respeitabilidade se adquire com os sinais exteriores de riqueza e que homem é aquele que tem bom carro, roupas de marca e correntes de ouro, que está a matar a nossa juventude.
É necessário e urgente fazer um investimento estudado e consistente na formação dos nossos jovens ( já que o exemplo dos adultos está a falhar). Ensinar e fazer com que interiorizem que para vivermos numa sociedade livre, justa e igual é preciso perceber o que é a liberdade, a igualdade e a solidariedade. Que não são meras palavras, mas que determinam toda a forma como agimos connosco e com os outros.
Eu gostaria muito de ver no nosso sistema de educação a exigência dos alunos, nos diversos graus de ensino, de terem de trabalhar em projetos de igualdade e solidariedade e de trabalho voluntário. Quando os meninos crescerem a perceber que as suas companheiras meninas são pessoas iguais a eles, com vontade própria e independentes, também compreenderão que eles homens não deixam de ser homens porque as mulheres e namoradas deixaram de os amar ou porque preferiram ficar com outras pessoas. Quando meninas e meninos crescerem conscientes de que o valor de cada um está naquilo que é como pessoa e que alcança através do seu empenho pessoal e determinação, talvez haja menos violência, porque não se sentirão compelidos a praticar crimes para obter o que os outros têm e eles ainda não conseguiram ter.
Numa sociedade em que as crianças e os jovens crescem imbuídos destes valores, mais facilmente se combate a pobreza, porque os dirigentes percebem que têm de repartir de forma igual as oportunidades, que é mais importante ter políticas públicas de combate às desigualdades e as prioridades passam a ser outras e os exemplos de cima serão , igualmente, outros.
A situação que estamos a assistir de perda de tantas vidas, de destruição de tantas famílias, de tantas crianças privadas das suas mães (e dos pais também, porque ou vão presos ou se suicidaram) e estigmatizadas por esses acontecimentos, não é apenas uma nódoa na imagem. É mesmo um pano social totalmente sujo de sangue e vergonha, é uma ferida que dói e que tem de ser totalmente curada para não alastrar.
Praia, aos 26 de março de 2024
Lígia Dias Fonseca