No meio de tantas coisas efémeras, um quarto de século no ar merece ser assinalado. Um desafio às probabilidades e um certo acto de resistência. Se a Morabeza nasceu de uma ideia e de uma vontade, continua viva graças à preferência de tantos ouvintes, à persistência de accionistas e administrações, ao esforço e entrega de actuais e antigos trabalhadores e colaboradores, à confiança de inúmeros parceiros. Cada um dando o melhor de si, pela continuidade de um projecto que é por direito parte central do panorama mediático cabo-verdiano.
Aos trabalhadores e colaboradores, meus colegas de luta diária, uma referência especial (que quero deixar aqui, no início do texto, e não no final, em nota de rodapé). São eles que fazem a rádio acontecer. São eles quem, em todos os departamentos, materializam, com talento e dedicação irrepetíveis, todas as ideias e todos os projectos, sempre descobrindo uma forma de fazer o irrealizável. Nunca uma ideia ficou por concretizar por ser demasiado ambiciosa para as nossas capacidades materiais.
Nos últimos 12 anos, aqueles que levamos de parceria com a Media Comunicações, a nossa maior preocupação tem sido trabalhar para oferecer aos ouvintes uma grelha com qualidade e diversidade. Não parámos de crescer. Alargámos a área de cobertura, modernizámos as instalações e melhorámos as condições de trabalho de um quadro de pessoal que aumentou. Porém, os ganhos são voláteis, o processo tem sido lento e estamos muito longe de uma situação confortável.
Apesar de uma gestão altamente profissional e criteriosa, somos prejudicados por um mercado desestruturado que nos impede de dar passos maiores e mais seguros, como ambicionamos. Sendo claro: este crescimento tem sido conseguido apesar das condições adversas em que operamos e na ausência de uma política estrutural para o sector da comunicação social, que consagre a pluralidade dos media enquanto activo democrático.
Da nossa parte, temos feito o que nos compete, o que inclui apresentar a quem quer saber (e até mesmo a quem não está interessado), uma e outra vez, propostas para a melhoria do quadro de operação. Essas propostas passam, por exemplo, por uma redefinição das regras de acesso ao mercado publicitário institucional e comercial, alterações fiscais, maior critério económico no licenciamento de novos operadores (salvaguardando a sustentabilidade dos operadores já licenciados), etc.
Quando está em curso a preparação de uma iniciativa legislativa para regular a distribuição de publicidade institucional, seria bom que daí não resultasse o agravamento da disfuncionalidade já existente, com o mesmo de sempre a receber a maior parte e todos os outros a dividirem o que sobra.
O mercado mediático necessita de regras de funcionamento que permitam viabilidade e fortalecimento dos projectos de iniciativa privada; assim como mais eficiência da contraparte pública. Medidas que levem a maior equilíbrio. Iniciativas isoladas, a cada nova tutela, não têm sido suficientes para resolver o fundamental dos problemas há muito diagnosticados (embora insuficientemente sistematizados).
Uma das marcas distintivas da rádio - de qualquer rádio - é a versatilidade. Tem sido essa a base da sua longevidade enquanto meio. Aos avanços tecnológicos, às mudanças de hábitos de consumo, a rádio tem respondido com invejável capacidade de adaptação, só possível pela sua leveza e agilidade. A rádio é voz, companhia e intimidade. Instantânea, efémera e, simultaneamente, duradoura. Na Morabeza, temos tentado ser tudo isso, oferecendo ao público uma alternativa mediática, com outros protagonistas, outros temas e outras perspectivas.
Somos uma rádio nacional com sede em São Vicente e sempre encarámos a particularidade de termos nascido no Mindelo como um activo, pelo importante contributo para a polifonia do espaço público cabo-verdiano. Num país onde tanto se discute e lamenta o centralismo, o exercício que fazemos é precisamente o contrário.
O que mais ambicionamos para os próximos anos, enquanto perservamos o legado dos últimos 25, é nunca perder a ânsia de futuro, percebendo-o e antecipando-o, sempre que possível. Queremos continuar a falar às pessoas, fazendo-lhes sentido e desassossegando-as. Continuar a ser uma rádio livre, de trato fácil, atenta e exigente.
Mas também nos queremos manter imperfeitos. Arriscar, falhar e tentar de novo. Uma rádio igual a nós, uma rádio igual a si.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1170 de 1 de Maio de 2024