O desenvolvimento nunca foi, nem nunca será, fruto do acaso ou da vontade isolada de um líder. A história nos mostra que as nações que prosperaram foram aquelas que fizeram as escolhas certas: apostaram na força das suas instituições, na liberdade económica e no potencial do seu maior ativo – as suas pessoas. O verdadeiro progresso não surge de promessas fáceis, mas sim do investimento contínuo na educação, na inovação, na estabilidade política, na previsibilidade e na garantia de um ambiente onde cada cidadão tem a oportunidade de crescer.
No nosso continente esta realidade se revela, em muitos países, de forma mais atroz. Não obstante possuírem, algumas das maiores reservas mundiais de recursos naturais e terras agrícolas férteis, continuam a enfrentar desafios estruturais profundos, com altos índices de pobreza, desemprego e desigualdade social. Como é óbvio, a abundância de recursos naturais não tem se revertido em progresso.O problema está na persistente crença de que o desenvolvimento chegará pelas mãos de um líder salvador.
Nas últimas décadas, vimos sucessivos momentos de euforia popular em várias partes do continente, celebrando a chegada de um novo “príncipe” que prometia resolver todos os problemas. Primeiro, foram os freedom fighters, que, após as independências, assumiram o poder com promessas de libertação económica e social e progresso para todos. Hoje, assistimos ao mesmo filme na África subsaariana, numa clara reedição da história, onde golpes de Estado são festejados nas ruas como se fossem a solução mágica para o futuro.
O livro "Porque Falham as Nações", de Daron Acemoglu e James Robinson, lançado em fevereiro de 2013, fundamenta de forma clara que a principal diferença entre países desenvolvidos e subdesenvolvidos não está na quantidade de recursos que possuem, nem na sua posição geográfica e muito menos no seu clima ou cultura, mas sim na qualidade e no caráter inclusivo das suas instituições. Países que construíram modelos políticos inclusivos, onde há liberdade económica, justiça e um Estado de Direito funcional, prosperaram. Pelo contrário, os países que mantiveram ficam presos a instituições extractivas, onde o poder está concentrado em poucas mãos e onde não há transparência, falharam.
Outro exemplo marcante vem de Israel, um país sem petróleo, sem grandes reservas minerais e localizado numa região geopolítica instável. Ainda assim, tornou-se uma das economias mais inovadoras do mundo. Saul Singer e Dan Senor, mostram, no livro "Startup Nation" - uma alusão ao caráter empreendedor de Israel - que esse sucesso foi construído com base em instituições que incentivam a inovação, a pesquisa, o empreendedorismo e a livre iniciativa. Israel investiu no seu maior recurso: as pessoas.
O mesmo princípio se aplica a Cabo Verde, sem recursos naturais convencionais, tem que apostar com ainda mais força nos pilares fundamentais da sua identidade: um modelo democrático sólido, fortes instituições inclusivas e que tem no povo seu maior ativo.
Apesar dos desafios estruturais, da vulnerabilidade externa e de ainda enfrentar ingentes desafios para contornar a pobreza, o país conquistou um feito notável: segundo a Business Insider África, citando o FMI, Cabo Verde éa 9ª economia africana com maior PIB per capita.Esse resultado valida a aposta feita na estabilidade institucional.
Desde 2016, o PIB per capita de Cabo Verde cresceu 80%, refletindo a consolidação de um modelo de crescimento sustentável, baseado na resiliência económica, na credibilidade, na previsibilidade e na capacitação do capital humano.
Em 2024, Cabo Verde teve um desempenho económico notável, refletido em indicadores macroeconómicos positivos que validam as políticas adotadas: a economia cresceu 4,7% (ligeiramente inferior aos 5,7% de 2023), impulsionado pelo turismo, pelo transporte e pela confiança dos investidores; paralelamente, conseguiu reduzir o défice orçamental para 2,5% do PIB, uma melhoria significativa face aos 3,5% do ano anterior; a dívida pública continua a sua trajetória descendente, situando-se em 110,5% do PIB; a taxa de inflação média anual foi de 2,8%, uma forte diminuição em relação aos 5,4% de 2023.
No entanto, apesar dos avanços e do reconhecimento internacional, é notório o sucesso de uma narrativa que desvaloriza as virtudes deste percurso com argumentos falaciosos de que os indicadores económicos são abstratos e (como se fosse possível) não têm impacto na vida das pessoas. Notamos também uma tentativa de se criar a percepção de que Cabo Verde precisa de um suposto príncipe, portador de benesses para todos.
Este contexto nos demonstra que Cabo Verde não está imune às tentações do populismo. Tem-se permitido espaço para a germinação de discursos cada vez mais ruidosos que prometem soluções fáceis, sem qualquer base económica sustentável. Propõem cortes em despesas, redução de impostos e, ao mesmo tempo, um aumento de apoios sociais – sem nunca explicar como equilibrar as contas públicas.
Estas propostas ofendem os mais básicos princípios da economia e da gestão pública: “Para distribuir, é preciso primeiro criar", princípio defendido por Adam Smith em A Riqueza das Nações (1776). Como referido, estes atalhos fáceis já foram testados em muitos lugares do mundo. E os resultados foram sempre os mesmos: desequilíbrio macroeconómico, fuga de investimentos, crise fiscal, instabilidade política e empobrecimento da população.
O desenvolvimento sustentável exige previsibilidade, responsabilidade e um compromisso sério com o Estado de Direito. Cabo Verde tem feito a escolha certa ao, persistentemente, apostar em mais e melhor Democracia Liberal, mais e melhor transparência, mais e melhor investimento nas pessoas.
Se há uma lição clara que a história nos ensina é esta: o sucesso não vem de salvadores da pátria, mas sim de instituições sólidas e da construção de um ambiente onde todos possam prosperar. Os países desenvolvem-se porque criaram instituições que garantem oportunidades, estabilidade e justiça para todos.
Cabo Verde está no caminho certo. E é com determinação e compromisso que devemos continuar essa jornada.