"Não temos de estar eternamente de mão estendida à comunidade internacional à espera que nos ajudem. Cabo Verde tem de ser um Estado economicamente forte, para estar em condições de defender os seus em ocasiões de crise", disse em entrevista à agência Lusa, na cidade do Mindelo, onde reside.
O escritor natural da ilha da Boavista, e que durante o primeiro semestre deste ano deverá ter nas bancas aquele que considera o seu primeiro romance, fez uma análise à situação do país e as suas relações com Portugal, a União Europeia e a Comunidade Económica dos Países da África Ocidental (CEDEAO).
"Não se pode viver em Cabo Verde como se fôssemos um país rico. Não é possível. Cabo Verde tem de ser um Estado previdência. Ainda este ano tivemos o problema da seca, vá lá que a comunidade internacional rapidamente respondeu", disse.
O escritor, um dos mais lidos e traduzidos do país, deu como exemplo o ano de seca que Cabo Verde está a enfrentar, tendo recebido da comunidade internacional - União Europeia, Estados Unidos, FAO, entre outros -, cerca de 10 milhões de euros para mitigar os seus efeitos.
Também recordou que em 2016, a União Europeia aprovou um pacote de sete milhões de euros ao país para responder aos estragos causados pelas chuvas na ilha de Santo Antão.
Dois anos antes, o país, que é extremamente dependente do exterior, tinha contado com a comunidade internacional para ajudar os deslocados da erupção vulcânica na ilha do Fogo, que desalojou cerca de 1.500 pessoas.
Na entrevista, o escritor falou também das relações bilaterais entre Cabo Verde e Portugal, dizendo que "são privilegiadas", apesar de "pequenos problemas" que surgem pelo caminho.
"As relações políticas entre Cabo Verde e Portugal são perenemente óptimas, quer com o Partido Africano da Independência de Cabo Verde quer com o Movimento para a Democracia, e não creio que venha a haver razões para perturbar essa relação", afirmou.
Mas as dificuldades na obtenção de vistos por parte de estudantes cabo-verdianos têm sido alvo de grande contestação, particularmente a exigência aos candidatos de fazerem prova de meios de subsistência mínimos para permanecer em Portugal.
Segundo o escritor, Portugal tem "um problema", que é pertencer à comunidade europeia, pelo que terá "limitações" em aceitar todos os cabo-verdianos que querem entrar no país.
Germano Almeida considerou que houve "muita perturbação" com os vistos de estudantes porque o Governo de Cabo Verde "não zelou o suficiente" para os facilitar, considerando que também não tem interesse em ver os estudantes sair do país porque já tem diversas universidades e não quer que suas divisas saem do país.
Sobre a Parceria Especial entre Cabo Verde e a União Europeia, entendeu que "não deu tantos resultados como se esperava" e que a Europa só se interessa por Cabo Verde pelo facto de o país pertencer à Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
"Privilegiamos mais as relações com a Europa, que nos dá mais. Isso é que Cabo Verde demorou a ver: a Europa quer-nos por causa da CEDEAO e não por nós. Se Cabo Verde se separa da CEDEAO, a Europa deixa de se interessar por nós", sustentou.
"Se a Europa aceitasse Cabo Verde como parceiro já estávamos lá, já tínhamos entrado na Europa de cabeça, esquecendo a nossa relação com África. A verdade é que isto faz com que a África também nos aceite mal", prosseguiu o romancista cabo-verdiano.
Germano Almeida comentou também a derrota de Cabo Verde para a presidência da comissão da CEDEAO, dizendo que o país faz "muito pouco" em para sua integração na comunidade, pelo que não estranhou que se tenha preferido a Costa do Marfim.
Segundo Germano Almeida, Cabo Verde tomou como assente que era a sua vez de presidir a comissão por causa da ordem alfabética e não fez mais nada, lembrando que nestes casos há sempre "outros jogos".
Para o escritor, Cabo Verde "precisa rever a sua relação com África" e arranjar formas de se integrar no continente através da cultura, mais do que pela economia.