Menos desemprego num país em seca, 40% “inactivo”

PorSara Almeida,7 abr 2018 7:39

​Menos desemprego é sempre um bom sinal. E outros sinais positivos são trazidos nas estatísticas de emprego de 2017. Contudo, a par da descida da taxa de desemprego, de 15% para 12,2%, houve igualmente uma descida da taxa de emprego e um aumento de quase 20.000 pessoas a engrossar o número de inactivos, particularmente no meio rural. Cabo Verde tem (novamente) uma taxa de inactividade que se situa acima dos 40%, segundo os números divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Estatística, no seu relatório sobre os indicadores do mercado de trabalho 2017.

As estatísticas são uma coisa complexa e se por um lado há indicadores que mostram que o país tem motivos para se regozijar, por outro, há também dados que refreiam o ânimo. Até porque em ano de seca, também estes indicadores se ressentem, particularmente no meio rural.

Começando pelos dados positivos, depois de uma subida em 2016, para os 15,0%, a taxa de desemprego situou-se no ano passado em 12,2%. Em termos de população isso traduz-se em menos8.531 pessoas desempregadas no país. Assim, há hoje em Cabo Verde 28.424 desempregados (23.339 no meio urbano e 5.085 pessoas no rural), menos 23,1% do que em 2016.

Pela negativa, a população empregada foi estimada em 203.775 pessoas, o que constituiu uma diminuição de 2,8% (5.950 pessoas) – a taxa de emprego diminuiu de 54,2 para 51,9%.

Entretanto, “o número de inactivos aumentou em cerca de 19.690 efectivos e a taxa de inactividade é estimada em 40,8%”, mostra o relatório. Ou seja, quase metade da população de Cabo Verde com mais de 15 anos está na “inactividade”.

Muitos destes provavelmente saíram das “fileiras” dos desempregados. Como explicou a Directora do Departamento das Estatísticas Demográficas e Sociais, Noemi Ramos, à margem da conferência de apresentação dos dados.

O aumento da taxa de inactividade pode explicar-se “tendo em conta que houve uma diminuição de desempregados”. Foram “para a inactividade porque, pelo menos na altura da recolha dos dados, demonstraram não ter procurado emprego e não estar disponível para trabalhar”.

Estudantes e “Inactivos”?

Mais precisamente, e como se lê no relatório, inactivo é “toda a pessoa que não procurou trabalho nas 4 semanas que antecedem o inquérito”.

O aumento verificado (na ordem dos 4,5 pontos percentuais) foi mais significativo no meio rural onde mais 12.948 pessoas passaram a ser consideradas “inactivas”. A estas somam-se, nesse ano, mais 6.741 do meio urbano. No total, o número de inactivos ascende assim a 160.157 pessoas.

Sobre as razões para a inactividade, 67,4% refere o facto de estar a estudar (64,9% da população 15-24 anos e 2,5% com mais de 25), seguido na soma das faixas etárias pelos que alegam “doenças, invalidez, acidente ou gravidez”. Destaca-se ainda os desperançados, ou seja, os que acreditam que “não há qualquer emprego” (8,1% dos 15-24 anos, e 10,2% com 25 ou mais).

Outros indicadores

O INE revelou ainda que os concelhos de Santa Catarina (Santiago) (16,9%) e Praia (16,2%) foram os que apresentaram as maiores taxas de desemprego a nível nacional) enquanto que Tarrafal de São Nicolau apresentou a mais baixa (4,3%).

Sob o prisma da idade é de realçar que há “uma diminuição da população desempregada nos jovens” mas um aumento na faixa dos 35-64 anos. Apesar dessas oscilações, continua a ser na faixa dos 15 aos 24 anos que se concentra o maior número de desempregados (32,4%).

Em relação ao subemprego, este registou uma diminuição, de 3,4 pontos percentuais situando-se nos 16,0 a nível nacional. Novamente, é no meio rural que atinge maiores proporções afectando 28,8% da população empregada contra 11,6% no meio urbano.

Mais ainda, no meio rural a taxa de desemprego é menor: 8,8% contra 13,4 do meio urbano. Mas é também lá que a taxa de emprego é, igualmente, menor. “No meio urbano 56,7% da população activa de 15 anos ou mais estava empregada, contra 41,8% no meio rural”, aponta Noemi Ramos, acrescentando que “o sector primário tem uma diminuição de cerca de 4 pontos percentuais, devido à diminuição considerável dos empregos no sector da agricultura, principalmente no meio rural”.

O inquérito, como revelou Noemi Ramos, foi realizado entre Outubro e Dezembro de 2017, pelo que ainda não eram sentidos os impactos do Programa de emergência para mitigação da seca e do mau ano agrícola do governo.

Afinal, há mais emprego ou não?

“Temos uma diminuição quer dos desempregados, em cerca de 8.531 pessoas, de 2016 para 2017, mas também constatamos uma diminuição das pessoas empregadas, em cerca de 5.950. Diminuíram os desempregados, diminuíram os empregados e aumentaram os inactivos”, aponta a Directora do Departamento das Estatísticas Demográficas e Sociais.

Face a todos os indicadores apresentados, houve um aumento da criação de empregos neste período? Tendo em conta a complexidade das estatísticas, essa é uma aferição complexa, que não permite aritmética simples.

Não é possível dizer “se foram ou não criados” postos de trabalho, explica. “Não temos um inquérito de painel que permita dizer quais são os empregos que foram criados de um ano para o outro”.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 833 de 04 de Abril de 2018.

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Autoria:Sara Almeida,7 abr 2018 7:39

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  9 abr 2018 7:09

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