Há menos desemprego e também menos trabalho

PorAndre Amaral,15 abr 2018 6:30

​A diminuição da taxa de desemprego não significou um aumento do número de cabo-verdianos empregados. É esta a principal conclusão que se tira da análise feita aos números recentemente divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística. Sendo inegável a descida do desemprego, defende Avelino Bonifácio, não há igualmente como esconder que entre 2016 e 2017 quase seis mil empregos foram destruídos no país.

Para o economista Avelino Bonifácio, é inegável que o desemprego, em Cabo Verde, desceu no ano passado. No entanto, reforça, “também ninguém pode questionar o facto de ter havido uma diminuição dos empregados, porque a população não diminuiu, a população economicamente activa até aumentou, mas mesmo assim houve quase 6 mil postos de trabalho a menos que em 2016”.

A explicação está, defende Avelino Bonifácio, no crescimento da taxa de inactividade entre 2016 e 2017 e também na diminuição do emprego líquido “ou seja, se antes o número de empregados era de 209.725 em 2016, ele baixou em 2017 para 203 mil. Houve uma diminuição líquida de 5.950”.

Para Avelino Bonifácio, é, no entanto, difícil relacionar os números da taxa de desemprego com a política de estímulos à economia e, por consequência, ao emprego anunciadO pelo governo.

“Seria difícil extrapolar o desemprego, emprego, actividade e inactividade com as políticas do governo. O inquérito teria de comportar elementos que nos permitissem fazer essa análise. Os dados divulgados pelo INE não dizem que essas questões foram colocadas e se foram, não foram publicadas. Então nós não temos elementos para avaliar o impacto da política no emprego”.

A única extrapolação possível, diz, e mesmo assim sem possibilidade de confirmação científica, é “ver que a inactividade é muito mais elevada no meio rural que no meio urbano. Isso leva-nos a pressupor que a ausência da chuva faz com que não haja trabalho no meio rural e as pessoas que lá estão são pessoas que estão mais propensas a um trabalho não qualificado na agricultura ou na pecuária. Como não há trabalho nessas áreas, as pessoas não procuram emprego e não se declaram como estando disponíveis para trabalhar”.

Quanto ao método de cálculo dos números do desemprego, Avelino Bonifácio concorda com a forma utilizada pelo Instituto Nacional de Estatística. “É universal”, diz. “Penso que não podemos e não devemos questionar o método utilizado porque é o método aconselhado pela Organização Internacional do Trabalho e é um método quase universalmente utilizado. Muitas vezes faz-se uma leitura de forma diferente, faz-se também uma leitura política, mas o importante é que as pessoas conheçam alguns conceitos e os tratem de forma razoável”.

Quem tem uma visão diferente sobre este tema da forma de contabilização da taxa de desemprego é José Luís Livramento.

Numa recente entrevista ao Jornal Económico, Livramento defendeu que a forma de contagem da taxa de actividade estar baseada num método bastante simplificado leva muitas vezes a análises variadas em relação aos seus resultados. “Basta que o inquérido responda que nas últimas quatro semanas não procurou trabalho para ser considerado inactivo, dando azo à análise sobre os chamados desencorajados. E para a contagem do emprego, basta dizer que trabalhou uma hora num determinado período, introduzindo a questão da precariedade”.

Assim, com esta metodologia usada em Cabo Verde e noutros países do mundo, “estes dados podem não ser sentidos como reais”, defendeu Livramento.

Durante a entrevista ao Jornal Económico, o actual PCA da CVTelecom destacou três dados relativos ao desemprego que considera serem os mais preocupantes. O desemprego jovem, o de longa duração e os que têm formação e não conseguem emprego.

Segundo os números do INE sobre o emprego, o desemprego jovem teve uma queda significativa, passando para os 8,6 pontos percentuais nos indivíduos entre 15 e 24 anos, e de 11.3 pontos percentuais na faixa entre 25 e 34 anos. Mas, defende Livramento, permanece ainda bastante elevado, o que, no seu entender, deve ser a principal preocupação do governo. “Para tirar vantagens do dividendo demográfico, Cabo Verde tem de integrar melhor os jovens no mercado de trabalho”, apontou.


Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 854 de 11 de Abril de 2018.

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Autoria:Andre Amaral,15 abr 2018 6:30

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  16 abr 2018 7:39

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