A batalha do grupo, formado por biólogos marinhos, ambientalistas, mergulhadores e apreciadores da Laginha, teve início há vários meses quando se anunciaram as obras para desviar a enxurrada provocada pelas chuvas que habitualmente desaguava no areal da praia mais frequentada da cidade de Mindelo para essa zona que alberga centenas de corais.
Em Junho, conforme relata Guilherme Mascarenhas, mergulhador e guia turístico nesse local e porta-voz do colectivo, solicitaram e obtiveram uma audiência com responsáveis da Enapor, empresa patrocinadora da obra promovida pela Câmara Municipal de São Vicente, a quem expuseram os riscos que tal empreitada representava para a sobrevivência dos corais.
“Apresentamos uma proposta alternativa, que consistia em prolongarem a canalização e fazer o escoamento da água das chuvas e da lama mais adiante, numa outra zona que não poria em risco a biodiversidade local. Mas a resposta que recebemos foi de que havia dificuldades técnicas”, explica Mascarenhas.
Segundo o engenheiro técnico e professor universitário, com base na análise técnica dos biólogos da Universidade de Cabo Verde que integram o grupo, existem nessa região centenas de espécies muitas delas endémicas, como corais raros e únicos em Cabo Verde. É também local de desova e berçário de várias espécies.
“Depois das chuvas que caíram em Setembro e com a primeira enxurrada para aí canalizada morreram vários moluscos, o que deixou um mau cheiro naquela zona”, exemplifica Guilherme Mascarenhas.
De modo a engajar parceiros na sua causa ecológica e sensibilizar as autoridades este grupo de ambientalistas têm promovido desde Outubro sessões de mergulho snorkling na referida zona proporcionando aos participantes a oportunidade de ficarem a conhecer a biodiversidade e beleza do local ameaçado.
Um dos primeiros a participar do passeio pelo fundo marinho foi o ministro da Economia Marítima, José Gonçalves, acompanhado do seu secretário de Estado, Paulo Veiga. Em reportagens televisivas, ambos foram profusos em elogiar a beleza do recife de corais e a surpresa pela riqueza da biodiversidade do local e, relativamente ao apelo dos ambientalistas, manifestaram a intenção de “ discutir as consequências não previstas” e “procurar soluções” de modo a preservar o local.
Entretanto, porque nada ainda foi feito ou anunciado para reverter a situação que os preocupa, o colectivo lançou uma petição apelando directamente ao primeiro-ministro, pedindo-lhe que salve a enseada de corais da Laginha.
De referir que terminou hoje, em Mindelo, a Cabo Verde Ocean Week, promovida pelo ministério da Economia Marítima, com o objectivo de dar a conhecer o país como palco privilegiado da “economia azul” no Atlântico Médio.