Caça ao tesouro em navios naufragados catastrófica para Cabo Verde

PorExpresso das Ilhas, Lusa,16 abr 2019 10:53

Investigador português e consultor do IPC elaborou base de dados sobre navios naufragados e condena a exploração comercial do mar nacional por empresas de caça ao tesouro, que pilharam legalmente dezenas de navios naufragados.

Um investigador português que elaborou uma base de dados sobre navios naufragados considera que a exploração comercial do mar cabo-verdiano por empresas de caça ao tesouro, que pilharam legalmente dezenas de navios naufragados, foi uma experiência "catastrófica".

Alexandre Monteiro, investigador da Universidade Nova de Lisboa (UNL) e consultor técnico e científico do Instituto do Património Cultural de Cabo Verde, estudou os navios naufragados nas águas cabo-verdianas, tendo comprovado a existência de 150 das 300 embarcações que se estima estarem submersas. 

Para o investigador, depois de pilhados esporadicamente por cidadãos, mergulhadores e pescadores, os navios foram alvo de caça ao tesouro, primeiro por parte da empresa sul-africana Afrimar e depois pela empresa luso-alemã Arqueonautas Worldwide.

Esta pilhagem estava legitimada pelo Governo cabo-verdiano, porque pressupunha benefícios para o Estado, nomeadamente a recuperação de peças, para a qual não existiam meios de preservação disponíveis, assim como formação, museus, entre outros. 

Mas o que resultou desta parceria, apontou o especialista entrevistado pela Lusa, foi que parte do património cultural subaquático nacional foi vendido em leilões da Sotheby's e da Christie's a coleccionadores ricos, sem que houvesse praticamente compensação financeira a Cabo Verde por essas vendas, como também quase nada ficou em museus de Cabo Verde.

"Para cúmulo, os sítios arqueológicos submersos tinham sido intervencionados apenas com o lucro em mira, não tendo sido registados ou preservados de acordo com as boas práticas científicas da arqueologia", adiantou Alexandre Monteiro.

Por esta razão, o investigador concluiu que "financeira, cultural e patrimonialmente, a adjudicação dos mares de Cabo Verde à exploração comercial de empresas de caça ao tesouro foi uma experiência a todos os níveis catastrófica".

"Cabo Verde é um excelente exemplo daquilo que não se deve fazer: permitir a caça ao tesouro, mesmo que legal", disse.

Contudo, Cabo Verde "decidiu juntar-se aos esforços da comunidade científica internacional, no sentido de preservar, estudar, salvaguardar, musealizar e divulgar o património cultural subaquático à sua guarda".

Nesse sentido, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, na sigla em inglês), anunciou em 08 de Abril que Cabo Verde ratificou a convenção de Protecção do Património Cultural Subaquático, de 2001, juntando-se assim a países como Portugal e Espanha.

Apesar de actualmente já não se registar a actuação das empresas de caça ao tesouro nos mares cabo-verdianos, a convenção agora ratificada impede esse tipo de actividade no futuro.

Alexandre Monteiro refere que há zonas no mar cabo-verdiano que são "autênticos cemitérios de navios", como junto às ilhas do Maio e Boavista.

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Autoria:Expresso das Ilhas, Lusa,16 abr 2019 10:53

Editado porNuno Andrade Ferreira  em  15 jan 2020 23:21

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