Jorge Carlos Fonseca e Marcelo Rebelo de Sousa são aguardados num evento que reunirá algumas das expressões mais representativas da cultura cabo-verdiana em Portugal e durante o qual a instituição será condecorada pelo Presidente da República de Cabo Verde.
"Vai ter um programa extremamente rico, que vai da louvação da morna, a sessões de batuco, grupos corais e de poesia, além de exposições de pintura dos nossos maiores pintores residentes em Portugal, artesanato e ainda o "Cola son Jon" [festa tradicional de São João]", disse à agência Lusa o presidente da Associação Caboverdeana de Lisboa (ACV), José Luís Hopffer Almada.
Antes da gala, decorrerá, ao longo de todo o dia de sábado, uma conferência sobre o movimento associativo e a comunidade cabo-verdiana em Portugal.
"A conferência vai reflectir sobre o movimento associativo cabo-verdiano em Portugal e vai aos primórdios, aos tempos da República em que, em Lisboa, havia muitos jornais pan-africanistas e pan-negristas e muitas organizações de defesa dos africanos", apontou o presidente da ACV.
"Vão ser autênticos seminários sobre a História dos cabo-verdianos e dos africanos em Portugal", acrescentou.
As comemorações decorrem na Casa do Alentejo, lugar que acolheu, em 1969, as reuniões preparatórias que levariam à criação da então Casa de Cabo Verde, em 1970.
A associação teve várias denominações do longo da sua História, reflectindo muitos dos movimentos políticos que se viviam em Cabo Verde, mas também na Guiné-Bissau.
Instalada quase desde o início da sua existência no oitavo andar do n.º 2 da Rua Duque de Palmela, na zona do Marquês de Pombal, de Casa de Cabo Verde passou a Associação de Cabo-Verdianos e Guineenses, em resultado da fusão com o movimento Acção Democrática de Cabo Verde e Guiné-Bissau, grupo político de apoio ao Partido Africano para a Independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde (PAIGC).
O golpe de Estado de Nino Vieira, na Guiné-Bissau, e a ruptura do processo de unidade da Guiné-Bissau e Cabo Verde, preconizada por Amílcar Cabral, levou à refundação como Associação Caboverdeana de Lisboa, nome que manteve até hoje.
"Mesmo quando tinha outras denominações, a associação sempre se ocupou mais com a comunidade cabo-verdiana, que era já a comunidade de origem estrangeira dominante em Portugal. Já tinha tido lugar o grande êxodo dos cabo-verdianos para Portugal e existia uma comunidade muito numerosa e diversificada", recordou José Luís Hopffer Almada.
"É toda essa história que vem do tempo colonial que vamos celebrar", acrescentou.
Meio século depois da fundação e com algumas "mudanças de perfil" pelo caminho, Hopffer Almada adianta que a instituição é hoje "mais conhecida pela sua dimensão cultural".
Com "uma programação rotineira" de actividades, são míticos os almoços dançantes, às terças e quintas-feiras, em que a cachupa se alia à música cabo-verdiana ao vivo para encher a casa, sobretudo de portugueses.
Com cerca de 1.000 membros, mas apenas algumas dezenas de sócios pagantes, José Luís Hopffer Almada afirmou não ter preocupações com a sustentabilidade financeira da associação, mas reconheceu que a existência de "uma vertente profissional mais vincada" permitiria desenvolver melhor as actividades da associação.
Como maiores desafios futuros, apontou a mobilização dos jovens luso-cabo-verdianos.
"Desde há alguns mandatos, a associação tem tido como dirigentes não só naturais de Cabo Verde, mas indivíduos das gerações nascidas em Portugal", disse, assegurando que a luta pela integração em Portugal das novas gerações de descendentes de cabo-verdianos vai continuar.
Por outro lado, o responsável sublinhou a importância do papel da associação na promoção da "dupla pertença cidadã, cultural e identitária" desses mesmos jovens.
O presidente da ACV, que está em fim de mandato, mas deverá recandidatar-se, defendeu ainda a necessidade de um maior desenvolvimento da vertente social da instituição.
Alfabetização bilingue crioulo-português, apoio à legalização ou aquisição da nacionalidade portuguesa são áreas em que a associação tem já trabalho feito, mas Hopffer Almada considera que é possível ir mais longe.