Vivemos uma época atípica. Como é que a Igreja do Nazareno vai celebrar esta Páscoa numa época de pandemia de Coronavírus?
Durante toda a minha vida é a primeira vez que temos uma situação como esta. Eu não tenho memória de um tempo como este que estamos a passar. A nossa programação da Páscoa normal é desenvolvida nas congregações e também nas comunidades. Todos os anos. Este ano, por causa da pandemia nós não nos podemos reunir nos templos nem temos a possibilidade de alcançar as nossas comunidades. Entendemos que é um tempo diferente, temos de fazer a reprogramação de todas as nossas actividades e estamos a usar todos os meios de comunicação para levarmos a mensagem da Páscoa. Vamos celebrar de outra forma. Mas este também tem sido um tempo bom. Nós cremos que mesmo passando por crises temos a possibilidade de poder analisar a nossa vida, o nosso percurso e fazer uma introspecção do que tem sido a nossa contribuição como indivíduos, como membros de família e também da sociedade. Este tempo, o que esta Páscoa diferente nos tem proporcionado, é um período de reflexão e eu creio que, após a crise, nós seremos pessoas melhores, um mundo melhor, mais solidário e teremos uma compreensão melhor de pequenas coisas, pequenos detalhes que passam muitas vezes na nossa vida corrida sem prestarmos atenção.
Isso era outra das questões que lhe queria colocar. Acredita que esta pandemia é uma hipótese, como poucas, de aproximar a humanidade, de mitigar desigualdades sociais?
Nós cremos que Deus é o Senhor do Universo e todas as coisas acontecem por acção ou permissão divina. A minha leitura é que Deus permite estas coisas para poder passar mensagens que nós, de outra forma, não teríamos capacidade de perceber. Eu acho que a corrida da vida e a busca do imediato têm prejudicado o mundo e têm também originado alguns desequilíbrios no mundo e nas suas relações. Este é um mal que eu estou certo virá por bem. Nós sairemos disto muito mais humanos, muito mais compreensivos. Teremos muito mais o foco nas coisas que são essenciais, perceberemos que há muitas coisas supérfluas que tomam o lugar do que deve ser prioridade e esta crise está a mostrar que precisamos investir mais na saúde, na solidariedade social, precisamos de investir mais num desenvolvimento equilibrado. A crise veio trazer muita coisa à tona e eu percebo que é momento de mudança sob risco de hipotecarmos o futuro.
Que mensagem lança então aos fiéis da Igreja do Nazareno para este período de Páscoa?
É uma mensagem de confiança em Deus. Nós temos um Deus que nos ama, que antes de nós nascermos criou todas as condições para podermos ter uma vida aqui na Terra, um Deus que sustenta o Universo. E a nossa fé está em Deus, na confiança plena na obra que Ele fez a nosso favor. Viveremos este tempo de algum temporal com confiança. Deus está no controlo das coisas e brevemente o temporal vai passar e nós teremos bonança e dias melhores. E, aproveitando este tempo de Páscoa em que celebramos a ressurreição de Cristo, dizer que depois deste momento de alguma aflição e ansiedade vamos ter um novo dia de esperança. A mensagem da ressurreição é uma mensagem de esperança para um mundo envolto em algumas dificuldades.
Nestes tempos de pandemia que recomendações é que faz aos seus fiéis?
Nós, como parte da sociedade, estamos totalmente envolvidos na missão de passar as mensagens. E a indicação que temos dado aos fiéis e a todo o povo é no sentido de se observarem as recomendações do Ministério da Saúde e das entidades oficiais do governo de Cabo Verde e, também, as orientações da Organização Mundial de Saúde. Também de algum cuidado com notícias falsas. Toda a mensagem que a Igreja do Nazareno passa é uma mensagem que terá de ser verificada com base cientifica e com o propósito de esclarecer. A nossa preocupação é que nenhum nazareno seja veículo de notícias que não ajudam o povo e que podem criar pânico e pavor. Esta é a nossa mensagem. O que nós temos estado a apelar é para que vivamos este período com espírito de muita oração e de procura de Deus. Deus é sábio e soberano para nos indicar o que é apropriado para cada momento da nossa vida.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 958 de 8 de Abril de 2020.