O sociólogo Adilson Semedo começa por explicar que cultura são padrões sociais, que se constroem e enraízam nas profundezas do liame social e que, por isso, estão presentes e influenciam todas práticas sociais. “Essas influências tendem a ser mais evidentes em situações de mudança social, como estas que estamos a viver por causa da pandemia da COVID-19”, acrescenta.
“Nesse sentido, todas as acções de combate a esta pandemia, seja comunicacional, seja de carácter sanitário, deve ter em conta as diversidades socioculturais, a todos os níveis: demográfico, regional, condições socioeconómicas, dentre outros”, defende.
Adilson Semedo explana ainda que os mitos são elementos socioculturais que surgem sobretudo quando se está perante fenómenos desconhecidos, como é o caso da COVID-19, por isso afirma que, nesse sentido, “o combate aos mitos, deve ser pela via de informações consistentes, através de mensagens claras e atempadas”.
Para este especialista, um dos “grandes problemas” que a comunicação tem enfrentado na transmissão de informação sobre a COVID-19, não só, em Cabo Verde, como também no resto do mundo, são as Fake News. “Esse fenómeno que se combate com a literacia mediática. O desenvolvimento dessa competência social não é apenas uma tarefa da educação formal, mas sim, de todas as instituições sociais, incluído cada cidadão em particular”, defende.
Este sociólogo diz ainda ser “muito importante” os cidadãos adquirirem, competência mediáticas básicas, como consultar diferentes órgãos de comunicação sobre a mesma, notícia/informação, conhecer as agências noticiosas, não ficar pela notícia, mas também procurar informação em artigos de especialista, dentre outros.
Ponto de vista psicológico
Por seu turno, o psicólogo Nilson Mendes começa por dizer que se está perante uma situação a nível global onde todas as recomendações estão numa só linguagem. Cabo Verde, conforme entende, mesmo na sua situação geográfica e serem ilhas dispersas, “segue a mesma linguagem e orientações”.
Questionado sobre uma diferenciação de divulgação de mensagens por faixa etária, por exemplo, Nilson Mendes responde que “há uma só linguagem para combater esta pandemia”, mas que também “há articulações para os grupos ditos vulneráveis, caso dos idosos, crianças e certos doentes que são consideradas grupo de risco”.
Para derrubar os mitos, entende este especialista que é preciso zelar pelas informações credíveis. Nilson Mendes prossegue afirmando que é certo que esta doença não tem uma preferência. “Salva-se quem cautelar e for prudente. Já temos exemplos de muitos países, sobretudo na África. Por outro lado, ainda não há uma cura, mas está perto”, afirma o psicólogo, completando que “é certo que consumir bebidas alcoólicas não ajuda prevenir nem curar”.
Mais à frente, Nilson Mendes diz acreditar que população cabo-verdiana está consciente das mensagens que estão sendo passadas pelas autoridades. A preocupação que se centra agora é, diz, no pico de desespero da população.
“Por isso, além de reforçar a comunicação, de uma forma simples, é preciso, por outro lado, assegurar o direito às coisas básicas como o caso da alimentação e da água”, finalizou.
“Questão da linguagem não constitui problemas”
O especialista em comunicação e professor universitário Wlodzimierz Szymaniak afirma, por seu turno, que a questão da linguagem não constitui problemas. Segundo diz, em Cabo Verde “não há pessoas que não entendem a Língua Portuguesa, podem é falar ou escrever mal”.
“Obviamente, o mito actualiza-se mais nas situações críticas. Infelizmente nas mesmas situações costumam aparecer boatos. A melhor forma de neutralizá-los é a informação completa e transparente”, acrescenta.
Embora que não tenha feito “uma análise exaustiva de todos os meios de comunicação”, Wlodzimierz Szymaniak, na sua observação consta que faltam informações sobre a relação entre o número de amostras analisadas e o número de casos detectados.
“Será que o número de amostras é suficiente?”, questiona o também Reitor da Universidade Jean Piaget de Cabo Verde, anotando igualmente a falta de um melhor esclarecimento sobre autorizações para circular durante este período de vigência do estado de emergência nacional.
“Há pedidos dirigidos à Protecção Civil que nem merecem resposta. Está tudo controlado? Há procedimentos? Prazos? Quem não receber a resposta positiva é informado, esclarecido?”, volta a indagar Szymaniak, acrescentado que faltam informações sobre as aulas a distância nas escolas.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 960 de 22 de Abril de 2020.