Márcia Barros conta que são três pessoas em casa, na zona da Várzea, cidade da Praia. Ela, o irmão mais velho e o pai. Esta entrevistada conta que, desde que foi declarado estado de emergência tem levantado cedo para, na companhia do irmão, treinar no terraço.
“O meu pai acorda e ouve as notícias. Depois eu preparo o pequeno-almoço e comemos todos juntos. Em seguida, quem quiser vê um filme ou joga no computador. Posteriormente, almoçámos, fazemos as mesmas coisas e começámos a preparar o jantar”, acrescenta.
O bom disto tudo, revela Márcia, é que tem havido mais tempo para a família. É que, desde então, os três têm visto filmes juntos e conversado sobre os temas neles presentes, visto que não era fácil encontrarem-se todos em casa por um bom período.
“Antes não comíamos juntos, porque cada um de nós chegava a casa num horário diferente e agora fazemos todas as refeições juntos. Agora estamos mais unidos. Quando estamos a ver filme, cada um deixa de lado o telefone. Na hora de comer é a mesma coisa. O que nos tem salvado do tédio total é o serviço de televisão”, revela.
Márcia diz que esta nunca foi uma rotina habitual para a sua família. Aliás, completa, o seu pai, por exemplo, é daqueles que não gosta de ficar parado. Mesmo assim, a entrevistada recusa-se a dizer que estão cansados de ficar em casa até porque, afirma, estão conscientes de que ficar em casa é o melhor neste momento pelo qual o país e o mundo passam.
Televisão e Internet têm ajudado muito
Na casa de Joceline Ferreira, na localidade de Milho Branco, concelho de São Domingos, interior de Santiago, habitam cinco pessoas, ela, a mãe, a avó, um irmão ainda criança e um tio. Seus dias, como faz saber, têm-se resumido em comer, ver televisão e dormir.
“Não estamos a sair a menos que haja mesmo necessidade. Temos feito mais coisas juntos do que antes. Tipo comer todos à mesa, ver televisão, quando não há nada de interessante na televisão, sentamos e conversamos uns com os outros”, prossegue.
A televisão tem sido, segundo Joceline, uma “boa distracção”. A entrevistada conta que lá em casa apenas ela e a mãe têm o hábito de navegar na internet. Por isso, para que os restantes membros da família não se sintam enfadados, frisa que estão constantemente a conversar com eles.
“A minha família sempre foi unida. Mas, nesses últimos dias passamos a ser ainda mais, uma vez que ninguém tem saído para nenhum lugar, temo-nos comunicado ainda mais. Antes era escola, trabalho e a gente via-se mais à noite, agora é 24 horas por dia”, acrescenta.
Joceline diz que já está cansada de ficar dentro de casa. A mesma revela que não tem internet fixa em casa e que, por isso, vem gastando muito com os carregamentos do serviço móvel de internet.
“A noite vejo muitos vídeos directos nas redes sociais e isso tem dado cabo dos meus megas (risos). Estes vídeos têm sido uma boa escapatória, a melhor mesmo, já que não tenho visto as minhas amigas”, descreve.
União da família
Joana Fortes mora com as três filhas e o marido. Ela, que é natural de Santo Antão, mas que reside em Achada São Felipe, afirma que têm sempre tentado fazer algo para preencher o tempo e divertir-se dentro de casa.
“A gente acorda, vê televisão, come e brinca. Jogamos carta, saltamos corda, contamos histórias e tentamos divertir-nos o máximo para que não fiquemos aborrecidos”, conta Joana revelando que sempre fizeram muitas coisas juntos, mas que, nestes dias, têm feito mais.
Esta entrevistada vê todas estas situações como um momento para se aproximar das pessoas, reconciliar com quem é preciso e ser mais humilde. É, conforme defende, um momento que exige união, até porque, completa, “é melhor ficar em casa do que estar doente numa cama do hospital”.
“Temos aproveitado mais a companhia uns dos outros. Mas estou cheia de vontade que essa situação passe porque estou cansada de ficar dentro de casa. Quero voltar à minha rotina de ir e vir. Mas pronto, é bom por causa da união da família, mas a pessoa fica muito enfadada”, finaliza.
Situação diferente
Enquanto uns ficam em casa, há quem, por conta do trabalho, tem de deixar a sua residência quase todos os dias. Nesta situação está o taxista e proprietário de táxi, Carlos Ferreira, morador da zona de São Pedro, na cidade da Praia.
Carlos diz que, no seu caso, os cuidados têm sido redobrados, pois teme contrair a doença e vir a contaminar os restantes membros da sua família: a mulher e mais dois filhos.
“Tenho desinfectado o carro sempre, tenho o spray desinfectante e álcool gel dentro da viatura. Quando chego a casa a primeira coisa que faço é tirar a roupa já na porta. Depois é tomar banho e manter as mãos limpas. O cuidado é redobrado, o coronavírus é perigoso e há que se prevenir”, prossegue.
Este entrevistado conta que começa a trabalhar, de segunda a sábado, por volta das 6 e meia da manhã e regressa a casa por volta das 17 horas, altura em que, conforme diz, “a cidade fica parada”.
“Quando estávamos apenas no estado de contenção e algumas pessoas deixaram de trabalhar eu não estava a fazer frete, porque o rendimento estava parado. Mas, depois que foi decretado o estado de emergência e o autocarro deixou de operar, comecei a sair”, relata.
Este taxista diz que tem ganho “alguma coisa”, mesmo que pouco. O que tem ganho, diz, dá para ajeitar.
“Antes, por dia eu fazia cerca de 4, 5 contos e tal. Agora faço 3 contos e tal ou 4, no máximo. A cidade está parada. Pelo que vejo, as pessoas têm ficado em casa. Muitos táxis estão parados”, finaliza.
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VOX POP
E os Jovens? Como têm ocupado o tempo?
“Para ocupar o tempo tenho aproveitado a internet para consultar exercícios práticos no portal académico, assistir vídeo-aulas académicos, vídeo-aulas de culinária, vídeos de diversos assuntos no Youtube, navegar no Facebook e seguir notícias” – Elton Silva, 22 anos.
“Eu tenho visto séries, novelas e lives nas redes sociais para ocupar o tempo. Também tenho jogado muito Play Station e falo bastante com os meus amigos através de chamadas e mensagens. Em dias alternados aproveito para avançar a minha monografia em publicidade” – Mike Tavares, 23 anos.
“A minha ocupação é bem limitada nesses dias. É ver filmes e lives no Instagram, comer e dormir dentro de quatro paredes (risos)” – Romário Barber, 26 anos.
“Nessa situação não há muito detalhe. Acordo às 10h00, tomo banho, pequeno-almoço, entro nas minhas redes sociais, ligo à minha mãe. Depois abro a TV, vejo novela no pendrive, faço um lanchinho, volto a ver televisão. Às vezes faço algo gostoso para comer, salgado ou doce, de todas as formas. É isso, não há outra opção” – Naomi Horta 24 anos.
“Vejo vídeos diversos no Youtube, de piadas, sobre cabelo, receitas culinárias, dentre outros. Vejo também filmes na Netflix e leio algumas notícias” – Titiciana Cosme, 26 anos.
“Normalmente fico na internet para ler notícias da actualidade sobre a Covid-19, tanto a nível nacional como internacional, também assisto filmes, novelas e séries online. Mas o principal que eu faço na internet é a preparação da minha monografia. Isto porque passei a receber orientações via skype, devido ao estado de emergência. Ah, também limpo, cozinho, passo e lavo roupa, leio livros, vejo televisão e pratico exercícios físicos” – Hélica Vasconcelos, 22 anos.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 959 de 15 de Abril de 2020.