Estado de emergência : Confinamento dá mais tempo às famílias

PorSheilla Ribeiro,18 abr 2020 10:55

Numa altura em que ficar em casa é orientação global, muitas famílias estão sendo obrigadas a mudarem seus hábitos e costumes. Afinal há que saber aproveitar da melhor forma este período de confinamento, pois a vida segue. Nesta reportagem o Expresso das Ilhas foi saber como é que as pessoas têm passado o seu tempo nas suas residências. O bom disto tudo é que, segundo relatam, as famílias estão tendo mais tempo para elas mesmas.

Márcia Barros conta que são três pessoas em casa, na zona da Várzea, cidade da Praia. Ela, o irmão mais velho e o pai. Esta entrevistada conta que, desde que foi declarado estado de emergência tem levantado cedo para, na companhia do irmão, treinar no terraço.

“O meu pai acorda e ouve as notícias. Depois eu preparo o pequeno-almoço e comemos todos juntos. Em seguida, quem quiser vê um filme ou joga no computador. Posteriormente, almoçámos, fazemos as mesmas coisas e começámos a preparar o jantar”, acrescenta.

O bom disto tudo, revela Márcia, é que tem havido mais tempo para a família. É que, desde então, os três têm visto filmes juntos e conversado sobre os temas neles presentes, visto que não era fácil encontrarem-se todos em casa por um bom período.

“Antes não comíamos juntos, porque cada um de nós chegava a casa num horário diferente e agora fazemos todas as refeições juntos. Agora estamos mais unidos. Quando estamos a ver filme, cada um deixa de lado o telefone. Na hora de comer é a mesma coisa. O que nos tem salvado do tédio total é o serviço de televisão”, revela.

Márcia diz que esta nunca foi uma rotina habitual para a sua família. Aliás, completa, o seu pai, por exemplo, é daqueles que não gosta de ficar parado. Mesmo assim, a entrevistada recusa-se a dizer que estão cansados de ficar em casa até porque, afirma, estão conscientes de que ficar em casa é o melhor neste momento pelo qual o país e o mundo passam.

Televisão e Internet têm ajudado muito

Na casa de Joceline Ferreira, na localidade de Milho Branco, concelho de São Domingos, interior de Santiago, habitam cinco pessoas, ela, a mãe, a avó, um irmão ainda criança e um tio. Seus dias, como faz saber, têm-se resumido em comer, ver televisão e dormir.

“Não estamos a sair a menos que haja mesmo necessidade. Temos feito mais coisas juntos do que antes. Tipo comer todos à mesa, ver televisão, quando não há nada de interessante na televisão, sentamos e conversamos uns com os outros”, prossegue.

A televisão tem sido, segundo Joceline, uma “boa distracção”. A entrevistada conta que lá em casa apenas ela e a mãe têm o hábito de navegar na internet. Por isso, para que os restantes membros da família não se sintam enfadados, frisa que estão constantemente a conversar com eles.

“A minha família sempre foi unida. Mas, nesses últimos dias passamos a ser ainda mais, uma vez que ninguém tem saído para nenhum lugar, temo-nos comunicado ainda mais. Antes era escola, trabalho e a gente via-se mais à noite, agora é 24 horas por dia”, acrescenta.

Joceline diz que já está cansada de ficar dentro de casa. A mesma revela que não tem internet fixa em casa e que, por isso, vem gastando muito com os carregamentos do serviço móvel de internet.

“A noite vejo muitos vídeos directos nas redes sociais e isso tem dado cabo dos meus megas (risos). Estes vídeos têm sido uma boa escapatória, a melhor mesmo, já que não tenho visto as minhas amigas”, descreve.

União da família

Joana Fortes mora com as três filhas e o marido. Ela, que é natural de Santo Antão, mas que reside em Achada São Felipe, afirma que têm sempre tentado fazer algo para preencher o tempo e divertir-se dentro de casa.

“A gente acorda, vê televisão, come e brinca. Jogamos carta, saltamos corda, contamos histórias e tentamos divertir-nos o máximo para que não fiquemos aborrecidos”, conta Joana revelando que sempre fizeram muitas coisas juntos, mas que, nestes dias, têm feito mais.

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Esta entrevistada vê todas estas situações como um momento para se aproximar das pessoas, reconciliar com quem é preciso e ser mais humilde. É, conforme defende, um momento que exige união, até porque, completa, “é melhor ficar em casa do que estar doente numa cama do hospital”.

“Temos aproveitado mais a companhia uns dos outros. Mas estou cheia de vontade que essa situação passe porque estou cansada de ficar dentro de casa. Quero voltar à minha rotina de ir e vir. Mas pronto, é bom por causa da união da família, mas a pessoa fica muito enfadada”, finaliza.

Situação diferente

Enquanto uns ficam em casa, há quem, por conta do trabalho, tem de deixar a sua residência quase todos os dias. Nesta situação está o taxista e proprietário de táxi, Carlos Ferreira, morador da zona de São Pedro, na cidade da Praia.

Carlos diz que, no seu caso, os cuidados têm sido redobrados, pois teme contrair a doença e vir a contaminar os restantes membros da sua família: a mulher e mais dois filhos.

“Tenho desinfectado o carro sempre, tenho o spray desinfectante e álcool gel dentro da viatura. Quando chego a casa a primeira coisa que faço é tirar a roupa já na porta. Depois é tomar banho e manter as mãos limpas. O cuidado é redobrado, o coronavírus é perigoso e há que se prevenir”, prossegue.

Este entrevistado conta que começa a trabalhar, de segunda a sábado, por volta das 6 e meia da manhã e regressa a casa por volta das 17 horas, altura em que, conforme diz, “a cidade fica parada”.

“Quando estávamos apenas no estado de contenção e algumas pessoas deixaram de trabalhar eu não estava a fazer frete, porque o rendimento estava parado. Mas, depois que foi decretado o estado de emergência e o autocarro deixou de operar, comecei a sair”, relata.

Este taxista diz que tem ganho “alguma coisa”, mesmo que pouco. O que tem ganho, diz, dá para ajeitar.

“Antes, por dia eu fazia cerca de 4, 5 contos e tal. Agora faço 3 contos e tal ou 4, no máximo. A cidade está parada. Pelo que vejo, as pessoas têm ficado em casa. Muitos táxis estão parados”, finaliza.

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VOX POP 

E os Jovens? Como têm ocupado o tempo?

“Para ocupar o tempo tenho aproveitado a internet para consultar exercícios práticos no portal académico, assistir vídeo-aulas académicos, vídeo-aulas de culinária, vídeos de diversos assuntos no Youtube, navegar no Facebook e seguir notícias” – Elton Silva, 22 anos.

“Eu tenho visto séries, novelas e lives nas redes sociais para ocupar o tempo. Também tenho jogado muito Play Station e falo bastante com os meus amigos através de chamadas e mensagens. Em dias alternados aproveito para avançar a minha monografia em publicidade” – Mike Tavares, 23 anos.

“A minha ocupação é bem limitada nesses dias. É ver filmes e lives no Instagram, comer e dormir dentro de quatro paredes (risos)” – Romário Barber, 26 anos.

“Nessa situação não há muito detalhe. Acordo às 10h00, tomo banho, pequeno-almoço, entro nas minhas redes sociais, ligo à minha mãe. Depois abro a TV, vejo novela no pendrive, faço um lanchinho, volto a ver televisão. Às vezes faço algo gostoso para comer, salgado ou doce, de todas as formas. É isso, não há outra opção” – Naomi Horta 24 anos.

“Vejo vídeos diversos no Youtube, de piadas, sobre cabelo, receitas culinárias, dentre outros. Vejo também filmes na Netflix e leio algumas notícias” – Titiciana Cosme, 26 anos.

“Normalmente fico na internet para ler notícias da actualidade sobre a Covid-19, tanto a nível nacional como internacional, também assisto filmes, novelas e séries online. Mas o principal que eu faço na internet é a preparação da minha monografia. Isto porque passei a receber orientações via skype, devido ao estado de emergência. Ah, também limpo, cozinho, passo e lavo roupa, leio livros, vejo televisão e pratico exercícios físicos” – Hélica Vasconcelos, 22 anos.

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 959 de 15 de Abril de 2020. 

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Autoria:Sheilla Ribeiro,18 abr 2020 10:55

Editado porSara Almeida  em  26 fev 2021 17:18

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