Zany Moreno, da Confecções Zany, conta que aproveitou esta oportunidade da “melhor forma possível”. Segundo informa, já estavam fechados há 45 dias, porque o seu atelier trabalha com moda, roupas para eventos, casamentos e outras festas que, por motivos de segurança sanitária, não estão a ser realizadas por estes tempos.
“Com a pandemia fomos impedidos de fazer a nossa vida normal e, automaticamente, acabamos por fechar. Fui seguindo as notícias e vi que lá fora havia marcas que começaram a produzir máscaras e pensei que poderíamos aproveitar também essa oportunidade. E quando pensei isso nem sequer as autoridades nacionais tinham pensado em máscaras comunitárias”, conta.
Já com uma ideia concreta daquilo que queria fazer, Zany Moreno manifesta que enviou propostas para alguns lugares, mesmo antes de serem criadas as normas em Cabo Verde para a produção de máscaras. “Foi bom, tanto para mim como para outros ateliers que estão comigo nessa luta, porque não é apenas eu. Há vários outros ateliers com quem estou neste momento a trabalhar conjuntamente. Temos 70 pessoas a trabalhar”, revela.
Zany, que antes trabalhava com 18 empregados, diz ser “muito bom” poder dar trabalho a algumas pessoas que se encontravam em situação de desemprego. Segundo acrescenta, é uma oportunidade para dar uma volta por cima na empresa e ajudar aqueles que precisam de um emprego. Até o momento, declara, já produziram mais de 60 mil máscaras.
“Temos uma capacidade de produzir por volta de 5 mil máscaras por dia, e estamos a trabalhar diariamente há pouco mais de um mês. De alguma forma, o negócio das máscaras tem sido rentável. Não tem grandes lucros, porque nós as vendemos a um preço acessível à comunidade, mas sempre dá algum lucro para a empresa”, estima a interlocutora, dando ainda conta que relativamente ao design das máscaras seguiu alguns modelos internacionais.
Contribuindo para a auto-estima
Ainda nas suas declarações, Zany Moreno diz ser um pessoa e profissional que, em que todas as peças que cria, pensa na auto-estima e no bem-estar do cliente.
“O uso das máscaras sempre vai mexer com a nossa auto-estima porque todos nós gostamos da nossa cara e de ter a nossa cara livre, mas como, infelizmente, somos obrigados a usar a máscara, tanto para nos proteger como para proteger os outros, pensei: por que não criá-las pensando principalmente nas mulheres que gostam de se sentir bem, de combinar uma peça com outra e que, de uma certa forma, ao colocar a máscara e ver-se no espelho possam sentir-se bem”, relata.
Zany Moreno diz ainda que tem criado uma série de linhas, cores e padrões que permitem às pessoas usarem, protegerem-se e, ao mesmo tempo, sentirem-se bonitas. “Esse é o meu verdadeiro objectivo. Por isso é que há máscaras personalizadas para dar um toque, uma graça diferente, um glamour diferente. Por isso é que há máscaras em cores diferentes. E nenhuma das máscaras são produzidas de qualquer maneira”, assegura.
Há, conforme garante, todo um cuidado nas definições, na combinação das cores, tudo pensando no look do dia-a-dia das pessoas para que possam usar as máscaras e sentirem-se também bonitas. Por isso, especifica Zany Moreno, oferecem opções de máscaras discretas, mas também mais ousadas para aqueles que gostam de algo mais chamativo.
“Eu acredito que as máscaras vão ser mais um acessório de moda, pelo menos eu me esforço para que assim seja. Porque sempre temos que levar em conta, em primeiro lugar, a nossa protecção e a protecção dos outros. Mas podemos proteger-nos com um acessório que pode ser combinado com uma peça de roupa”, defende.
Esta responsável de atelier diz ainda acreditar que é possível unir essas duas versões: protecção e um acessório do dia-a-dia.
“A maioria das pessoas prefere modelos de máscaras mais simples, porque os modelos mais sofisticados sempre têm um custo adicional. Além disso, segundo defendem, as não gostam de chamar a atenção para a cara. Mas, temos vários outros clientes que vêm cá exclusivamente porque aqui conseguem comprar uma máscara diferente, que ao saírem à rua não encontram igual”, ressalta.
“Vendi o suficiente para pagar as despesas”
Maria Antónia, por seu turno, começa por dizer que quando foi decretado o primeiro estado de emergência, no período compreendido entre 29 de Março e 17 de Abril, aproveitou os tecidos que tinha em casa para fazer algumas máscaras e divulgar no Facebook. Isto para ver se aparecia algum dinheiro para pagar luz, água… E por acaso apareceu, conforme narra.
“Não sei dizer quanto vendi porque não contei, mas sei que vendi o suficiente para pagar as despesas e a alimentação. Ainda bem porque eu não recebi nenhuma ajuda. Deu para desenrascar até sair da emergência. Embora vender máscaras não seja mais rentável que o meu negócio anterior. Não chega nem perto”, frisa.
Esta entrevistada conta que apostou na confecção de máscaras comunitárias porque não estava a fazer nada e, como precisava, aproveitou para ver se aparecia um troco. Maria Antónia revelou ainda que tem “uma espécie de butique” na zona da Fazenda, na cidade da Praia, onde vende bolsas para senhoras, roupas, sapatos, tudo artesanal, feito por ela mesma.
“A minha loja infelizmente teve de fechar desde Fevereiro porque a minha mãe faleceu naquele mês e o meu pai em Março. Então, está de porta fechada há praticamente três meses. Entretanto, retomamos as actividades, e como estamos com promoção, as pessoas têm aparecido”, informa.
Agora, além do que já vendia, Maria Antónia também vende máscaras comunitárias nas sua loja pelo valor de 150 escudos cada. Mas, diz considerar deixar de produzir máscaras e vender apenas as que já estão feitas. Conforme conta. “foi algo passageiro, apenas para desenrascar até tudo voltar ao normal”.
“Vou continuar a vender máscaras”
Contrariamente à Maria da Antónia, Graça Almeida afirma que irá voltar ao trabalho ainda esta semana mas que, mesmo assim, vai continuar a produzir e vender máscaras comunitárias, até porque tem algumas encomendas para entregar. “Vendi o suficiente para comprar tudo o que era necessário em casa”, pontua.
“Eu aproveitei esse momento da melhor forma possível. Aliás, a vendas das máscaras caiu como uma luva porque a empresa onde eu trabalho deixou de funcionar e eu não recebi salário. Entretanto, precisava de dinheiro para comprar comida e também para pagar as contas”, prossegue.
Segundo conta, tinha em casa tecido de algodão e aproveitou-os, assim como peças de vestuário de algodão que eram novas e que ninguém usava lá em casa. Ainda assim, diz que “não foi suficiente”, pelo que teve de comprar mais tecido com o dinheiro que ia ganhando com a venda das máscaras.
“Fiz máscaras para adultos e para crianças. Comecei a fazer para familiares próximos, depois para vizinhos e familiares de vizinhos. Quando ficou rentável coloquei as máscaras no minimercado aqui da vizinhança e as pessoas que lá forem compram, depois vou buscar o dinheiro. Eu vendi cada máscara por 150 escudos”, informa.
Quanto ao gosto dos seus clientes, Graça Almeida, que garante seguir todas as normas das autoridades de saúde na produção das máscaras, afirma ter percebido que as pessoas não gostam de tecido branco e que preferem tons mais escuros.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 966 de 03 de Junho de 2020.