Ministro admite que nomeação de cônsul esteve na base da demissão

PorAndre Amaral,18 jan 2021 7:03

Luís Filipe Tavares demitiu-se esta terça-feira do cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros e Comunidades e de ministro da Defesa. Saída do governo acontece quando faltam pouco mais de três meses para as eleições legislativas.

Na base da decisão da demissão de Luís Filipe Tavares estiveram as “informações adicionais e recentes postas a circular, sem fazer qualquer juízo de valor sobre o seu mérito e ainda imbuído do espírito de poupar a Cabo Verde a crispação adicional e o desgaste que resultam das eventuais repercussões políticas negativas” que a nomeação de Ceasar de Paço poderiam ter, esclarece Luís Filipe Tavares num comunicado publicado ao final da tarde desta terça-feira e em que explica as razões para a sua demissão.

Durante a manhã, à margem da cerimónia de apresentação dos cumprimentos de ano novo ao Presidente da República, o ministro explicava, citado pela Inforpress, que Ceasar de Paço foi nomeado num processo “absolutamente normal” e afirmou que até ser provado o contrário, o mesmo continua a ser uma “pessoa de bem” para o executivo de Cabo Verde.

“Recordo que ele foi cônsul de Portugal nos EUA por muitos anos (2014-2020) e depois há um processo normal. Ele foi proposto pelo nosso embaixador na altura, esteve de visita a Cabo Verde em Março de 2020 e nós, depois pedimos a exequátur, que é a autorização às autoridades norte-americanas para a nomeação de cônsul”, explicou.

O governante adiantou que a partir do momento em que o Estado de Cabo Verde obteve essa autorização, não havia nenhuma razão para não o nomear.

“Para nós é uma pessoa de bem”, sustentou.

Na reportagem de investigação intitulada “A Grande ilusão: cifrões e outros demónios”, divulgada esta segunda-feira na SIC, o agora cônsul de Cabo Verde no Estado da Florida é apontado como principal financiador do Chega, partido da extrema direita de Portugal.

As informações divulgadas apontam ainda que Ceasar de Paço foi acusado em 1991 em Portugal de crime de roubo qualificado, tendo o Ministério Público decretado a sua prisão preventiva, seguindo de um mandado de captura. Contudo, não chegou a ser julgado porque fugiu.

Confrontando com essa questão, Luís Filipe Tavares disse desconhecer tais informações e indicou que na nomeação dos cônsules as autoridades cabo-verdianas não perguntam aos candidatos a que partido pertencem e investigam tais informações.

“Nós analisamos o currículo e submetemos a exequatur nos termos da lei dos procedimentos normais. Nós fizemos aquilo com toda a normalidade, na certeza de que era do interesse de Cabo Verde”, adiantou.

E foi essa exequatur dada pelas autoridades americanas que serviu como “prova cabal da probidade do Dr. DePaço”, avança Luís Filipe Tavares num comunicado enviado à comunicação social.

“Não inquiri, nem poderia inquirir, sobre as simpatias políticas do Dr. DePaço no contexto americano e português, guiado pela inabalável crença na liberdade de escolha político-partidária que deve ser reconhecida a todos os cidadãos, sem qualquer distinção. Para além do mais, é minha firme convicção que tais simpatias são irrelevantes no critério de escolha de cônsules honorários ou qualquer outro cargo, sendo também certo que Cabo Verde não deve imiscuir-se nas questões partidárias de outros países, nem permitir que tais questões interfiram nas suas escolhas, do mesmo modo que não aceita a interferência de partidos políticos estrangeiros nas questões internas do país”, diz ainda o ex-ministro no comunicado. 

*com Inforpress

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 998 de 13 de Janeiro de 2021.

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Autoria:Andre Amaral,18 jan 2021 7:03

Editado porAndre Amaral  em  18 jan 2021 7:03

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