Convidado do Campus África, em Tenerife, o professor de Lógica e Filosofia da Ciência, na Universidade de La Laguna, recorda que as emoções são fundamentais para o sucesso de qualquer chamada à acção.
“O importante é envolver emocionalmente as pessoas. Está demonstrado que só os dados científicos não são suficientes para mobilizar a acção de muitas pessoas. Precisamos que pensem que será uma mudança para melhor, que podem fazer algo de positivo para mudar e facilitar a mudança”, explica.
Consciente de que os conflitos resultantes das medidas de mitigação às alterações climáticas, que define como “eco-sociais”, são uma inevitabilidade, defende um maior diálogo entre actores.
“Ao invés de se impor autoritariamente uma solução que pensamos ser a melhor do ponto de vista ecológico, e mesmo que seja, devemos debater, porque as pessoas que vivem num sítio são as que melhor conhecem esse lugar, a sua dinâmica”, sublinha.
No livro “El Antropoceno”, que lançou em 2019, José Manuel de Cozar aborda o impacto da acção humana no planeta e a era iniciada no século XIX, com a Revolução Industrial. O Antropoceno, termo cunhado pelo biólogo Eugene Stoermer, na década de 1980, continua a ser um tema polémico entre a comunidade científica, mas nos últimos anos tem crescido a consciência sobre a responsabilidade do Homem nas mudanças em curso nos padrões climáticos.
“Tem vindo a ganhar popularidade, não só nas ciências físicas e naturais, como também entre as ciências humanas e sociais, porque é um conceito que permite falar de um conjunto de problemas que afectam a acção humana sobre o planeta. Não é como o conceito de globalização, que é mais espacial. Este é um conceito que permite pensar temporalmente nos problemas que temos”, sustenta.
O filósofo espanhol preconiza uma luta contra a negação e a indiferença e a aposta num modelo de desenvolvimento baseado na sustentabilidade.
O Campus África 2021 decorre até 4 de Dezembro, em La Laguna, Tenerife, subordinado ao tema “desafios climáticos e pandémicos num contexto de crise global”. Ao longo das três semanas, 55 bolseiros, a maior parte dos quais cabo-verdianos, frequentarão conferências e terão a oportunidade de aprimorar conhecimentos nos laboratórios da ULL. A primeira edição do evento científico remonta a 2014. Seguiram-se as edições de 2016 e 2018.
O Expresso das Ilhas está em Tenerife a convite do Campus África.