“Queremos transformar Tarrafal num município mais aberto ao mundo”

PorAntónio Monteiro,15 jan 2022 8:33

As festividades do Dia do Município e de Nhu Santo Amaro Abade, que se comemora no próximo dia 15 de Janeiro, e que também este ano não terá o brilho de outros tempos devido às medidas de restrição anunciadas pelo governo, deu ensejo a esta entrevista com o presidente da Câmara Municipal do Tarrafal de Santiago. José dos Reis fala da situação epidemiológica do concelho, da necessidade de adequar estratégias para mobilizar os jovens a aderirem à campanha de vacinação, enumera as linhas de força do plano de actividades e do orçamento para o ano económico de 2022 e expõe a sua visão para transformar Tarrafal “cada vez mais num município atractivo, moderno e com qualidade de vida”.

Santiago Norte tem a nível nacional a menor taxa de vacinação. A que se deve?

Creio que isso se deve à resistência por parte da população a nível do Norte da ilha. É um desafio enorme para todas as câmaras municipais da região de Santiago Norte e em Tarrafal nós temos a consciência de que devemos fazer mais no sentido de, juntamente com as autoridades sanitárias, podermos mobilizar sobretudo a camada jovem para aderirem à campanha de vacinação, porque sabemos qual a vantagem que isso tem. Também sabemos que isso é necessário, porque se nós queremos vencer efectivamente esta pandemia temos que dar a nossa contribuição. Daí que o Município do Tarrafal tem feito alguma coisa, mas temos que adequar estratégias para podermos mobilizar a massa jovem e melhorar a taxa de vacinação.

O primeiro-ministro defendeu a criação de uma frente comum para combater a baixa taxa de vacinação na região de Santiago Norte. Qual tem sido o papel da CM do Tarrafal neste combate?

A Câmara Municipal, desde a primeira hora, sentiu-se implicada neste processo. Tanto que temos estado a reunir-nos constantemente com as autoridades municipais e regionais no sentido de podermos adequar a estratégia e a CM tem optado por fazer um leque de actividades com o intuito de poder mobilizar toda a população residente para aderirem à campanha de vacinação, tanto que, em articulação com as autoridades, fizemos algumas actividades descentralizadas sempre em espaço de controlo para que possamos mobilizar a juventude, mobilizar homens e mulheres do município para aderirem à campanha de vacinação para poderem estar em condições de frequentar tais actividades. Daí que temos vindo a fazer alguma coisa, mas temos a consciência de que temos que melhorar muito. Não é por acaso que o Presidente da República e o Primeiro Ministro fizeram conjuntamente a tal mensagem e nós juntamos a nossa voz a eles no sentido de podermos melhorar gradualmente em termos de mobilização comunitária, em termos de mobilização de toda a massa social a nível do município para mais e melhor taxa de vacinação.

Como a Câmara Municipal vai celebrar as festas do Dia do Município e do Santo Padreiro com as novas medidas de restrição anunciadas pelo governo?

Este ano, à semelhança daquilo que foi o ano transacto, marcado fortemente pelo impacto da Covid-19, as novas medidas de restrição anunciadas pelo governo mexeram grandemente com a programação de celebração do Dia do Município e de Nhu Santo Amaro Abade. Nós tínhamos previsto uma programação vasta com actividades a nível cultural, desportivo, religioso, de lazer e de entretinimento. Tudo isto dentro de um quadro orçamental por volta de 10 milhões de escudos cabo-verdianos, mas com a resolução que saiu recentemente referente à questão da pandemia da Covid-19 tivemos a necessidade de abrir mão de toda a programação cultural. Daí que nós tomamos responsavelmente a decisão de alinharmos às orientações nacionais, sobretudo com aquilo que saiu da resolução do governo respeitante à realização de eventos. Assim, na sequência da resolução do governo do dia 10 de Janeiro, foram adiadas e canceladas actividades desportivas que estavam previstas para os dias 12, 13 e 14. Falo de atletismo, ciclismo, natação, regata e remo. Foram canceladas algumas actividades e outras adiadas para uma data posterior. As actividades de cariz religioso serão o ponto alto da celebração, mas digo com toda a franqueza que vamos implementar uma programação possível.

A Câmara Municipal do Tarrafal já tem aprovado o seu plano de actividades e o orçamento para o ano económico de 2022, estimado em mais de 600 mil contos. Quais são as suas linhas de força?

O nosso plano de actividades e o orçamento aprovados na assembleia municipal são sem dúvida instrumentos de gestão indispensáveis para alavancar o processo de construção permanente do município que se encontra na sua fase ascendente. Nós temos vindo a trabalhar sobretudo ao longo do primeiro ano de exercício do mandato e temos vindo a implementar um amplo programa de infraestruturação, de requalificação urbana, melhoria de acesso e acessibilidades como forma de transformar Tarrafal cada vez mais num município atractivo, num município moderno e com qualidade de vida. E ciente de que uma aposta grande na infraestruturação, na requalificação, significa atracção de mais e melhores investimentos privados para o município. O nosso objectivo foi precisamente isso: desde a primeira hora não quisemos alavancar um programa de atribuição de cestas básicas às famílias. Nós procuramos, sim, implementar um amplo programa de requalificação urbana como forma de levar rendimento às famílias e poder neste momento difícil amparar as famílias, mas com uma política bem clara de que nós queremos, sim, levar acesso a rendimento e não promover o assistencialismo. Temos vindo a conseguir criar de forma rotativa cerca de cinco mil postos de trabalho para jovens aqui no município de Tarrafal através da realização de várias frentes de trabalho. Isso para nós é muito importante. Temos neste preciso momento cerca de vinte obras de requalificação urbana de melhoria de acesso e acessibilidades e tudo isso criando postos de emprego rotativo para as famílias: para jovens, homens e mulheres do município terem alternativa sobretudo neste momento difícil marcado fortemente pelos impactos da pandemia. O plano de actividades e orçamento para 2022 vai um pouco neste sentido: dar continuidade a este amplo programa de transformação do município. Existem projectos ambiciosos para o município que requerem uma forte articulação, mobilização de parcerias tanto no plano nacional como internacional. Nós já estamos a trabalhar neste sentido, porque sabemos que temos um governo que é parceiro do município, mas o plano de actividades e o orçamento que temos para o ano de 2022 consideram grandemente a nossa capacidade de mobilização de recursos a nível internacional. Neste sentido regressei recentemente de contactos com algumas câmaras geminadas a nível da Europa tanto em Portugal como na França. Há alguns parceiros e investidores internacionais que estão interessados em investir aqui no município do Tarrafal. Nós temos vindo a trabalhar no sentido de transformar Tarrafal cada vez mais num município mais aberto ao mundo para que possamos mobilizar financiamentos, projectos a nível internacional e trabalhar no sentido de podermos complementar com aquilo que a nível nacional, junto do governo, podermos mobilizar, que, certamente conseguiremos, porque o governo de Cabo Verde também está comprometido com o Município do Tarrafal que quer juntamente com a Câmara fazer do município o principal pólo turístico a nível da ilha de Santiago. Para isso temos que investir mais no município do Tarrafal. Temos que investir grandemente na criação de mais infraestruturas turísticas, na criação de mais infraestruturas urbanas para que efectivamente possamos qualificar e diversificar a nossa oferta turística, tornando Tarrafal num dos municípios com todo o potencial para dar também um salto em termos de promoção do turismo e dar um salto em termos de promoção do turismo e dar um salto efectivo para o crescimento económico do município, da região e de Cabo Verde.

Sendo Tarrafal uma autarquia de cor diferente do partido no poder, como tem sido o relacionamento com o governo?

Penso que independentemente da cor partidária, os governos local e central têm compromisso com o povo. Nós temos vindo a trabalhar dentro de um quadro relacional possível com o governo. Queremos trabalhar com o governo, porque Tarrafal é também parte do território nacional, o governo tem compromisso com o povo do município, assim como tem com os demais municípios de Cabo Verde. Temos assinado alguns contratos-programa com o governo, aguardando a transferência de verbas; temos tido também alguns financiamentos através do próprio governo. Nós contamos com o governo e estamos totalmente abertos no sentido de complementarmo-nos em termos de políticas públicas. Por isso o governo tem nesta Câmara um parceiro efectivo para o desenvolvimento local, mas também para o desenvolvimento nacional.

Que investimentos estrangeiros a Câmara Municipal tem atraído para o concelho?

Temos vindo a trabalhar através do Pelouro de Cooperação no sentido de podermos reactivar sobretudo a política da cooperação descentralizada. De facto, temos alguns investidores estrangeiros que querem investir no município. Já me encontrei com empresários franceses e portugueses que querem investir no domínio do turismo e em sectores primários, sobretudo na área de transformação de produtos. Nós temos vindo a trabalhar no sentido de reforçar esta relação com a nossa diáspora para termos uma relação mais efectiva, uma relação de mais cooperação, atraindo investimentos de próprios emigrantes tarrafalenses. Aliás, alguns emigrantes já investiram no município em empreendimentos turísticos. Inauguramos recentemente uma grande residencial (Santo Amaro) que é um investimento emigrante no município de Tarrafal. Temos a Pensão Por do Sol, um investimento de um outro emigrante que reside na França. Então nós queremos abrir caminho para que filhos do Tarrafal, filhos de Cabo Verde e empresários espalhados pelo mundo tenham no município do Tarrafal oportunidade de poderem investir e dar um contributo valioso para o seu crescimento económico. Vamos trabalhando também na mobilização de financiamentos sobretudo de projectos junto de parceiros internacionais. A nível da relação Cabo Verde/Portugal as câmaras de Tarrafal e Amadora foram praticamente pioneiras em termos de relação de geminação. Nós estivemos em Portugal precisamente para reforçar essa relação de geminação com Amadora, Vila Franca de Xira, Setúbal e abrimos caminho também para uma possível relação de geminação com as câmaras de Cantanhede, Barreiro e Nice, em França. Tarrafal vai trabalhar grandemente com a nossa diáspora e com os nossos parceiros internacionais. Porque não podemos cingir-nos a programas apenas internos. Por isso também temos vindo a trabalhar com a Associação Cabo-verdiana de Amiens que é também uma parceira de municípios de Cabo Verde. Tem vindo a trabalhar com as câmaras de Santa Catarina, de São Miguel e Tarrafal. É uma grande parceira que recentemente esteve a trabalhar com este município num projecto de mobilização de água e construção de casas de banho para famílias do município. E temos também outros projectos com esses parceiros. Portanto, além de resgatar a relação de cooperação e geminação com câmaras no exterior, queremos, sim, mobilizar investimentos privados tanto de emigrantes, mas também de empresários de outras paragens que queiram investir cá em Cabo Verde e cá em Tarrafal. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1050 de 12 de Janeiro de 2022. 

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Autoria:António Monteiro,15 jan 2022 8:33

Editado porDulcina Mendes  em  17 jan 2022 8:39

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