De acordo com o estudo sobre a “Imigração Chinesa em Cabo Verde” conduzido pela Associação de Amizade China-Cabo Verde (AMICACHI), em 2018, em colaboração com a Alta Autoridade para a Imigração, os fluxos de imigração chinesa para Cabo Verde, aconteceram com maior dinâmica a partir dos anos 1990, com grande visibilidade no sector do comércio.
“A imigração chinesa é feita normalmente de forma colectiva, pois os chineses já residentes em Cabo Verde, há algum tempo e com algum nível de estabilidade, tendem a trazer os seus familiares”, aponta.
O estudo indicou ainda que os imigrantes chineses em Cabo Verde são maioritariamente do sexo masculino, casados (67%) na faixa etária entre 31 e 40 anos, oriundos predominantemente das províncias de Hebei (40%) e Zhejiang (47%).
Quase a totalidade dos imigrantes reside com um familiar (cônjuge, filhos, tios, pais, irmãos), seja em casas ou apartamentos. “Profissionalmente, todos os inquiridos durante a pesquisa de campo encontravam-se em situação de emprego, dedicando-se a actividades comerciais e empresariais, trabalhando como operadores independentes ou em regime de contracto para um familiar. Por isso, a maioria dos chineses tem, em geral, um único emprego em Cabo Verde”.
Por outro lado, o estudo dá conta que Cabo Verde tem-se tornado um destino de oportunidades para os chineses, uma vez que as boas relações de cooperação existente entre os dois países facilitam a entrada do cidadão chinês no arquipélago, nomeadamente para a prática de actividades económicas. Assim sendo, estas são apontadas como as principais razões para a escolha de Cabo Verde como destino de emigração.
Conforme mostra, embora as relações entre Cabo Verde e a República Popular da China datem dos primórdios da luta de libertação nacional, em termos diplomáticos apenas em 25 de Abril de 1976 os dois países formalizaram suas relações.
“A China, nas últimas quatro décadas tem sido um dos mais importantes parceiros no desenvolvimento de Cabo Verde, considerando os projectos no âmbito de acções de cooperação desenvolvidas, de entre os quais se destacam os palácios da Assembleia Nacional e do Governo, o complexo de habitação social do Palmarejo, a Biblioteca Nacional, o Auditório Nacional, a Barragem do Poilão, a Central de Consultas e a Maternidade do Hospital Dr. Agostinho Neto, o Estádio Nacional, a infra-estrutura tecnológica da rede electrónica do Estado, a reabilitação do Palácio da Presidência da República, o Complexo Educativo de Santa Maria, o Centro de Pós-Colheita no Poilão e o Campus da Universidade de Cabo Verde”, cita.
Para além disso, a China tem atribuído bolsas de estudo para formação de quadros e assistência técnica ao país. “A maioria dos imigrantes chineses em Cabo Verde (97%) pertencem à etnia Han, o que era de se esperar tendo em conta que cerca de 92% da população da China é dessa etnia”.
Os resultados deste diagnóstico apontam para uma contribuição positiva da comunidade empresarial formada pelos imigrantes chineses para a economia cabo-verdiana, nomeadamente, com a criação de emprego para trabalhadores nacionais e pelo investimento nos sectores do comércio (sobretudo de produtos alimentícios, vestuários, materiais de construção) e da imobiliária.
Comunidade chinesa
Yuli Wang, mais conhecida por Li, é uma chinesa do terceiro grupo de chineses que chegaram a Cabo Verde em 1997. Li conta que veio por influências de familiares que já estavam instalados no nosso país e que primeiro veio à procura do mercado para saber que tipo de negócio poderia abrir. “Primeiro estivemos na cidade da Assomada, depois fomos à China e no ano seguinte regressamos a Cabo Verde e abrimos a nossa loja na Praia”.
“Éramos o terceiro grupo de chineses que tinha vindo para Cabo Verde. Era uma altura que havia falta de muitas coisas e eram poucas as lojas de chineses”. O negócio de roupas e sapatos vendia bem, recorda Li.
Com o passar dos tempos o negócio tornou-se difícil porque com pouco lucro e com a pandemia as coisas ficaram muito mais complicadas, explica.
Segundo Li, como vencer roupas e sapatos não está a dar lucro, desde o ano passado decidiu por outros produtos como electrodomésticos. “Como em Cabo Verde há muitas pessoas a vender roupas e sapatos e houve um aumento do preço em todos os outros produtos, optámos por não aumentamos os preços nas roupas e sapatos”. A irmã da Li também passou a vender roupas e sapatos mas mais “sofisticados” e acessórios só para homens.
Como explica, Cabo Verde já desenvolveu muito. Quando cá chegou não havia tantas lojas como há hoje. “Cabo Verde está bem, não tem guerra, mas sei que com o tempo as coisas vão mudar por causa da crise, mas ainda Cabo Verde está seguro”.
Li conta que se sente muito bem em Cabo Verde, “tenho muitos amigos cá, só que nós chineses não gostamos muito de visitar as pessoas nas suas casas como aqui se faz. Mas convivemos muito bem com os cabo-verdianos. Sempre me senti bem cá, tão temos problemas com as pessoas, cabo-verdianos e chineses são povos irmãos”.
Amitofo também tem a sua loja na cidade da Praia e está em Cabo Verde desde 1997. Veio para ajudar o irmão que tinha um restaurante, mas mais tarde resolveu ter o seu próprio negócio.
“Depois de estar aqui a ajudar o meu irmão vi oportunidade de ter o meu próprio negócio. Vi que muitas pessoas não tinham muitos sapatos e pensei que se abrisse uma loja para vender roupas e sapatos seria bom para mim e para as pessoas”, conta.
Amitofo assegurou que desde que chegou em Cabo Verde foi sempre bem tratada e sente-se muito bem no nosso país. “Quando cá cheguei fui muito bem tratada, não tenho que me queixar, as pessoas são simpáticas, gosto muito daqui. Outra coisa aqui de que gosto muito é do clima, que é quente”.
Amitofo conta que trabalha na loja de segunda a sábado e no domingo gosta de sair para passear no interior de Santiago. “Em Cabo Verde, quando acontece alguma actividade cultural, gosto de assistir para ver como é que as coisas aqui funcionam”.
Conta que está bem integrada na nossa comunidade. “O meu irmão voltou para a China, mas eu estou aqui com o meu negócio, também tenho aqui outros familiares. Estou-me sentindo bem aqui”.
Zhang Juan também é comerciante e tem a sua loja no concelho de Santa Cruz, interior de Santiago. Conta que está em Cabo Verde há quatro anos. “Primeiro estive três anos em Cabo Verde, fui para a China e voltei. Zhang conta que foi bem recebida em Cabo Verde, não teve dificuldades em falar a nossa língua e que na loja, diariamente aprende novas palavras e agora está a sentir ainda melhor no nosso país.
Zi Chao Zhao vive em Cabo Verde há quase seis anos. À semelhança dos outros chineses, veio para ajudar a sua família na loja. “Trabalho na caixa do supermercado da minha família, no concelho de Santa Cruz”.
Em relação à língua, explica que não teve muita dificuldade, aprendeu a falar na loja e conseguiu adaptar-se facilmente no nosso país.
Ano Novo Chinês
O Ano Novo Chinês 2022 tem duas datas: pelo calendário solar, no dia 3 de Fevereiro começa o Ano do Tigre, pelo calendário lunar, o Ano Novo Chinês 2022 começa no dia 1 de Fevereiro.
De acordo com a Astrologia Oriental chinesa, o Ano do Tigre irá trazer dinamismo fora do comum para as ocorrências do âmbito global do cotidiano em 2022. “A energia vigorosa é muitas vezes impulsiva desse signo que pode contribuir para que o ano seja cheio de compromissos e acontecimentos”.
Para o presidente da Associação de Amizade China-Cabo Verde (AMICACHI), José Correia, este ano é de muito dinamismo, pelo que espera que seja, de facto. Mas avisou que a AMICACHI não vai comemorar, por causa da COVID-19.
A Associação de Amizade China-Cabo Verde (AMICACHI) foi criada em 2011 com o objectivo de facilitar contactos entre Cabo Verde e China, actuando de forma complementar à cooperação entre os governos dos dois países.
A associação tem realizado vários projectos e actividades, nomeadamente a Semana Cultural Chinesa em Cabo Verde, a instalação do Instituto Confúcio na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV), cursos de chinês, apoio à integração da comunidade chinesa em Cabo Verde e da comunidade cabo-verdiana na China.
Actuações e intercâmbios de grupos artísticos cabo-verdianos e chineses na China e Cabo Verde, respectivamente, bem como apoio à comunidade empresarial, também fazem parte da actuação da AMICACHI.
José Correia disse que este ano, à semelhança do ano passado, não haverá a semana cultural, devido às restrições impostas pela COVID-19. “Tínhamos previsto a Semana Cultural que normalmente fazemos e esta seria mais uma edição já tínhamos todo o programa montado, mas infelizmente vamos cancelar tudo”.
“A nossa missão é a promoção da relação entre Cabo Verde e a China, participação no desenvolvimento de Cabo Verde. A missão continua, e dividimos essa missão em áreas de actuação, como a diplomacia e a sociedade civil, da educação, cultura, área económica e empresarial e também as comunidades”, explica.
Segundo afirmou, continuaram com a mesma missão, só que a dinâmica de hoje é de tamanho diferente do de 2011, mas “ainda temos um percurso grande principalmente para a implementação daquilo que chamamos de visão AMICACHI 2050”.
“Estamos a trabalhar com o Centro de Intercâmbio que vai nos permitir arrancar com os projectos que temos previsto para a área da cultura, podemos avançar com a Academia da Cultura, desportos, mas dependem muito do início das actividades no Centro de Intercâmbio”, salienta.
Com Neidy Pereira (estagiária)
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1053 de 2 de Fevereiro de 2022.