Há um ano e meio Emileno Ortet desenvolveu o projecto Cidade Verde para ser implementado por fases, ou seja, bairro a bairro. Até agora foi feito o Achadinha Verde e, no passado domingo, 10, Valência Verde.
“Eu cresci em Valência e tenho um grupo de amigos que há muito não nos víamos. Um dia encontramo-nos e durante a conversa decidimos plantar uma árvore. Depois disso, surgiu a ideia de juntar todos os colegas que já não residem na zona para fazer uma campanha de maior dimensão”, começa por relatar.
Assim, decidiu oferecer dez árvores frutíferas para serem plantadas depois de uma campanha de limpeza.
Surgimento do projecto
“O projecto Cidade Verde surgiu devido ao meu compromisso com o meio ambiente. Levei em conta a alteração climática, os problemas que temos como o corte de árvores e a falta da sua plantação”, narra.
Pelo facto de em Cabo Verde, ou pelo menos na ilha de Santiago, existirem muitas acácias e tendentes, o jovem pensou em investir numa nova vertente de árvores.
“Uma nova visão que é plantar frutíferas ao invés das plantas ornamentais. Até porque com as frutíferas há a vantagem de colher o fruto. Sendo assim, cada pessoa vai cuidar da sua frutífera e depois poderá colher os frutos”, salienta.
Emileno Ortet realça ainda que a plantação das frutíferas poderá ajudar aqueles que precisam.
“É de conhecimento de todos que há muitas pessoas que vivem nas ruas, assim como há muitos que não têm uma fonte de rendimento, quem sabe daqui a algum tempo essas pessoas possam colher os frutos dessas árvores e trocá-los por outros produtos, ou até mesmo vender e, desse modo, garantir o auto-sustento”, perspectiva.
Conforme revela, desde o surgimento, até agora, o projecto conseguiu plantar cerca de 70 árvores, não apenas na cidade da Praia.
Como exemplo, cita que, recentemente, o Banco de Cabo Verde, através do projecto, doou à Associação Planalto, em Rui Vaz, 45 plantas frutíferas, dentre as quais maracujá, goiaba, manga, abacate, pitaia, jambre e pinha.
Já no Bairro da Achadinha, contou com o apoio dos imigrantes do bairro e de Maria Lobo, dona da Tipografia Santos, que doaram dinheiro para a aquisição das árvores.
Cada árvore frutífera custa, no máximo, 500 escudos.
“O objectivo não é apenas a cidade da Praia verde, mas todas as localidades da ilha de Santiago verde”, sublinha.
Custos
Por ser um projecto “muito custoso”, o jovem afirma que antes de se proceder às plantações é feito um trabalho de sensibilização junto às populações, porta-a-porta.
“Chegar à população, mostrar qual a importância de ter uma planta para que possam comprometer-se com o projecto. Assim, quando plantámos uma árvore nas suas portas possam regá-las”, explana.
Conforme elucida, o compromisso do projecto é com a plantação e o acompanhamento de cada árvore. Ou seja, compromete-se em fornecer o adubo, caso a árvore, depois de plantada, vier a precisar, ou alguma técnica que lhe permita reproduzir mais rápidamente.
Emileno Ortet garante que o projecto tem tido muito sucesso e que várias pessoas querem árvores frutíferas nas suas portas.
“Ficamos sempre em contacto com essas famílias para seguir o crescimento da árvore, até mesmo para supervisionar se o compromisso é levado a sério”, acrescenta.
Uma planta antes de ir à terra, demonstra, leva no mínimo de oito meses ou um ano, para que possa ficar mais forte.
“Houve época em que tinha 500 mudas de plantas no terraço. E posso afirmar que, mensalmente, essas plantas gastam, só em termos de água, cerca de dez mil escudos. Manter um viveiro custa muito, sem falar na compra das sementes”, calcula.
No que tange às sementes, o jovem tem em curso uma campanha de recolha.
“Pedimos às pessoas para não jogarem as sementes fora, quando comerem uma fruta, guardem que depois faço a recolha para dar o seguimento. Divulguei essa campanha porta-a-porta, principalmente junto de pessoas que conheço”, admite.
Apadrinhar um bairro
Precisamente por ter um custo elevado, o jovem alterou a estratégia do projecto. Ao invés de financiar as plantações, passou a convidar artistas, instituições e empresas para apadrinharem um bairro, com determinada quantidade de árvores frutíferas.
Sendo assim, determinam a quantidade e compram no Emileno as árvores antes de ofertarem ao bairro escolhido.
“Na primeira e segunda fases do projecto suportei todos os custos, mas por ser muito custoso, surgiu a ideia do apadrinhamento. Assim, o padrinho compra as árvores e vou plantar, com o apoio da Associação Academia Achadinha, ou amigos”, precisou.
Calabaceira Verde
Após ver o sucesso do Achadinha Verde, o jovem Carlos Veiga, residente em Calabaceira, entrou em contacto com Emileno afim de adquirir árvores para a sua rua.
Segundo revela, Emileno Ortet doou cerca de 10 árvores que serão plantadas ainda esta semana.
“Vamos plantar numa única rua e depois fazer propaganda para as outras ruas do bairro, inclusive estamos à procura de patrocínios. Depois de anunciar as plantações, recebi pessoas de outras ruas que estão interessadas em fazer plantações. Queremos alargar a todas as áreas”, afirma.
Carlos Veiga declara que se interessou pelo projecto por várias razões, entre as quais a falta de sombra de uma árvore em Calabaceira e o embelezamento do bairro.
“A ideia é cada pessoa responsabilizar-se por uma árvore para que a localidade ganhe mais vida, então, acaba por ter também uma vertente educativa para as crianças e jovens verem que é possível fazer coisas diferentes para o nosso bairro. Coisas simples e bonitas”.
“O nosso bairro é conhecido por ser um dos mais problemáticos da capital. Essas árvores podem trazer um outro rosto para a zona”, observa.
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Outras campanhas de plantação de árvore
Em Abril de 2021, a Associação para a Defesa do Ambiente e Desenvolvimento (ADAD) promoveu uma palestra de reflexão em escolas da Cidade da Praia e campanhas de plantação de árvores, no âmbito 51º aniversário do Dia da Terra.
Na altura, a associação justificou a iniciativa no espaço escolar como o local onde se encontram crianças e jovens que estão numa “fase favorável de construção da personalidade, valor e atitude”.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1063 de 13 de Abril de 2022.