“Ninguém e nenhum país está imune ao impacto devastador da guerra da Rússia na Ucrânia, incluindo países em nações insulares como esta”, afirmou Thomas-Greenfield na conferência de imprensa na Praia, escala da visita a três países africanos que a levou hoje a reunir-se com o primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva.
“Hoje, com o primeiro-ministro, discutimos detalhadamente a crise de segurança alimentar. Porque aqui em Cabo Verde 10% da população já está a enfrentar problemas de segurança alimentar”, acrescentou, na conferência de imprensa conjunta com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Figueiredo Soares.
Durante a visita aos três países africanos, em que a embaixadora norte-americana na ONU se reuniu com os chefes de Estado e de Governo do Uganda e do Gana, a insegurança alimentar e a guerra na Ucrânia foram temas na agenda, mas Thomas-Greenfield garantiu que a viagem já estava programada há muito e que “não foi uma resposta” à que o chefe da Diplomacia russa, Sergey Lavrov, realizou ao continente africano dias antes.
“Mas deixe-me ser claro. O que ele esteve aqui a fazer no continente foi dar desculpas para o que estão a fazer na Ucrânia. Eles atacaram o seu vizinho, eles criaram uma crise global internacional que levou à insegurança alimentar em todo o mundo. E eles estiveram aqui [África] para defender isso, não para aceitar a responsabilidade. E não há ninguém para culpar pelo que está a acontecer a não ser a própria Rússia. E eles podem corrigir isso, parando a guerra na Ucrânia”, respondeu a diplomata.
Aludindo à crise alimentar, e num cenário em que alguns países africanos dependem essencialmente de cereais importados da Rússia e da Ucrânia, Linda Thomas-Greenfield fez questão de recordar que os EUA não estão a aplicar sanções aos produtos agrícolas russos: “Eles podem colocar os seus produtos agrícolas no mercado, se quiserem”.
De acordo com a diplomata, que se encontrou nos últimos quatro dias também com agricultores locais, activistas e membros da sociedade civil, além de visitar mercados do Uganda e do Gana, os EUA estão a tentar liderar a resposta à crise alimentar, apoiando a ONU, através de um “roteiro para a segurança alimentar global”.
“Também acreditamos que esta crise apresenta uma oportunidade para a África se tornar mais independente e construir os seus próprios suprimentos de alimentos, para que não sofra quando acontecem coisas a milhares de quilómetros de distância”, apontou a embaixadora, sublinhando que a viagem que hoje terminou permitiu discutir oportunidades para “melhorar a segurança regional e a prosperidade mútua”.
Sobre a crise em Cabo Verde, a recuperar dos impactos económicos da pandemia da covid-19, a enfrentar há vários anos uma seca severa e a sofrer uma forte crise inflacionista agravada pela necessidade de ter de importar praticamente tudo o que consome, a diplomata garantiu que os EUA estão a “trabalhar muito de perto” com o Governo cabo-verdiano.
“Como sempre, os Estados Unidos sentem-se verdadeiramente honrados nesta parceria com Cabo Verde, um país que serve de modelo regional de respeito aos processos democráticos, justiça e direitos humanos. Cabo Verde é realmente um exemplo e modelo para todo este continente, não apenas para esta região”, enfatizou Thomas-Greenfield.
Recordou que os EUA já providenciaram nos últimos dois anos vários apoios a Cabo Verde, como ao nível do fornecimento de vacinas contra a covid-19 ou o financiamento de dois milhões de dólares para a recuperação do sector privado afectado pela pandemia, além do recente apoio de emergência através da Federação Internacional da Cruz Vermelha para mitigar o impacto da segurança alimentar.
Ulisses Correia e Silva declarou há pouco mais de um mês a situação de emergência social e económica no país devido aos impactos da guerra na Ucrânia, anunciando mais medidas de mitigação, com um custo total de mais de 80 milhões de euros, apelando à mobilização de recursos junto dos parceiros internacionais.
Face a este apelo, Thomas-Greenfield acrescentou que os EUA estão a trabalhar num plano para assistir países em dificuldades como Cabo Verde: “Vamos trabalhar com outros parceiros para garantir que eles respondam ao apelo e às necessidades que o primeiro-ministro identificou aqui”, declarou, após reunir-se com Ulisses Correia e Silva.
A embaixadora acrescentou que, além das consequências da guerra na Ucrânia para África, a visita a estes três países integrou também “uma série de compromissos de alto nível que visam afirmar e fortalecer parcerias e relacionamentos com líderes e povos africanos”, incluindo a preparação da cimeira EUA-África, a ter lugar de 13 a 15 de Dezembro próximo.
“Espero, durante essa cimeira, ter a oportunidade de aprofundar ainda mais os laços mutuamente benéficos entre os Estados Unidos e Cabo Verde e fortalecer o nosso relacionamento com todo o continente”, concluiu.