País arquipelágico e sem condições iguais na saúde em todas as suas ilhas habitadas, Cabo Verde está “fadado à evacuação médica interna para que o Estado possa garantir a continuidade da prestação de cuidados”, reconhece o Director Nacional de Saúde.
Tem havido, do lado da Saúde, uma preocupação constante “em salvaguardar as condições para disponibilizar os cuidados de saúde cada vez mais próximos das pessoas”, embora reconheça que, apesar de todos os investimentos realizados nesse sentido, “não se consegue disponibilizar tudo o que gostaríamos”.
Contudo, “isto não é o caso apenas de Cabo Verde”, observa. A pandemia de COVID-19 veio mostrar isso mesmo, a nível mundial. Durante os picos muitos Serviços Nacionais de Saúde de países desenvolvidos não conseguiram dar a resposta que era necessária, lembra.
“Estar "sempre a postos" em qualquer lado” é, pois, um desafio e requer um grande esforço. Nem sempre é conseguido. E quando não se consegue resolver uma situação a nível local, urge pois a evacuação.
A evacuação é, de facto, sublinha, um dos principais desafios da Saúde, tendo em conta que “a sua efectivação depende de vários factores, que podem ser controláveis ou não.” Como exemplo dos factores que não são controláveis, Jorge Barreto aponta condições climáticas adversas que podem dificultar ou, até mesmo, impedir uma evacuação interna.
Sem soluções clínicas em algumas ilhas, recorre-se pois à evacuação. E quando esta é necessária, “é feita mediante o cumprimento de procedimentos que existem há anos no Ministério da Saúde e depende da disponibilidade de transporte e de condições climáticas para a realizar com segurança”.
Saúde e transportes
Quanto à relação entre a saúde e os transportes, outro sector envolvido, Jorge Barreto aponta que “a Saúde está em permanente contacto com a companhia aérea e as companhias marítimas que actualmente operam no país. Em situações pontuais, a Saúde também tem pedido ajuda ao Ministério da Defesa, relativamente aos transportes marítimos que possuem. Sempre tentamos buscar outras soluções, quando uma não está logo disponível.”
Todo o processo, entretanto, é bastante custoso para o Estado “sobretudo quando se recorre a voos fretados”.
“Digo mais uma vez, é um desafio enorme, pois é preciso salvaguardar a sustentabilidade”, sublinha.
Além dos custos implica o envolvimento e grandes responsabilidades de vários sectores.
“Na Saúde, por exemplo, temos o médico que atendeu o doente que tem que decidir se é para evacuar ou não e, habitualmente, discute o caso e concerta com o médico do hospital que vai receber o doente, temos o delegado de saúde, que valida a evacuação, o Director Nacional da Saúde também valida o pedido de evacuação e ajuda a encontrar soluções em conjunto com o Delegado de Saúde, para que tudo possa correr bem”, descreve.
Há também o lado dos transportes. A esse nível, “muitas vezes os responsáveis têm que decidir desviar um voo ou atrasá-lo, para ir buscar ou levar um doente grave que precisa de ser evacuado, o que acaba por prejudicar as suas operações, mas fazem isso para salvar vidas, atendendo a pedidos do Ministério da Saúde”.
Atendimento
O caso do adolescente que faleceu no passado dia 1 de Agosto no Fogo, para onde tinha sido evacuado, levantou a questão não só da evacuação propriamente dita, mas de todo o circuito de atendimento ao paciente.
O presidente da República, José Maria Neves, que após prestar condolências à família do rapaz apelou à realização de um “inquérito rigoroso” (cuja abertura o governo já anunciou) sobre as circunstâncias da evacuação e da morte do adolescente, defendeu ainda que se deve “auditar o atendimento em todo o sistema nacional de saúde”, face às muitas queixas, “justas ou injustas, de pessoas que se consideram mal atendidas e/ou mal tratadas nos serviços de saúde”.
Em relação à questão do atendimento, avança Jorge Barreto, já foi feito, este ano (e à semelhança do que já aconteceu no passado), um inquérito sobre o grau de satisfação dos utentes em relação aos serviços de saúde. Os dados ainda não estão disponíveis, mas quando estiverem “irão ser de grande valia para a identificação de iniciativas para melhoria do atendimento”.
“Às vezes, as coisas não correm muito bem (não é o nosso desejo), mas acho que correspondem a excepções. Isto porque o atendimento é influenciado por diversos factores. A Direcção Nacional da Saúde está a implementar um novo Serviço voltado para a gestão da qualidade na saúde e pensamos que pode ser uma iniciativa que venha contribuir para melhorar o atendimento”.
Além desse novo serviço, “há sempre formações com o objectivo principal de melhorar o atendimento”, refere Jorge Barreto, lembrando que a avaliação do atendimento depende muito da expectativa de cada utente.