As informações são avançadas ao Expresso das Ilhas pelas empresas de fornecimento de água nas referidas ilhas.
Segundo o director técnico de Águas e Energia do Maio (AEM), Michael Frederico, a maior fonte de perda do líquido naquela ilha são os reservatórios que, por serem muito antigos e feitos de pedra, estão mais sujeitas a fissuras e, por isso, mais propensas às perdas.
Quanto ao roubo de água, Michael Frederico afirma que não pode garantir que não exista, mas que não é em número muito expressivo.
“Em termos de perda aparente nos locais de consumo, o nosso maior problema são os contadores que são bastante antigos e podem apresentar falhas na contagem. Temos contadores com mais de 20 anos instalados e o recomendável é que a vida útil de um contador seja de máximo de 10 anos”, diz.
Neste momento, a AEM tem em curso a substituição de cerca de 70% desses contadores, com financiamento da Cooperação Luxemburguesa.
“Foram oferecidos 1.200 contadores e o nosso número total de clientes é cerca de 2.300. A substituição desses contadores está dentro do nosso plano de redução de perdas. Por sermos uma empresa muito recente ainda estamos a recolher dados para fazer a separação entre as perdas reais (vazamentos na rede de distribuição) e perdas aparentes (fraudes, ligações clandestinas). Mas, em termos percentuais, estamos a falar de uma perda em cerca de 46%”, informa.
Perdas de Santiago, Fogo e Brava
O administrador da Águabrava, Rui Évora, diz que o volume de água não facturado nas duas ilhas situa-se na ordem dos 32%.
“No entanto, devo referir, e com alguma satisfação, que através das várias acções desenvolvidas e outras em curso, temos vindo a conseguir reduzir progressivamente o nível de perdas totais. De 44% em 2018 para 32% em Julho de 2022”, refere.
Entretanto, o nível de perda na Brava é inferior à ilha do Fogo. Isto apesar de, na Brava, o abastecimento da água ser “precária e difícil”, uma vez que todo o abastecimento é feito de forma “condicionada, racionalizada” devido à indisponibilidade da quantidade de água face à demanda.
Um outro factor que contribui para uma menor perda do que no Fogo, conforme Rui Évora, é que na segunda ilha quase todas as localidades são abastecidas por redes de água durante 24 horas, o que significa que os sistemas se encontram quase permanentemente sem carga.
Já a directora comercial da Águas de Santiago, Laura Moreira, informa que os dados da empresa apontam que de 2017 a 2021 as perdas sempre estiveram acima dos 60%. Por exemplo, em 2017 a empresa registou uma perda de 64%; 2018 e 2019, 62%; 2020, 61% e 2021, 60%.
Só no município da Praia, neste momento, as perdas rondam os 60%, o que representa um prejuízo de 1,5 milhões de escudos por dia à empresa.
Tal perda, conforme Moreira, tem impacto financeiro negativo para a empresa; faz com que haja pouco volume disponível e origina a falta de qualidade da água.
“Para o consumidor o custo das perdas é repercutido na tarifa da água sendo, portanto, pago pelos consumidores-pagadores, também os consumidores pagadores, ficam com menos disponibilidade de água, além da falta de pressão, devido às perdas de água”, mostra.
Reduzir as perdas
O plano em acção da Água e Energia do Maio para a redução das perdas inclui também a instalação de macro contadores na entrada de cada localidade para averiguar a quantidade de água que entra em cada lugar.
De acordo com o director daquela empresa, a ideia é que até 2023 todos os planos da empresa sejam concluídos.
“A partir daí, podemos também verificar se há possibilidade de reduzir ainda mais a tarifa que é repassada aos consumidores, principalmente os consumidores domésticos”, admite.
Por sua vez, Rui Évora avança que a diminuição das perdas da Águabrava está relacionada com a criação de um serviço dedicado, exclusivamente, à inspecção de contadores e combate à fraude de água.
“Reforçamos também a equipa de leitores da empresa tendo em conta, sobretudo, a dispersão geográfica dos pontos de consumo. Temos vindo a desenvolver, ao longo dos últimos anos e encontra-se ainda em curso, uma campanha para a redução de perdas de água, comportando, detecção de fugas de água em redes de distribuição com equipamentos técnicos apropriados; inspecção pontual a redes internas de água no domicílio dos clientes; substituição de contadores, entre outras actividades”, aponta.
A Águabrava também tem vindo a introduzir contadores mais modernos e que são mais sensíveis ao registo de baixo consumo, assim como o revestimento da impermeabilização de reservatórios, substituição progressiva de redes de distribuição de água com níveis mais elevados de perda de água.
Rui Évora afirma que o que poderá trazer resultados mais satisfatórios no que tangue ao combate à perda de água, é a introdução de um sistema de telemetria para contagem enquadrado num projecto piloto.
“Esperamos que com a utilização desse sistema de telemetria possamos ter dados muito mais fiáveis de registos de consumo, para além de outras vantagens que esse sistema comporta. O nosso propósito é continuarmos e reforçarmos essas acções de redução de perdas para situarmo-nos a um nível tecnicamente admissível que é na ordem dos 5 a 25%”, assegura.
Segundo o administrador da Águabrava, as perdas aparentes que se relacionam com fraude no uso da água ou ligações clandestinas, têm o maior peso nas perdas totais.
No caso de a empresa conseguir reduzir as perdas de 32% para 15%, poderá corresponder a menos 2.500 contos perdidos, mensalmente.
Por outro lado, para um melhor controle sobre as perdas, a AdS tem vindo a sectorizar a rede, a instalar macrocontadores de medição e a monitorizar as Zonas de Medição e Controlo; detectar e localizar fugas; reparar avarias; substituir contadores avariados; a regularizar as ligações clandestinas e ligações sem contratos, entre outras prácticas.
Quanto à regularização de ligações clandestinas e sem contrato a distribuidora santiaguense garante que há facilidade na entrega das documentações; vistoria grátis; que não há facturação dos consumos passados e não há facturação de eventuais danos na rede pública.
Aliás, Laura Moreira afirma que os consumidores têm um papel fundamental no combate às perdas alegando que a empresa não conseguirá melhorar a situação e reduzir as perdas sem o envolvimento de toda a população.
Desafios
Michael Frederico reporta que 100% da água que é consumida no Maio provém da dessalinização. A ilha possui três dessalinizadoras sendo que uma, na zona leste, que funciona a 100% com energia renovável; uma que funciona com 50% de energia renovável e uma na zona norte que se pretende que venha a funcionar com energia renovável.
Contudo, sendo a dessalinização um “processo muito caro” em termos de energia, a AEM implementou uma central fotovoltaica de forma a reduzir os custos da produção.
Michael Frederico perspectiva com a redução do custo de produção, mais a redução das perdas, aumentar as receitas da distribuidora.
Já Rui Évora aponta que o maior desafio da Águabrava, neste momento, é o reforço na prestação do serviço prestado.
“É garantirmos água a todos os nossos utentes nas duas ilhas em quantidade e qualidade requeridas, cobrirmos a 100% todas as localidades das ilhas e a demanda domiciliária, mas também a demanda para outros fins de forma regular. Tudo isso associado à continuidade de funcionamento da empresa num quadro financeiro sustentável”, assume.
Por sua vez, a AdS afirma que as perdas de água nos reservatórios e cisternas prediais é, neste momento, um dos maiores desafios que enfrenta como as perdas por infiltração, raízes das plantas, entre outros.
“O potencial de perdas num reservatório é cerca de 45 m3/dia ou consumo de mais de 600 pessoas, nesse sentido apelamos aos proprietários moradores da necessidade de manutenção/impermeabilização tendo em conta que a sua causa é de falta de manutenção”, pontua a directora comercial.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1085 de 14 de Setembro de 2022.