Uni-Sénior vem “dar mais vida” à terceira idade

PorSara Almeida,1 out 2022 7:56

A terceira idade não é, nem deve ser o fim de uma vida “activa” ao nível social ou de realização pessoal. Para alterar a imagem negativa atribuída a velhice e “dar mais vida à vida” surgiu a Uni-Sénior, que foi lançada no início do ano. Em conversa com o Expresso das ilhas, a Presidente da Uni-Sénior, Crispina Gomes fala desta iniciativa que, no seu curto tempo de actividade, tem colhido boa adesão e das muitas propostas para o futuro.

Tudo começou, há já alguns anos, quando um grupo de cidadãos seniores, “massa crítica que serviu o país durante todos esses anos depois da independência e que entrou na reforma”, se juntou em torno de uma mesma ideia: promover um envelhecimento activo e responder, de alguma forma, à “marginalização que muitas pessoas idosas sofrem”.

Surgiu assim a Associação Pró-Universidade Sénior, sob o lema “dar mais vida à vida” e com o propósito expresso de criar em Cabo Verde uma iniciativa lúdica e formativa destinada a idosos, semelhante às que existem em várias partes do mundo.

A Associação, em si, foi a “forma legal que encontramos para depois desenvolver outras actividades, nomeadamente a criação da Uni-Sénior”, explica a presidente desta Universidade, Crispina Gomes, que foi também coordenadora da comissão instaladora.

A ONG foi então registada e avançou-se com todo o processo burocrático para a instalação da desejada Universidade. “Infelizmente veio a pandemia e atrasou tudo”, recorda.

Finalmente, em Janeiro deste ano, já com a situação epidemiológica mais controlada, a Universidade destinada a adultos com mais de 60 anos, foi lançada.

O que é a Uni-Sénior?

“A Uni-Sénior é um espaço de troca, de dar e receber. Os participantes podem colaborar na animação de actividades várias, mas também têm a oportunidade de receber contribuições e experiências de outros colaboradores”, lê-se na apresentação da instituição na sua página de Facebook.

Como explica mais detalhadamente a sua Presidente, o objectivo é proporcionar actividades lúdicas, formativas, intervenção cívica e também convívio, “que é muito importante”, não só aos seus destinatários, como entre estes e os mais jovens. Enfim, um conjunto de ofertas que contemplam o turismo sénior (já foram realizadas excursões), oficinas em áreas que vão da culinária ao artesanato, entre várias outras, bem como “actividades académicas, para refrescar memórias e actualizar conhecimentos”.

Entretanto, um aspecto que é valorizado, sublinha, é a “passagem de testemunhos”. Ou seja, “propor diálogos inter-geracionais, contar o nosso percurso profissional, e não só, aos jovens, intercambiar experiências e, se possível, abrirmo-nos também a perguntas”, explica.

Oferta

A Uni-Sénior, como referido, foi lançada no início do ano e poucos meses depois, em finais de Abril, teve lugar a primeira oficina:“Culinária para diabéticos”.

“Foi um êxito”, avalia Crispina Gomes. A casa esteve cheia, tanto que a ideia é repetir o tema no mês de Outubro.

Neste momento, está a decorrer uma formação de informática para pessoas com mais de 60 anos, também “com sala cheia” e em que um dos alunos é o antigo Presidente Pedro Pires, de 88 anos. Outro curso recentemente iniciado é o de Escrita em Língua Cabo-verdiana, leccionado por duas professores universitárias.

Em breve será também lançado um curso de Inglês “e está a ser preparado o curso de História de Cabo Verde”.

Para além da formação ao nível das actividades intelectuais pretende-se também criar oferta para actividades físicas, eventualmente pilates, ioga ou outras.

“São formações que os próprios sócios, em inquérito que foi feito anteriormente, propuseram como áreas de interesse. Então, estamos a seguir exactamente as propostas que nos fizeram, mas haverá muito mais cursos já identificados para serem futuramente montados”, adianta a Presidente da Uni-Sénior.

Aliás, há abertura total “a propostas para melhorar o nosso desempenho e a nossa universidade”, garante.

Membros e apoio

A Associação Pró-Universidade Sénior começou, como referido, com um pequeno núcleo fundador, de várias áreas, e conta já neste momento com mais de 100 sócios, só na cidade da Praia.

A capital é, até ao momento, o único local onde ocorrem as actividades, mas brevemente vai ser aberto um polo da Uni-Sénior em São Vicente, onde contam com cerca de uma vintena de sócios. “Mas todos os dias há pedidos de gente que quer inscrever-se como sócio da Uni-Sénior.

“Também temos sócios em Santo Antão. Temos sócios na diáspora…”, enumera. Enfim, à medida que a iniciativa vai sendo conhecida, o número vai crescendo a bom ritmo.

Uma recepção e adesão que mostram que a Uni-Sénior tem espaço em Cabo Verde e cumpre algumas expectativas da sociedade, analisa Crispina Gomes.

Apoios e parcerias

As universidades seniores são, um pouco por todo o mundo, uma reconhecida resposta social ao envelhecimento activo. Em Cabo Verde, a iniciativa é muito recente, mas a forma como tem sido recebida por parceiros é satisfatória.

Um grande parceiro, destaca a presidente, é a CM da Praia, que deu “uma pequena contribuição inicial para lançar a Uni-Sénior” e “está a gratificar dois jovens para ajudar” na sua actividade. Outro parceiro importante é a Fundação Amílcar Cabral que cedeu o espaço onde funciona a Uni-Sénior.

Entretanto, foram também assinados protocolos com entidades como a CV Telecom, o IEFP, e em breve será assinado com o NOSI. Há ainda uma colaboração firmada com a Universidade de Cabo Verde e com a Uni-Mindelo.

Em suma, “já há uma abertura da sociedade civil e de algumas instituições para nos apoiar e colaborar” com a Uni-Sénior, congratula-se.

Impactos

Estima-se, em Portugal, por exemplo, que os alunos das Universidades seniores consumam cerca de menos 20% de medicamentos do que os outros idosos. Estima-se também que tenham um nível de depressão muito menor.

Enfim, os efeitos positivos no envelhecimento são reconhecidos e são, aliás, esses pressupostos que levaram à criação da Uni-Sénior, refere Crispina Gomes.

Em Cabo Verde, “ainda é muito cedo para fazer uma avaliação qualitativa”, aponta a socióloga reformada. Contudo, pretende-se também aqui medir esse impacto. “Queremos, dentro de algum tempo, lançar um inquérito entre as pessoas que estão a participar para tentar ver que impacto a universidade terá” nessas questões. “Está na nossa agenda fazer isso”, adianta.

Ainda sem dados quantitativos, o que se sabe, no terreno, é que quem frequenta a Uni-Sénior se sente satisfeito.

E “a sociedade civil pode e deve associar-se a esse movimento do envelhecimento saudável”, exorta

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Autoria:Sara Almeida,1 out 2022 7:56

Editado porSara Almeida  em  13 jan 2023 23:28

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