Natal com fraca movimentação nas compras

Já é marca da época natalícia uma forte movimentação de pessoas nas ruas da capital do país. Mas este ano, segundo os ouvidos por este jornal, o movimento de compras está um pouco fraco devido aos efeitos da inflação provocada pela guerra na Ucrânia e a subida do preço dos bens e serviços que desestabilizou o poder de compra das famílias.

O Expresso das Ilhas, numa ronda pela capital, ouviu relatos dos cidadãos que se mostraram pouco optimistas com a época festiva. A responsável da loja Manuel dos Anjos, no Plateau, Ana Monteiro, confidenciou ao Expresso das Ilhas que este ano as vendas ainda estão fracas. Esta responsável acredita que nos próximos dois dias que antecedem o Natal possa haver maior valor em vendas.

“Este ano ainda não houve um dia com grande destaque no valor das vendas, comparativamente ao ano passado. Até ao momento, podemos dizer que este ano a situação está mais crítica. Temos várias novidades, mas as vendas ainda estão baixas, mesmo os produtos que nesta época vendiam com bastante rapidez, encontram-se nas prateleiras. Acredito que com a inflação em alta e o poder de compra baixo, as famílias estão a definir prioridades sobre o que comprar. O maior valor de venda está nos produtos alimentícios de primeira necessidade. Registamos uma fraca aderência nos produtos de decoração, artigo para casa, até mesmo em produtos como chocolates este ano não estão com grande procura, as famílias estão a definir as prioridades e estão mais cautelosas no valor a gastar”, testemunhou.

Ana Monteiro declarou ainda que apesar de haver períodos com bastante movimentação, o que se regista é mais uma “vista de olhos” para conhecer as novidades, as compras ainda estão aquém do esperado.

Elsa Monteiro é responsável da Boutique Beco, no Plateau, um estabelecimento que oferece produtos para homens e mulheres, desde calçados, vestuários, bijuteria e perfumaria.

Segundo esta comerciante, as vendas “estão fracas” em relação ao ano passado que, apesar da pandemia da Covid-19, puderam contar com boas vendas na época festiva. Este ano, como confidenciou ao Expresso das Ilhas, há menos procura de roupas para a quadra festiva e algumas pessoas acabam por desistir da compra com o aumento do preço dos produtos.

“Temos muitas novidades, mas com a inflação em alta estamos com pouca adesão. O movimento está fraco, comparando com os anos anteriores: este ano eu diria que está pior. Até temos movimentação de pessoas, em alguns momentos mais intensos, mas pouca compra”, contou.

Elsa Monteiro atribui a fraca venda nesta época natalina à subida do preço dos produtos. Segundo esta comerciante, a crise económica provocada pela guerra na Ucrânia preocupa as pessoas a ponto de abrirem mão de algumas compras que seria normal nesta época do ano para poderem garantir que não falte comida em casa.

“É surpreendente que cada vez que passamos pelos supermercados deparamos com alterações de preços gritantes. Lamentamos a fraca venda, mas é altamente compreensível que as pessoas estejam a preferir compras de bens alimentícios do que artigos de luxo ou que não são tão prioritários na vida”, lamenta.

Compras no Mercado do Plateau

Mafalda Almeida é uma comerciante do mercado do Plateau que vende um pouco de tudo, desde frutas, grãos, às verduras. Esta comerciante avalia as compras deste ano como “equilibradas” e, ao mesmo tempo, disse que o Natal já foi em tempos sinónimo de vendas abundantes.

“Não podemos reclamar, se for para piorar, é melhor que fique como está. Algumas pessoas estão a reclamar do preço, outras, nem tanto, mas comparando este ano com o ano passado, podemos dizer que ainda está fraco. Não é de estranhar, ainda vamos a tempo de ver as coisas melhorar, acredito que mais para o final da semana, na véspera do Natal, podemos sentir melhor as vendas de uma época festiva”, avalia.

Por seu turno, a comerciante Tata diz que as vendas estão animadoras. A vendedora de verduras mostrou-se expectante quanto ao aumento de vendas e sublinha que embora as condições económicas estejam mais precárias para “todos”, o Natal sempre vai merecer um esforço por ser a festa da família.

“Sabemos que o dinheiro não está lá grande coisa, os preços de hoje não condizem com o vencimento, há cada vez mais despesas por conta do aumento dos preços, mas o Natal é especial, por isso acredito que as vendas vão melhorar e vamos ter uma boa época”, disse.

Lojas chinesas

Este ano, as lojas chinesas, que costumavam estar superlotadas de pessoas nesta época natalícia, registam menos movimento nas compras. Lee, que é proprietária de uma loja no Plateau, informou ao Expresso das Ilhas que este ano o movimento está mais “flaco” do que nos anos anteriores e que mesmo nos anos onde a pandemia da Covid-19 estava mais intensa as vendas estavam bem melhor que este ano. Segundo ela, antes registravam-se mais pessoas a comprar presentes.

“Este ano os preços estão bem acessíveis e variados, há uma enorme variedade de produtos, roupas e brinquedos. Também temos vários produtos em promoção, mas até ao momento ainda estamos com um volume de vendas baixo. Esperamos mais movimentação nos dias 23 e 24 de Dezembro, as pessoas gostam de deixar para última da hora para comprar”, indicou.

Indira, representante de uma loja chinesa, avaliou a movimentação das compras como “mais ou menos”. Esta representante acredita que o aumento do preço de alguns produtos, principalmente dos géneros alimentícios, condiciona a fraca venda.

“As coisas não estão fáceis em Cabo Verde. A impressão que fica é que cada vez mais o dinheiro rende menos. É totalmente compreensível este clima morno no Natal. As pessoas estão com medo de gastar em Dezembro para depois em Janeiro passarem dificuldades. As lojas chinesas têm de tudo, principalmente nesta época especial do ano. Não é que o movimento esteja fraco ou que as pessoas não queiram comprar, é medo do amanhã em Cabo Verde que está cada dia mais incerto”.

Esta representante acrescenta ainda que as vendas estão equilibradas, mas que os clientes estão a analisar os preços e os produtos e sempre acabam por comprar nas vésperas do Natal.

Clientes

Ana Maria Borges, uma das pessoas abordadas pela nossa reportagem na Rua Pedonal do Plateau, confessou que entra nos estabelecimentos comerciais apenas para ver as novidades e avaliar os preços, mas que ainda não fez nenhuma compra para o Natal.

“Ainda estou a explorar, a ver onde há preços mais em conta, as promoções. Inicialmente não pretendo comprar roupas, o foco é nos produtos alimentícios, as coisinhas básicas e, de acordo com o preço, ver se posso cometer alguma extravagância para a ceia de Natal como adquirir um peru, que, aliás, em relação ao ano passado está bem mais caro. As compras vou deixar mesmo para o dia 24 de Dezembro, na esperança que baixem os preços de algumas coisas”.

Já Ângela contou à nossa reportagem que já tem todas as suas compras de Natal. Durante o mês de Novembro, como conta esta dona de casa, preferiu fazer as suas compras para evitar filas e aborrecimentos e também para driblar o aumento do preço dos produtos.

“Durante o mês de Novembro dediquei os meus dias a fazer as minhas compras para a época festiva e, como eu já previa, alguns produtos aumentaram de preço como o leite, por exemplo. Agora mais perto do Natal estou à procura de alguns presentes para oferecer, o que é menos stressante que as filas nos mercados. O preço dos produtos alimentícios, a meu ver, está um pouco caro, aliás, não é só os produtos alimentícios, tudo está mais caro. A estratégia é definir o que é mais urgente para dar prioridade e deixar o que pode esperar para os próximos meses. Sinceramente, não há salário que chegue para custear todas as despesas, pagar as contas e ainda viver a época festiva sem preocupação. Hoje em dia temos que saber apertar o cinto e respirar em simultâneo”.

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Famílias

Numa ronda pela capital, a nossa reportagem abordou alguns munícipes a fim de conhecer quais as intenções em relação às compras de Natal. Edsana Correia, uma das pessoas abordadas no âmbito da nossa reportagem, confidenciou que não vai comprar brinquedos este ano para presentear as crianças. Mãe de duas filhas, esta jovem de 27 anos disse que a actual conjuntura económica não permite gastos exagerados. Edsana Correia preferiu comprar roupas novas e calçados para as filhas e deixar os brinquedos para outro momento.

“Todos os anos compro brinquedos e em pouco tempo as minhas filhas dão cabo deles. Para este ano optei por roupas e calçados. Com a crise económica temos que definir as prioridades, prefiro vê-las bem aparentadas nas comemorações de Natal e Ano Novo do que dar um brinquedo que nem vai servir depois. Em casa já tenho brinquedos suficientes e depois, nessa idade, as crianças não fazem questão de nada, são impulsionadas pela novidade que em pouco tempo passa e já querem outra coisa”, explicou.

Filomeno Dias, abordado no centro do plateau pelo Expresso das Ilhas, conta que se deslocou de Santa Cruz, interior de Santiago, para procurar preços mais acessíveis aqui na capital.

Este visitante confidenciou que no interior da ilha os preços estão pouco acessíveis. Por conta disso, optou por fazer as suas compras de Natal na Praia, com o intuito de poupar um pouco mais.

“Os preços estão pouco acessíveis por todo o país, mas na Praia encontramos opções que ficam mais em conta. Comprei os presentes que precisava e as coisas para a ceia de Natal. O que posso dizer é que passamos um ano difícil e merecemos um bom Natal. Não estamos com condições para gastar, mas como passei por períodos conturbados em relação à saúde, decidi que celebraria o Natal como uma vitória pessoal. Os preços não estão satisfatórios, mas com uma boa pesquisa, sem precipitações podemos explorar e comprar mais barato. A dica é não comprar tudo num só lugar, temos que explorar”, previne.

Conforme apurou ainda o Expresso das Ilhas, de um modo geral o movimento de pessoas nas ruas do Plateau está longe de ser como noutros tempos em que havia sempre um grande fluxo de pessoas por ocasião da festa do Natal na capital cabo-verdiana. De acrescentar que a maior preocupação das pessoas é com o período depois das festas. Todas as pessoas abordadas pela nossa reportagem acreditam que os preços vão voltar a subir no primeiro mês de 2023. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1099 de 21 de Dezembro de 2022. 

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Autoria:Edisângela Tavares (Estagiária),24 dez 2022 9:49

Editado porSheilla Ribeiro  em  15 set 2023 23:28

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