Após o Provedor de Praia denunciar, na sua página de Facebook, que os taxistas que laboram no aeroporto da capital estão a cobrar 1.500 escudos até Achada Santo António, estabeleceu-se uma onda de protesto nas redes sociais. A publicação rendeu mais de 600 reacções, cerca de 300 comentários e mais de 60 partilhas de pessoas que também reclamaram de tal facto.
Contactado pelo Expresso das Ilhas, o presidente da Associação Taxistas de Praia, Adriano Monteiro, confirmou que os taxistas do aeroporto têm praticado esse preço desde Dezembro e que aconteceu depois do aumento do preço dos combustíveis que, por sinal, até baixou de preço nos últimos meses.
“Mas, a Associação não pode fazer nada, o máximo que podemos fazer é sensibilizar os taxistas para não cobrarem esse valor. Do resto, cabe às autoridades fazerem a sua parte. Todos os que trabalham fixo no aeroporto têm cobrado esse valor”, disse.
Segundo Adriano Monteiro, um dos motivos da cobrança desse valor seria o facto de os taxistas passarem cerca de duas ou três horas à espera dos passageiros. Uma justificativa que o presidente da Associação diz não servir.
“A culpa não é do cliente. O cliente não pede para o taxista o esperar nem que vá lá ter. Portanto, somos contra esse preço com a justificativa de passarem duas ou três horas ali”, afirma.
Associação quer preçário e taxímetro
Adriano Monteiro refere que na cidade da Praia há mais de 15 anos não existe uma tarifa de Táxi e que há vários anos a associação exige da Câmara Municipal um preçário.
“Auguramos um taxímetro dentro da cidade e um preço fixo para o aeroporto. Mas, a impressão que fica é que não há vontade por parte das autoridades”, considera.
Com o taxímetro e o preçário, Monteiro acredita que podem ser evitado conflitos com os passageiros.
“Ainda esses dias, no aeroporto, chegou uma passageira que queria ir até Cidade Velha e os taxistas pediram seis mil escudos. É exagerado. A senhora entrou dentro do aeroporto para perguntar o valor do táxi do aeroporto até a Cidade. Se tivéssemos um preçário, logo na saída essa passageira saberia o valor”, demonstra.
Conforme alega, sem um taxímetro os taxistas perdem, por dia, cerca de dois mil escudos.
“Por exemplo, se eu apanhar um passageiro no mercado do Platô até O Poeta, em Achada Santo António, cobro 150 escudos. Entretanto, se eu apanhar um outro passageiro também no mercado do Platô e levar até a última rua de Achada Santo António paga 150 escudos também”, exemplifica.
“Será que é a mesma coisa? Não. Mas o passageiro reclama do preço, quando cada um cobra o que quer por não existir um preço fixo”, aponta.
Entretanto, o presidente da Associação de Taxistas da Praia diz que, por vezes, os taxistas cobram um valor alto para determinados bairros, à noite. Mas, conforme justifica, trata-se de um truque para que o passageiro possa desistir do frete por se tratar de um sítio de risco de assalto.
Razão pela qual, prossegue, alguns se recusam a transportar certos passageiros a certas horas. Aliás, Adriano Monteiro garante que no caso de uma discussão sobre o preçário da cidade da Praia, a associação vai abordar essa questão.
“Assim podemos cobrar um valor elevado de madrugada que, em caso de assalto, não perdemos totalmente”, argumenta.
De acordo com este entrevistado, os taxistas também se recusam a deixar os passageiros em determinados sítios, quando estes não são explícitos quanto ao lugar onde querem ir.
“Pedem para ficar num determinado lugar e quando lá chegamos pedem para entrar em lugares com caminhos não apropriados. Então desistimos porque nós também não podemos andar em estradas que danificam e sujam os nossos veículos”, explica.
O decreto-lei de 10 de Junho de 2022, que aprova o Regime Jurídico Geral de Transportes em Veículos Motorizados, indica que a responsabilidade de estabelecer Tarifas de Táxis, compete às Assembleias Municipais, sob proposta das Câmaras Municipais, ouvidos os serviços centrais da Direcção Geral dos Transportes Rodoviários.
A lei determina ainda o uso permanente e obrigatório do taxímetro em todo o território nacional.
Por outro lado, a lei é clara que o taxista pode recusar a entrada nos veículos a pessoas com comportamento suspeito de perigosidade; ou pode ainda recusar os serviços que impliquem a circulação em vias manifestamente intransitáveis pelo difícil acesso.
E em Mindelo...
Fontes do Expresso das Ilhas dão conta que no maior centro urbano da região norte do país, Mindelo, os taxistas passaram a cobrar 1.200 do frete de e para o aeroporto. Entretanto, o preçário da Câmara Municipal estabelece o valor de 1.000 escudos.
O representante da Associação Proprietários de Táxi de Mindelo, Belarmino Lima, confirmou ao Expresso das Ilhas a cobrança de 1.200 escudos, mesmo sem a autorização da edilidade.
O aumento do preço, conforme fundamenta, tem a ver com o aumento dos preços dos combustíveis e verificou-se apenas no trajecto do aeroporto internacional Cesária Évora.
“Estamos à espera que esse novo valor seja aprovado pela edilidade, mas já comunicamos que estamos a cobrar 1.200 escudos. No entanto, há lugares em que ainda estamos a cobrar 150 ou 170 escudos frete”, declara.
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1104 de 25 de Janeiro de 2023.