Os dados mais recentes sobre a incidência do cancro da próstata mostram que o cancro da próstata é aquele que mais afecta a população masculina em Cabo Verde.
Os valores apresentados pela OMS através da GLOBOCAN (base de dados que pertence à OMS e que monitora os dados desta doença) mostram que em Cabo Verde o cancro da próstata é o principal tipo de cancro a atingir a população masculina.
Segundo a mesma fonte, do total de 405 casos de cancro relatados em 2020 (último ano com dados disponíveis) 70 eram casos de cancro da próstata. A GLOBOCAN reporta ainda um total de 40 mortes por 100 mil habitantes provocadas por esta doença o que a torna na quinta maior causa de morte entre os homens em Cabo Verde. A superar o cancro da próstata apenas o do cancro de estômago, fígado, pulmões e esófago.
Para estudar a prevalência desta doença em Cabo Verde a Uni-CV inaugurou, no passado dia 8, o Laboratório de Histopatologia.
Para montar o laboratório a universidade contou com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, de Portugal, e da Fundação La Caixa, de Espanha.
O projecto é de grande interesse regional e nacional, pois permitirá a construção de uma base de dados importante para alcançar objectivos funcionais na investigação biomédica, na selecção terapêutica de doentes com cancro, na identificação de polimorfismos genéticos e na cooperação e comparação de dados com bancos de tumores noutros países PALOP.
Em Cabo Verde, como em outros países africanos, há uma incidência elevada e uma fase avançada da doença no momento do diagnóstico, resultando numa taxa de sobrevivência mais baixa entre os doentes. Há também necessidade de estabelecer um registo mais abrangente da incidência do cancro na população.
Neste contexto, a investigação sobre a incidência e prevalência do cancro, bem como o registo dos casos e a sua evolução, é crucial para a prevenção, tratamento e a adaptação adequada dos diagnósticos.
A Universidade de Cabo Verde acolherá este laboratório de histopatologia, que tem como objectivo detectar a incidência do cancro da próstata em Cabo Verde e Moçambique. Para este fim, serão efectuados estudos biológicos para identificar o subtipo mais comum, a fim de acelerar a detecção e o diagnóstico.
Este projecto inclui também a criação do laboratório digital da incubadora, uma plataforma onde serão publicados dados e informações para apoiar o diagnóstico do cancro da próstata em colaboração com a Faculdade de Medicina da Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique.
A cerimónia de inauguração, que teve lugar a 3 de Fevereiro, contou com a presença do Director da Área Internacional da Fundação “la Caixa”, Princesa Cristina, e do Presidente da Fundação Calouste Gulbenkian, António M. Feijó. “Para nós, este projecto é um bom exemplo da importância das parcerias no campo da saúde global”, disse o director da Área Internacional da Fundação “la Caixa” durante a cerimónia de inauguração.
A aliança entre a Fundação “la Caixa” e a Fundação Calouste Gulbenkian faz parte de um plano estratégico que procura melhorar a qualidade da gestão e coordenação da investigação realizada nos países africanos de língua oficial portuguesa (PALOP).
Como resultado do acordo entre as duas entidades, 46 investigadores e gestores de instituições de investigação públicas ou privadas na área da saúde nos PALOP foram formados. Foram também seleccionados três projectos, centrados nas áreas do microbioma, covid-19 e cancro, e é neste último que se enquadra a inauguração do laboratório. Todos estes projectos, liderados por investigadores de Angola, Cabo Verde e Moçambique, têm uma duração entre dois e três anos.
_____________________________________________________________
Redução de 30% nas evacuações de doentes de cancro
Cabo Verde reduziu em 30% as transferências de doentes oncológicos para o exterior, mas quer realizar investimentos para aumentar ainda mais essa percentagem e reforçar a prevenção e tratamento, disse hoje fonte governamental.
“As respostas ligadas às doenças oncológicas são extremamente técnicas, mas em Cabo Verde, nos últimos dados e informações que temos, conseguimos reduzir em 30% as evacuações para o estrangeiro ligadas às doenças oncológicas”, avançou o secretário de Estado Adjunto da ministra da Saúde, Evandro Monteiro.
Em declarações aos jornalistas no âmbito do Dia Mundial de Luta Contra o Cancro, que se assinalou no sábado, 04 de Fevereiro, o membro do Governo considerou que essa percentagem é um “passo significativo”, mas entendeu que o país não quer ficar por aqui.
Dados oficiais do programa de prevenção e controle das doenças oncológicas indicam que o cancro representa um dos principais motivos de transferência de doentes para Portugal, no âmbito do protocolo de cooperação bilateral, com 109 transferidos em 2019 e 82 em 2020.
Em Cabo Verde, são diagnosticados uma média de 600 novos casos por ano e morrem cerca de 360 pessoas de cancro, representando 60/100.000 habitantes, com as doenças oncológicas a constituírem a terceira causa de morte no país (11%).
Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1106 de 8 de Fevereiro de 2023.