“O balanço é extremamente positivo pelo facto de termos contribuído para salvar as vidas de muitas crianças, especialmente as prematuras, porque no HUAN, que tem os cuidados intensivos para os prematuros, recebem cerca de 99% de leite materno. Então é um ganho muito grande para aquelas crianças”, explicou Fernanda Azancoth, diretora do Serviço de Nutrição e Dietética e do Banco de Leite Humano daquele hospital.
De acordo com a responsável, que falava à Lusa no âmbito do dia da Doação de Leite Humano, que se assinala hoje, aquele banco conseguiu recolher 781 litros de leite materno e 368 litros de leite pasteurizado de janeiro a 2022 a maio de 2023.
“É claro que não deixa de ter desafios. Temos tido, principalmente, o facto de ter enfrentado uma pandemia, em que tivemos uma redução de doação, que é o normal, e era o esperado, mas mesmo assim em todos esses contextos que vivíamos na altura conseguimos dar respostas para todos aqueles bebés que estavam internados no serviço neonatologia”, sublinhou.
A responsável reconheceu que “cada vez” há mais mães disponíveis para essa doação, embora o objetivo seja crescer nas doações.
Este primeiro Banco de Leite Humano de Cabo Verde foi inaugurado no hospital da Praia em 01 de agosto de 2011, no âmbito do projeto apoiado pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Ministério da Saúde do Brasil e da Fiocruz.
“Normalmente trabalhámos com três tipos de doadoras. Com doadoras de mães de bebés que estão internadas no neonatologia, que chamamos de doação exclusiva, ou seja, mãe que tira diretamente pelo seu bebé. Temos doadoras eventuais, que são algumas mães que não estão no alojamento conjunto depois de terem bebé, e temos doadoras domiciliares, as que estão em casa com os seus bebés a alimentar bem e fazem doação para o banco e fazemos a recolha”, explicou ainda.
Em 01 de setembro de 2022 foi inaugurado no Hospital Baptista de Sousa (HBS), Mindelo, ilha de São Vicente, o segundo Banco de Leite Humano, resultado da cooperação com o Brasil, esperando continuar a reduzir a mortalidade infantil e melhorar cuidados aos recém-nascidos.
O Ministério da Saúde de Cabo Verde traçou a meta de antes de 2025 o país alcançar a taxa de 50% de aleitamento materno, contra os atuais 42%, e chegar a 70% até 2030.
O Banco de Leite Humano do HBS resultou da cooperação técnica entre o Governo de Cabo Verde, Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Governo do Brasil, no âmbito do acordo assinado em 2008.
“O balanço é bastante positivo, visto que mais de 90% das mães saem amamentando da unidade do HBS (…) Temos tido uma boa adesão das mães que fazem as doações, tanto a nível hospitalar como no domicílio. O Banco de Leite foi abraçado pelos profissionais do hospital de uma forma muito positiva”, destacou à Lusa Daisy Chantre, nutricionista do hospital, o segundo maior do país.
“Sabemos que o Banco de Leite é recente, então estamos a trabalhar para a sua divulgação, os propósitos, o que faz. Digamos uma sensibilização do público em geral, no sentido de conhecer que nós temos o Banco de Leite no hospital para que as doações possam decorrer da melhor forma e aumentar”, reconheceu.
Segundo dados anteriores da administração do HUAN, o serviço na Praia fez cerca de 32 mil atendimentos e recolheu 3.960 litros de leite materno nos primeiros 10 anos de funcionamento.
O número de crianças beneficiadas pela unidade foi de 48 em 2011, tendo aumentado para 460 em 2019, descendo para 363 no ano seguinte. O número de doadores em 2011 era 82 e passou para 414 em 2019 e no ano 2020 representou mais de 260.
Segundo dados do Ministério da Saúde de Cabo Verde, após a implementação do Banco de Leite Humano na Praia registou-se uma “diminuição considerável” da taxa de mortalidade infantil no serviço de neonatologia do hospital da capital, que era 10,1% em 2010 e passando para 6,4% já depois do seu funcionamento.