Profissionais ligados à infância dizem que evolução da tecnologia configura novos desafios

PorEdisângela Tavares,2 jun 2023 11:06

Ontem, 1 de Junho, comemorou-se o Dia Mundial da Criança, uma data que destaca a importância da promoção e protecção infantil e reforça o compromisso global em criar um mundo melhor para as próximas gerações.

A psicóloga clínica Zaida Freitas, explica que as mudanças, as transformações sociais, o desenvolvimento tecnológico, são muito importantes, mas ao mesmo tempo acarretam desafios para as famílias. As tecnologias e a evolução da internet, de acordo com esta profissional, abriram portas para novos desafios. Os pais têm um papel essencial na criação de um ambiente propício para o desenvolvimento saudável das crianças, com supervisão e impondo limites para uma maior segurança das crianças.

“Hoje não conseguimos conceber o mundo sem a internet, estamos todos conectados e o acesso à informação está nas nossas mãos. No entanto, o uso excessivo e compulsivo das tecnologias constitui um grande desafio. Pode levar à dependência tecnológica, com consequências negativas para o bem-estar social e emocional da criança e do adolescente e ainda comprometer o seu desempenho escolar”.

“Situações desde a exposição a conteúdos inadequados, como a violência, a pornografia, incitação ao ódio, as redes de pedofilia, à linguagem desadequada, comprometem o bem-estar e o desenvolvimento da criança e do adolescente. A partilha de informações pessoais online, como o nome completo, a morada, o endereço da escola é um risco que põe em causa a segurança de toda a família”, reforça a psicóloga ouvida pelo Expresso das Ilhas.

Zaida Freitas sublinha que actualmente se observa que as crianças estão a passar por um desenvolvimento cognitivo, emocional e social de forma mais consistente e que isso pode ser atribuído, em parte, à influência das redes sociais, que muitas vezes contribuem para um amadurecimento mais precoce. No entanto, é fundamental que os pais desempenhem um papel activo no acompanhamento e na educação de seus filhos, assumindo uma responsabilidade total pelo seu bem-estar.

“É frequente a ocorrência de situações de cyberbullying com consequências negativas na saúde mental das crianças e dos adolescentes. A comparação com os outros pode comprometer a identidade e a auto-estima ainda em construção. A exposição a imagens idealizadas, a pressão social e a falta de privacidade online podem contribuir para problemas de saúde mental e por vezes a situação complica-se e torna-se necessário procurar apoio de um profissional de saúde mental. Cabe à família e à escola, a responsabilidade de educar as crianças e os adolescentes sobre os perigos e orientá-los a tomar decisões seguras e responsáveis ao navegar na internet”.

Zaida Freitas destaca que os pais têm um papel fundamental na criação de um ambiente familiar estável, com suporte afectivo, valores e incentivo ao processo de aprendizagem.

“Os pais são os modelos de comportamento que os filhos observam e imitam, influenciando a sua forma de agir e interagir com o mundo. Por essa razão, os pais devem procurar ser um exemplo positivo no uso das redes sociais, devem procurar um equilíbrio saudável entre o uso das redes sociais e a interacção com a família. O uso excessivo das redes sociais na família pode ser um desafio à comunicação, pois muitas vezes leva à falta de interacção e compromete as relações familiares saudáveis”.

Construir uma base emocional sólida

A possibilidade de crescer num ambiente seguro, de afecto, de atenção e de diálogo ajuda a construir uma base emocional sólida, promove a auto-estima, confiança e segurança emocional, promovendo assim um desenvolvimento harmonioso das crianças e adolescentes.

Por seu turno, o sociólogo Henrique Varela, explicou que a educação infantil é um momento importante para que o indivíduo aprenda a se relacionar e viver em sociedade, desenvolvendo habilidades fundamentais à formação humana, além das capacidades cognitivas e motoras.

A protecção à infância inclui todas as práticas de cuidado quotidiano e educação, inclusive com aquelas crianças que vivem uma infância normal, que não estão socialmente vulneráveis, nem estão desprotegidas, por exemplo, socialmente.

“Deve-se assegurar a integridade física, psicológica e moral envolvendo a protecção da saúde física e mental dos pequenos, bem como a garantia de um desenvolvimento pleno. Neste sentido, as crianças devem ter acesso a uma alimentação saudável e praticar actividades físicas para que o corpo e a mente estejam sempre saudáveis. Uma primeira instância com cuidados, amor, estímulo e interacção pavimenta o caminho para que a criança aproveite todo o seu potencial. Nasce um adulto mais saudável e equilibrado e floresce uma sociedade com os mesmos valores”.

Segundo este sociólogo, as experiências da infância permanecem no adulto. O desenvolvimento afectivo, social e físico das crianças nos primeiros anos de vida tem impacto directo no seu desenvolvimento e no adulto que se tornarão. Por isso, a importância de entender bem a necessidade de investir nas crianças para maximizar o seu futuro bem-estar.

Henrique Varela sublinha que as primeiras experiências das crianças e adolescentes, ou seja, os vínculos que elas criam com seus pais, responsáveis e adultos próximos nas suas primeiras aprendizagens, afectam directamente o seu desenvolvimento físico, cognitivo, emocional e social.

A família tem um papel fundamental na protecção das crianças e adolescentes enquanto pessoas em situação peculiar de desenvolvimento, porque é no seio desse agrupamento humano que elas passam a se reconhecer como sujeitos de direitos e destinatários da doutrina da protecção integral. A infância só acontece uma vez na vida, por isso devemos carimbar nela uma recordação positiva e saudável.

O lazer e o tempo livre, também desempenham um papel importante no desenvolvimento das crianças. Elas precisam de oportunidades para brincar, explorar e interagir com outras crianças. Cabo Verde deve investir na criação de espaços seguros e adequados para o lazer infantil, como parques, áreas de recreação e actividades extracurriculares.

“Promover uma cultura de cuidado é essencial para garantir que a infância seja uma fase positiva e saudável na vida das crianças. Isso envolve a participação activa da sociedade, organizações não governamentais e comunidades locais, além do compromisso dos pais. O diálogo aberto, a orientação e o suporte são fundamentais para que as crianças se sintam protegidas e valorizadas. É ainda primordial a supervisão nas interacções na internet, o online pode expor a criança ou o adolescente a situações com consequências irreparáveis”, destaca o Henrique Varela.

Este sociólogo defende que se deve concentrar esforços na criação de políticas e programas que promovam a protecção dos direitos das crianças em todo o país. Isso envolve a implementação de leis e regulamentos que garantam seu bem-estar, além do controle de monitoramento e fiscalização para garantir o cumprimento dessas medidas.

Instituído a 01 de Junho de 1950 pela Organização das Nações Unidas (ONU), a pedido da Federação Democrática Internacional das Mulheres, o Dia Mundial da Criança tem como objectivo assinalar que toda a criança deverá ter os seus direitos reconhecidos, independentemente do sexo, raça ou crença. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1122 de 31 de Maio de 2023.

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Autoria:Edisângela Tavares,2 jun 2023 11:06

Editado porAndre Amaral  em  3 jun 2023 8:37

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