Em entrevista à Rádio Morabeza, a propósito do Dia Mundial da Consciencialização sobre o Abuso de Idosos, a responsável fala de situações concretas que vão ao encontro dos dados das Nações Unidas que apontam que pelo menos uma em cada seis pessoas maiores de 60 anos sofreu algum tipo de abuso em ambientes comunitários no ano passado.
“Abuso sexual, por exemplo, e de homens. Homens a abusarem sexualmente de homens. Nós temos aqui exemplos de pessoas que estão na rua e são abusadas. E nós já fizemos essa denúncia de homens e mulheres que são abusados sexualmente e fisicamente. E nós, como instituição, não estamos voltados para isso. A nossa área é alimentação, higiene e protecção. E quando é assim nós não conseguimos provar. Mas chegam aqui relatos e nós ficamos de mãos e pés atados”, aponta.
Quanto à situação de abandono familiar, Luísa Helena Neves diz que é preocupante. Acredita que o número de idosos nessa condição ultrapassa os 150. A responsável defende a responsabilização das famílias porque “se a situação prevalecer, não há instituição que consiga dar resposta”.
“É um pouco preocupante, tendo em conta que os idosos passaram a ser descartados das famílias por razões várias. Quando vamos ver o histórico de muitos idosos a deambular um dia inteiro pelas ruas não são pessoas que estão na rua porque não têm família. Estão na rua porque deixaram de se sentir importantes dentro da sua família, de fazer parte daquele elenco familiar. São pessoas que perderam a auto-estima e os familiares que deviam resgatar isso não estão minimamente preocupados. E acabam por encontrar grupos na rua com as mesmas preocupações e princípios e começa-se a criar este grupo grande que nós temos em São Vicente de idosos e deficientes que estão na rua não por não terem uma família mas por e simplesmente por não estarem a sentir parte integrante da sua família”, refere.
Por considerar que o foco do problema está dentro de casa, Luísa Helena Neves defende a adopção de outras políticas que visam a responsabilização das famílias relativamente aos seus entes queridos.
“Eu acho que passa principalmente pela criminalização daqueles que realmente podem e devem fazer e não fazem. Eu não posso ser alguém que consiga cuidar do meu pai e da minha mãe e deixá-los deambular para instituições tomar conta. É uma moda que está a ganhar rebento em São Vicente. Cuidar é a palavra de ordem. Às instituições que fazem valer as leis que temos para que cada um possa assumir as suas responsabilidades”, defende.
A associação “Aos que Sobrevivem”, proprietária da Casa da Sopa “Naco de Pão”, ajuda directamente 70 idosos com pequeno-almoço e almoço e 30 de forma indirecta através de cestas básicas mensais.
A entrevista na íntegra pode ser ouvida na próxima edição do Panorama 3.0 da Rádio Morabeza, que vai para o ar às 19 horas desta sexta-feira.