“Desde a independência, Cabo Verde cometeu alguns erros em relação ao programa do sistema de saúde”, avaliou o médico, em entrevista à agência Lusa, embora reconhecendo que em termos práticos o país obteve sucessos, graças à resiliência do povo.
“Mas um médico recebe pouco dinheiro, não tem tempo para se dedicar à família, à educação dos filhos e está nos hospitais às vezes quase durante 24 horas. E nem sequer está a pressionar, a sair à rua para fazer greves”, descreveu, lembrando que nunca houve uma greve de médicos com grande relevância no país.
“Sempre houve queixas da parte dos médicos. Mas, sabendo que é um povo resiliente, com pouco faz muita coisa”, argumentou, constatando que em Cabo Verde nunca houve um plano de formação contínua de médicos.
“Sou especialista na área de cirurgia porque escolhi cirurgia por amor a essa área, mas não foi uma orientação política do sistema”, lamentou o bastonário, reconhecendo que já foram feitos alguns planos no sector, mas nunca houve continuidade por parte dos sucessivos governos.
“Daqui a pouco vamos completar os 50 anos de independência, devíamos já hoje ter todos os especialistas em todas as áreas, com vários hospitais regionais e a contar com os nossos especialistas cabo-verdianos”, sublinhou Danielson da Veiga, para quem há uma “fome de formação” em Cabo Verde.
Por isso, sugeriu uma aposta naqueles que não têm condições financeiras para poderem estudar e a criação de um fundo para a formação no país.
“A população pode achar que o médico não o tratou bem, sabendo que esse médico já estava a trabalhar 24 horas por dia, no seu ponto máximo”, afirmou, pedindo, por isso, “muita mudança” e um “maior envolvimento” entre políticos e técnicos de todas as áreas.
Segundo informação na página oficial da OMCV na internet, a ordem conta com 723 médicos inscritos e 60 estruturas de saúde.
Há dois anos, a Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) colocou no mercado os primeiros 17 médicos formados no país, numa parceria com a Universidade de Coimbra.
O Governo tem ainda em curso o projecto do Hospital Nacional de Cabo Verde (HNCV), que deverá ser construído na zona de Achada Limpo, com capacidade máxima de 134 camas, sendo 12 para cuidados intensivos.
Orçado em 7,2 mil milhões de escudos (65 milhões de euros), com previsão de conclusão - apesar de a obra ainda não ter sido lançada - dentro de quatro anos, a unidade tem por objectivo melhorar o nível de cuidados de saúde e reduzir os tratamentos no estrangeiro.
Segundo o Governo, a futura infraestrutura de saúde não vai substituir os dois hospitais centrais públicos do país – Agostinho Neto, na Praia, e Baptista de Sousa, em São Vicente –, mas sim complementar a oferta disponível e maximizar os recursos.