"No nosso estudo, na ilha Brava, descobrimos que a fluorose dentária afecta todas as crianças avaliadas, com uma prevalência surpreendente de 100%", e metade são casos severos referiu Ednilson Delgado, mestre em saúde pública da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Cabo Verde.
A água de nascente usada para abastecimento público na ilha apresenta níveis de flúor que atingem cerca de 6,5 miligramas por litro (mg/l), indicou o investigador, com base em análises.
O valor ultrapassa os limites estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pela legislação cabo-verdiana, facto que tem sido discutido publicamente há vários anos, levando inclusivamente à instalação de máquinas de tratamento.
O estudo agora divulgado avalia as consequências em crianças de 12 anos, idade considerada relevante, em termos médicos, para este tipo de estudo dentário.
A fluorose manifesta-se através de manchas visíveis nos dentes, podendo chegar ao ponto de corroer a estrutura dentária, deixando-a comprometida na idade adulta.
Ednilson Delgado referiu que se trata de "um problema de saúde pública", com "implicações profundas" na autoestima das crianças, na sua capacidade de mastigação e na interação.
A título de exemplo, apontou que algumas sentem-se inseguras ao sorrir ou têm dificuldades para comer.
"Para além dos problemas dentários, a exposição exagerada ao flúor pode ter repercussões nos ossos, originando fluorose esquelética que os deixa mais propensos a fraturas. Pode igualmente afetar a tiroide e os rins, comprometendo as suas funções vitais", concluiu, indicando a importância de vigiar a exposição ao flúor na Brava.
Cerca de 5.500 pessoas vivem na ilha, situada a sul do arquipélago.
A Lusa tentou obter esclarecimentos junto da empresa intermunicipal de águas, Águabrava, mas não obteve resposta.