Mulheres que desafiam normas e conquistam espaço

PorEdisângela Tavares,8 mar 2024 11:48

No mês dedicado à celebração e reconhecimento das conquistas femininas, o Expresso das Ilhas recolheu trajectórias inspiradoras de mulheres que desafiam estereótipos e moldam o cenário da igualdade de género em sectores muitas vezes considerados atípicos para o feminino. Nesta reportagem, destacamos histórias marcantes de mulheres que conquistaram seus lugares no mercado de trabalho.

Instrutora de escola de condução

Aldina Tavares, instrutora de condução com mais de 23 anos de experiência, compartilhou sua jornada inspiradora e desafiadora no sector automóvel. Aldina, cujo pai era instrutor e proprietário de uma escola de condução, ingressou no mundo automotivo como secretária-geral.

“No início, eu corrigia testes dos alunos. Com 18 anos, obtive minha carta de condução e, posteriormente, as categorias de mecânica e pesados. Meu pai deu-se conta da minha habilidade e começou a me encorajar a ministrar aulas práticas, pois nessa altura não tinha formação específica para ser instrutora. Na minha primeira aula confesso que me senti um pouco insegura, mas com o tempo tornou-se natural transmitir aos alunos os nossos conhecimentos.”

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Com mais de duas décadas de dedicação ao ensino de condução, Aldina aconselha a todas as mulheres a liderarem em qualquer área. “Mulher no volante, dominando o veículo ou em qualquer vertente é sempre inspiradora. A instrução exige muita paciência, mas é um ofício gratificante.”

Aldina Tavares, uma das pioneiras no ensino prático de condução em Cabo Verde, destaca-se como um exemplo notável, desbravando caminhos no sector automotiva e encorajando mulheres a assumirem papéis de liderança, inspirando e moldando o cenário da igualdade de género em todos os sectores.

Mecânica

Ainda no sector automotivo, abordamos Ângela Veiga, mecânica de profissão e proprietária da oficina “Mecangila” em Santa Catarina de Santiago: ela é um exemplo de empreendedorismo e resiliência. Desde a infância, Ângela nutria uma paixão pela mecânica, desafiando as normas de género ao demonstrar interesse em áreas historicamente dominadas por homens. Ângela superou estereótipos ao abrir a sua própria oficina, tornando-se um símbolo de inspiração para outras mulheres que aspiram empreender em sectores predominantemente masculinos.

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“Sempre tive essa paixão pela mecânica. Desde pequena tenho interesse por peças e coisas que são vistas como algo masculino. Eu, como mulher na mecânica, admito que os desafios são grandes, e há coisas que não vamos ter tanta força para fazer como os homens, mas com o tempo procurei conhecer e, por ter curiosidade de aprender, sempre tive muito apoio. Durante a minha formação, não tive problemas com preconceito por ser mulher numa área tão masculina. Isso aconteceu depois que abri a minha oficina de mecânica. Posso dizer que não tive grandes problemas; sempre tive muito apoio. A maioria dos meus clientes são pessoas que sempre me incentivaram e me ajudaram bastante”.

Manutenção industrial

Em conversa com Ana Mendes podemos conhecer a sua determinação em desafiar normas de género. Técnica de manutenção na empresa Cavibel, com foco em cerelharias e mecânica, Ana actua num ambiente de trabalho predominantemente masculino, onde realiza soldagens, trabalha na tubulação e protecção de equipamentos.

“O mais fascinante é que dentro da Cavibel somos todos profissionais, independentemente do género – somos uma equipa onde a igualdade reina. Aqui, somos todos trabalhadores incansáveis, sem distinção de género. Não busco tratamento diferenciado por ser mulher. Quando se trata de colocar a mão na massa, todos nós somos iguais, e, diante de tarefas desafiadoras, não hesito em pedir ajuda. A minha mensagem para as mulheres é clara: não desistam. Sempre acreditei que trabalho de escritório não era para mim; minha paixão é ser activa, fazendo as coisas acontecerem”.

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Ana conta que, ao soldar, por exemplo, algumas pessoas ficam impressionadas ao ver uma mulher executando tal tarefa. No entanto, ela encara esses momentos como desafios a serem superados.

“Como mulher, estou aqui para provar que podemos não só estar, mas também prosperar em qualquer área de trabalho que desejarmos. Vamos continuar quebrando barreiras e demonstrando nossa competência em todos os campos.”

Electricidade

Ana Paula Sousa, que é técnica do departamento de electricidade na empresa Cavibel, destaca-se pela sua actuação abrangente em tarefas que vão desde manutenção eléctrica à mecânica pesada. Ana Paula sublinha a sua busca pela excelência, resiliência e superação de estereótipos, provando que as mulheres têm o poder não apenas de acompanhar, mas de se destacarem em campos historicamente dominados por homens.

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“Como mulher na manutenção industrial e mecânica, enfrentei desafios marcados por discriminação e rótulos de fragilidade. No entanto, destaco-me e sinto-me especial e mais capacitada, encontrando na adrenalina do trabalho a motivação para superar os obstáculos. Inicialmente subestimada, provei minha competência com determinação, conquistando respeito e suporte dos colegas. Actualmente, executo minhas tarefas sem receio, sendo um exemplo de que as mulheres podem se destacar em ambientes predominantimente masculinos com excelência e dedicação”.

Supervisora de produção

Soélia Rocha, supervisora de produção de cerveja, na empresa Cavibel, partilhou as suas experiências únicas ao liderar uma equipa 100% masculina. Na liderança de uma equipa de produção industrial, Soélia garante que sob seu comando a equipa busca pela excelência e está sempre a se aprimorar.

“Apesar de trabalhar numa equipa masculina, sinto-me valorizada e incluída pelos meus colegas. Tive de enfrentar desafios diários que testaram a minha firmeza. Foi necessário adaptar-me tanto ao ambiente quanto às pessoas. Lidar com uma equipa formada exclusivamente por homens requer a construção de relacionamentos onde não se transmite a sensação de uma mulher dando ordens. No início, enfrentei preconceitos devido ao meu papel como líder, mas a política inclusiva da empresa ajudou muito”, explica Soélia.

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Soélia Rocha conta que enfrentou questionamentos sobre a distribuição de tarefas, enquanto mulher e de estrutura física menos robusta.

“Já me questionaram se eu, sendo uma mulher pequena, entendia alguma coisa de cerveja. Com o tempo, mostrei que, apesar de ser mulher e pequena, tenho entendimento no que faço, estudei para isso e trouxe inovações com a minha formação académica. Hoje em dia, sou bastante protegida e apoiada pela minha equipa”, partilha Soélia Rocha.

Soélia destaca o seu papel em formar uma equipa forte e inclusiva, capaz de receber qualquer profissional e tratá-lo de forma igualitária. Com cinco anos na empresa, ela não só se destaca por liderar uma equipa masculina, mas também por construir um ambiente de trabalho respeitoso e igualitário. Soélia Rocha é uma inspiração para mulheres que buscam liderar e prosperar em sectores tradicionalmente dominados por homens.

Manobrista de máquinas

Sónia Fidalgo partilha a sua paixão duradoura pela profissão, mesmo sendo uma área que muitas vezes é vista como menos feminina. Como manobrista de máquinas, Sónia relata que nunca enfrentou preconceitos ao longo do seu percurso profissional.

Defensora fervorosa da igualdade de oportunidades no mercado de trabalho, Sónia sublinha que a jornada em direcção à excelência profissional pode ser árdua, mas é, sem dúvida, uma trajetória altamente gratificante.

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“Acredito firmemente que, antes de rotularmos um trabalho como adequado para homens ou mulheres, devemos questionar a capacidade individual. Tanto homens quanto mulheres têm capacidade de desempenhar qualquer tarefa, sempre que haja determinação e vontade de executar. Trabalho numa equipa mista, mas não tive problemas com preconceito, muito pelo contrário, sou tratada por igual como qualquer outro profissional”, destacou.

Operadora de máquinas industriais

Ainda sobre mulheres pioneiras, conhecemos a trajectória profissional de Janine Ramos. Técnica em eletromecânica e manutenção industrial, que opera na produção industrial na Cavibel, Janine é a primeira mulher a ocupar essa posição na empresa Cavibel.

Face ao protagonismo na sua área, Janine assegura que está em constante busca pela excelência, aprimorando suas habilidades profissionais. Afirma sentir-se orgulhosa do reconhecimento que recebe por parte dos colegas. Mesmo trabalhando numa equipe predominantemente masculina, a operadora de produção industrial diz-se grata por não enfrentar discriminação.

“Penso que as mulheres em posição de destaque na indústria são essenciais para promover a diversidade e a igualdade de género. Quando mulheres ocupam cargos de liderança e demonstram excelência nas suas áreas, elas não só quebram estereótipos, mas também inspiram outras mulheres a seguir seus sonhos e buscar carreiras em campos tradicionalmente dominados por homens. É crucial que haja mais oportunidades e apoio às mulheres em todos os níveis da indústria, para que possamos continuar avançando rumo a uma sociedade mais equitativa e inclusiva.”

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É evidente que as mulheres em profissões atípicas desafiam não só os estereótipos de género, mas também contribuem de forma significativa para o progresso e a diversidade nos seus respectivos campos. Suas histórias de determinação, resiliência e sucesso servem como fonte de inspiração para todas as mulheres que aspiram seguir carreiras não convencionais. No entanto, é crucial reconhecer que ainda há muito trabalho a ser feito para garantir que todas as mulheres tenham igualdade de oportunidades no mercado de trabalho. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1162 de 6 de Março de 2024.

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Autoria:Edisângela Tavares,8 mar 2024 11:48

Editado porAndre Amaral  em  9 mar 2024 16:26

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