Em declarações à Rádio Morabeza, o presidente da Associação Ambientalista Biosfera 1, Tommy Mello, diz que a situação actual coloca em risco a biodiversidade pela qual a área foi designada área protegida.
“Neste momento, talvez, aquilo que mais podemos dizer que pode afectar as áreas protegidas é a não existência de instrumentos de gestão. Portanto, elas estão classificadas, mas ainda não existem instrumentos de gestão. Isso faz com que as pessoas continuem a usufruir da exploração dos seus recursos de qualquer forma, o que coloca em risco aquela biodiversidade pela qual a área foi designada uma área protegida. E, obviamente, quando se fala disso é financiamento. Todas as medidas de gestão vão requerer uma equipa técnica, fiscalização e, portanto, vão requerer algum financiamento que, neste momento, ainda é parque em Cabo Verde”, aponta.
O biólogo considera que uma das formas de se ultrapassar essas dificuldades seja a aposta em medidas de co-gestão, com o envolvimento das comunidades próximas dessas áreas protegidas e dos utilizadores. Também defende a implementação de actividades de ecoturismo bem regulamentadas, que gerem lucros que depois possam ser investidos na gestão das mesmas áreas.
“Pensamos que é uma medida que poderá ser uma solução para a problemática do financiamento da gestão das áreas protegidas e mesmo da ajuda para que a gestão seja partilhada, as responsabilidades sejam partilhadas e não fiquem apenas nas costas das autoridades e nas costas do Estado”, entende.
Ana Veiga, directora executiva da ONG Lantuna, também reclama uma gestão eficiente das áreas protegidas. A responsável defende um modelo de gestão que seja compatível com a realidade do país, que traga benefícios em termos administrativos e de conservação dos recursos.
“Eu penso que o governo deve ter um forte peso na gestão das áreas protegidas. Trata-se do património nacional e também é um dever do Estado de Cabo Verde conservar essas áreas. No entanto, há casos, devido sermos um arquipélago, que também dificulta a gestão e já há ONGs que conseguem mobilizar mais facilmente recursos e poderão proporcionar uma melhor gestão dessas áreas”, refere.
“Penso que Cabo Verde deverá tentar ou experimentar a co-gestão de algumas áreas e ver se esse mecanismo é eficiente ou não e ter algumas, talvez as que têm o estatuto de protecção mais elevado, como as reservas integrais, serem geridas diretamente pela Autoridade Nacional", sugere.
Ana Veiga aponta o investimento para apoiar as ações de pesquisa, por forma a melhorar o conhecimento das áreas protegidas, como outro desafio.
A gestão das áreas protegidas é uma atribuição do Governo. O órgão responsável pela gestão é o Ministério da Agricultura e Ambiente, através da Direcção Nacional do Ambiente. Veiga diz que existem estudos em curso para se analisar qual a melhor forma de gerir essas áreas.
Das 47 áreas protegidas existentes no país, apenas uma é exclusivamente marinha. 21 são mistas, ou seja, são marinhas com componente terrestre. 25 são terrestres.