Norton de Matos indica que o principal constrangimento foi resolvido, com a publicação em Boletim Oficial da lei de doação, colheita e transplante de órgãos.
“Eu rezo para que seja ainda este ano. Temos muitas vantagens com a população cabo-verdiana, os doentes em diálise são muito jovens, de famílias grandes e há uma solidariedade familiar notável, onde os irmãos estão dispostos a doar um rim e isso é notável e, portanto, é só fazer, como deve ser, a colheita e o transplante do doador vivo entre irmãos. Portanto, é nisso que temos de trabalhar. Faltava-nos a legislação, agora temos de fazer as partes técnicas, porque tudo o resto está feito”, afirma.
António Norton de Matos, que viaja a Cabo Verde desde 2015, para missões nos centros de diálise, afirma que as questões técnicas mais especializadas também devem ser asseguradas com a cooperação Portuguesa.
“As maiores dificuldades que temos são as mais baratas, embora as mais especializadas são as que são impossíveis de estabelecer em Cabo Verde. Uma delas é a tipagem, ou seja, a compatibilização entre o dador e o receptor, que tem que ser estudado num laboratório muito especializado, e vamos andar para a frente com isso, desde que tenhamos o apoio português para as análises de tipagem de compatibilização, que são fundamentais. E eu espero que isso não demore”, explica.
A Lei para a Regulamentação de Transplantes de Órgãos em Cabo Verde foi publicada no Boletim Oficial esta quinta-feira. A legislação estabelece o regime jurídico relacionado à qualidade e segurança na doação e colheita de órgãos, tecidos e células de origem humana, destinados a diagnóstico, terapia ou transplante, bem como as próprias intervenções de transplante.
Além do impacto financeiro no Sistema Nacional de Saúde, o médico destaca a melhoria da qualidade de vida dos doentes transplantados.
“E felizmente, quando um doente é transplantado, com os imunossupressores, os medicamentos e as consultas, gasta metade do dinheiro do que gastaria se estivesse em diálise. Além de que passa a ter vida, que antes não tinha. Melhora o tempo de esperança de vida e melhora a morbilidade. E nós temos muita experiência disto. Eu costumo lembrar sempre que o Presidente da Câmara do Porto, o Dr. Rui Moreira, foi transplantado em 1981 com o rim do irmão e continua saudável”, afirma.
Norton de Matos define a criação e implementação do diploma legal para a realização de transplantes representa “um marco histórico para a saúde” em Cabo Verde e vai permitir ao país responder de forma adequada às necessidades dos doentes renais.