Investigador brasileiro alerta para a necessidade de uma política nacional de protecção dos pescadores artesanais

PorLourdes Fortes, Rádio Morabeza,14 out 2024 15:22

O investigador brasileiro, João Paulo Araújo Silva, alerta para a necessidade de uma política nacional de protecção dos pescadores artesanais.

Em entrevista à rádio Morabeza, João Paulo Silva, que desde 2015 realiza pesquisas etnográficas junto aos pescadores artesanais de Cabo Verde, considera que há sobreposição de interesses internacionais sobre este tipo de pesca, que resulta num cenário de disputa pelo peixe.

“Na verdade, o que o cenário configura é um cenário de disputa pelo peixe, que tem na base da sociedade camponesa a representação dos pescadores, que tenta convencer a sociedade caboverdiana de que é preciso rever as prioridades em relação a essa exportação, porque a situação actual da pesca é complicada. Não há uma política nacional de protecção dos pescadores artesanais, digo uma política efectiva, porque há leis. Há um outro problema, de uma outra dimensão, que eu consegui observar bastante em Tarrafal, que é a turistificação das praias e a consequente perda de espaços tradicionais dos pescadores nessas áreas”, refere.

Os pescadores artesanais têm alertado frequentemente para a redução de peixes nas zonas costeiras do país. Para o especialista, a falta de peixe, juntamente com alegadas disputas, ganhou uma dimensão grave.

“O pescador ensina uma coisa, se cá tem cavala, cá tem atum. Uma coisa influencia a outra. O peixe grande sai do canal para vir para a beirada, para vir para os pesqueiros mais próximos, em função da comida. O peixe emigra por causa da comida. Se você acaba com os peixes em torno da ilha, o atum não se aproxima mais. É por isso que os pescadores têm que ir mais longe, porque eles têm que ir onde o atum está indo para comer. Além disso, tem um cerco do atum fora pelos navios com alta tecnologia”, afirma.

“Os grandes [navios industriais] pegam lá fora e acabam com o peixe. A gente vem pra dentro e pega onde os pescadores artesanais têm que pegar, porque um barco de pesca industrial gasta 300 mil escudos para sair da praia. Então é um efeito cascata. Eu acho que a questão do peixe em Cabo Verde, nesse momento, é uma questão política grave”, acrescenta.

O investigador brasileiro afirma que a questão não pode ser analisada apenas do ponto de vista das mudanças climáticas. É preciso ter em conta a existência de uma pesca sem qualquer controlo.

“E há uma controvérsia, de facto, em relação a isso, porque a atitude do governo actualmente é de discutir a diminuição do peixe a partir da perspectiva das mudanças climáticas. Há uma influência, não é possível negar que as mudanças climáticas estejam influenciando a diminuição do pescado, porque as mudanças climáticas são um evento de ordem global, mas não é possível, com base na antropologia da pesca e na antropologia marítima, negligenciar o facto de que em qualquer lugar onde houve pesca industrial, o peixe diminuiu. Aconteceu com o Senegal. E há um problema grave em toda a costa oeste africana em função da pesca asiática e europeia nesses mares. Além desses acordos, tem a pesca pirata, e há uma dificuldade do país em controlar o mar, que é vasto”, indica.

João Paulo Araújo Silva destaca a necessidade de monitorização da pesca artesanal, mas também industrial, para que se possa analisar o impacto das capturas e disponibilização de dados para conhecimento geral e produção de estudos, por especialistas.

O investigador pede atenção urgente das autoridades às questões que têm que ver com a sustentabilidade do sector, bem como a aplicação de medidas que reforcem o papel dos pescadores artesanais na estrutura social nacional.

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Autoria:Lourdes Fortes, Rádio Morabeza,14 out 2024 15:22

Editado porAndre Amaral  em  15 out 2024 9:37

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