Em declarações aos jornalistas, o ministro das Comunidades e ministro do Mar, Jorge Santos, destacou a relevância da iniciativa privada para a integração económica, social e cultural da sub-região. Segundo o governante, a abertura da linha é “um sonho de longa data que finalmente se concretiza”.
“Estamos aqui a inaugurar, a fazer história com essa primeira linha regular. Este projecto é fruto de uma parceria entre a Alkebulan Comimex, liderada pelos cabo-verdianos Verónica Reis e Joaquim, e a Coçamaca, um consórcio de transporte marítimo senegalês já actuante na região. O M/V Djilor, com capacidade para 100 toneladas e 100 metros de comprimento, vai operar regularmente na rota Dakar-Praia-Banjul-Dakar-Praia, promovendo não apenas o transporte de carga, mas também a exportação cabo-verdiana”, afirmou.
Na primeira viagem do navio, Cabo Verde recebeu um carregamento de cimento vindo do Senegal, enquanto será exportado basalto tratado em forma de brita. O governante reforçou o potencial da linha para diversificar as exportações cabo-verdianas, que incluem produtos transformados da pesca, como os da Frescomar e Sucla, e, futuramente, cimento pozzolano produzido em Santo Antão.
“Este é um passo gigante para a livre circulação de pessoas e mercadorias no âmbito da CEDEAO. O volume de comércio entre Cabo Verde e a sub-região é actualmente de apenas 1,72% das importações do país, mas iniciativas como esta têm o potencial de alterar significativamente esse cenário”.
Jorge Santos destacou ainda o carácter privado do projecto, que conta com o suporte dos governos de Cabo Verde, Senegal e Gâmbia, e segundo o governante, a Diáspora empresarial desempenha um papel crucial ao liderar iniciativas que agregam valor às relações regionais.
“O Governo de Cabo Verde oferece todo o suporte necessário para garantir o sucesso deste empreendimento. Queremos ver mais projectos como este a contribuir para o fortalecimento das relações económicas e culturais com os nossos vizinhos”,
Por sua vez, o embaixador do Senegal em Cabo Verde, Ely Sy Beye, destacou a importância da ligação marítima para fortalecer as relações comerciais entre os dois países e a sub-região oeste-africana.
“Hoje, essa ligação é uma realidade. Então, é ganho a ganho. O objectivo é fazer um transporte de pessoas e de mercadorias. Estamos certos de que os cabo-verdianos no Senegal, que são uma comunidade extremamente importante, poderão utilizar o barco, assim como os senegaleses que vivem em Cabo Verde”.
O embaixador também destacou o potencial turístico da linha, mencionando que ela poderá incluir pacotes que conectem os litorais dos dois países. Ely Sy Beye reforçou ainda o caráter inovador do projecto, elogiando a determinação da empresária cabo-verdiana Veronique Reis, que lidera a iniciativa.
“Estamos certos de que isso vai beneficiar não apenas os negócios, mas também o turismo entre Cabo Verde, Senegal e outros países da sub-região. Faz mais de 20 anos que estudamos programas e projectos para implementar uma ligação marítima entre os dois países, mas nunca funcionou. Hoje, graças à determinação de uma mulher, Verónica, estamos aqui a concretizar este sonho”.
Por fim, a mentora do projecto da primeira linha marítima regular entre Senegal, Cabo Verde e Gâmbia, Veronique Reis, detalhou as etapas e objectivos da iniciativa.
“O projecto tem várias fases. A primeira fase é uma base de testes, que inclui optimizar a rota e os tempos de transporte entre Senegal, Cabo Verde e Gâmbia. O objectivo é não apenas transportar produtos, mas também facilitar a chegada de alimentos, tanto secos quanto frescos, e de mariscos, atendendo às necessidades locais e turísticas”.
Veronique Reis destacou que a linha também beneficiará as comunidades cabo-verdianas e senegalesas ao proporcionar novas oportunidades de viagem.
“Queremos dar uma oportunidade para os comerciantes, especialmente as mulheres, que viajam para fazer compras para que possam retornar com facilidade. Antes da pandemia, havia muito mais oportunidades de viagem, e este projecto vem preencher essa lacuna, além de trazer produtos mais baratos para os cabo-verdianos”.
O investimento inicial do projecto é de cerca de um milhão de euros, com o apoio de parceiros como o banco Ecobank e investidores franceses.
“Estamos a trabalhar com o Ecobank em todo o processo de financiamento. Além disso, temos várias oportunidades de financiamento na França e estamos a negociar com investidores interessados em Cabo Verde. Este é um projecto ambicioso que queremos consolidar para fortalecer Cabo Verde e toda a região”, afirmou Verónica Reis.
A empresária e fundadora do projecto também ressaltou o trabalho em equipa, “Temos um núcleo muito eficiente no Senegal, na Gâmbia e em Cabo Verde. Este projecto é resultado de uma colaboração intensa e da determinação de todos os envolvidos”.
Com a nova rota, espera-se um incremento no comércio regional e uma maior integração entre Cabo Verde e os países da CEDEAO, sinalizando um futuro promissor para o sector marítimo e para as relações comerciais.