Março, mês da Mulher - Carmelita Miranda: “O que vier será consequência daquilo que fizermos”

PorSara Almeida,23 mar 2025 8:21

A história de Carmelita Miranda começa no Sal e é lá que hoje a encontramos, mas a sua visão sempre foi além dos 30 quilómetros da ilha que a viu nascer e para onde regressou. Fisioterapeuta e osteopata, uma das poucas de Cabo Verde, inaugurou, no início deste ano, o Centro de Reabilitação Físico-Motora ATLAS, que, mais do que a realização de um sonho, é o culminar de uma jornada feita de persistência, conhecimento e a vontade de devolver ao seu país tudo o que aprendeu.

Um percurso feito sem medo, com a certeza de que o futuro não se espera nem se adivinha – constrói-se nos passos que damos e naquilo que fazemos.

Em Outubro de 2024, Eleane Lima sofreu um pequeno acidente doméstico. O vidro do poliban caiu-lhe no pé esquerdo. Resultado: uma ruptura de tendão e uma grande chatice. Foi operada numa clínica privada do Sal e, após a cirurgia, começou o tratamento no Centro de Reabilitação Atlas, com o objectivo de evitar aderências, aumentar a amplitude dos movimentos e fortalecer os músculos. Com 20 sessões marcadas, já vai a mais de meio. “Já estou a notar bastantes melhorias”, avalia.

Lucas, de 15 anos fracturou a clavícula “quando estava a jogar bola”. Da fractura, conta, já está curado, mas descobriu-se que algo está “torto”. O raio-X detectou uma escoliose, ou seja, um desvio na coluna e foi encaminhado para o Atlas, para reeducação postural, o que engloba uma série de exercícios terapêuticos para correcção.

Lá fora, no jardim sensorial, passeia uma senhora que está a reeducar a marcha, após ter colocado uma prótese na anca. O jardim, que lhe dá diferentes sensações e terrenos irregulares, ajuda a corrigir a alteração, complementando o tratamento.

Este são alguns dos utentes que encontramos no “Atlas”, num dia que parece bem movimentado. Espalhadas em diferentes tratamentos, há várias histórias, que, na sua maioria, nos lembram que poderia ser qualquer um de nós ali. Afinal, poucos passaram a vida sem um acidente ou condição que necessite de algum tipo de reabilitação.

O rosto

Inaugurado em Fevereiro deste ano, o Centro de Reabilitação Físico-Motora ATLAS, um espaço moderno e conforme com os padrões mais actuais, é o resultado de um sonho de há muito.

O rosto, por trás do projecto é Carmelita Miranda, fisioterapeuta e osteopata.

Nascida e criada no Sal, sétima e última filha de um casal que migrou de Santo Antão em busca de melhor vida, da infância, lembra as histórias que a avó lhe contava sobre as fomes e as dificuldades passadas.

“Ouvindo essas histórias, cedo me apercebi que as oportunidades que os meus pais me davam eram o céu perante a vida que eles tiveram”, conta Carmelita.

O seu pai era aduaneiro e um autodidacta que tinha uma biblioteca em casa e desde cedo incutiu nos filhos o gosto pela leitura e a noção de que o mundo era muito mais do que a ilha de 30 quilómetros. Para tal, a todos proporcionou, por exemplo, uma viagem ao estrangeiro. Carmelita tinha apenas 8 anos quando embarcou sozinha num avião para Portugal, onde os compadres dos pais a acolheram e a levaram a visitar diversos locais.

A sua mãe era doméstica e uma verdadeira “feminista”, mesmo sem conhecer a palavra. “Ela desenvolveu o seu próprio negócio de venda de aguardente e também, por vezes, inhame e banana, para melhoria do rendimento e economia familiar”, conta. Dela recorda muita vezes ter ouvido: “Home né remed, nha fidja. Homem não é remédio, minha filha.”

“Defensora da independência económica da mulher como caminho da conquista da liberdade”, não queria com isto “depreciar ou minimizar a importância do masculino, mas sim dizer que nós, mulheres, temos tudo o que precisamos para definir o nosso futuro e vencer as adversidades”.

Se do pai, ela e os irmãos herdaram o gosto pelo estudo, da mãe herdaram esse espírito combativo, “a resiliência e o acreditar de que tudo é possível, desde que as dificuldades sejam encaradas como um meio de crescimento”.

Carmelita estudou no Sal até ao 9.º ano. Mais do que isso, a ilha não oferecia. Rumou depois para a cidade da Praia, onde continuou os estudos e tinha 17 anos quando concluiu o chamado ano zero, de preparação para a universidade. Quando foi de férias para a ilha natal, e perante a escassez de professores, concorreu para dar aulas. Mas o tempo de professora durou pouco. Quando viu um anúncio para agente de tráfego aéreo nos TACV, empresa de sonho na altura, concorreu e foi seleccionada.

Paralelamente, e como sempre gostou de microfones, teve um programa na RTC “A tarde do Amor”, juntamente com o jornalista Adelino Ramos.

Com 18 ou 19, “o eu que sabia do amor?!”, ri-se.

Lembra-se também de quando apresentou o Festival de Santa Maria com o Ildo Lobo. Um à-vontade nos palcos que lhe vinha de criança. Uma vez, conta ainda, na escola, incentivaram-na a participar num concurso de canto. Não sabia a letra, mas não se melindrou. Cantou só o refrão.

“Tive sempre esse espírito de querer fazer coisas diferentes e de não ter medo”, observa.

O Curso

Carmelita estava bem na TACV. O ordenado era bom, o trabalho dava segurança e havia todo um glamour à volta da empresa.

Mas Carmelita estava insatisfeita. Queria estudar. Os pais, vendo que largava um bom emprego e inseguros porque “não é fácil ter uma filha que tem muitas ideias” e quer fazer tudo, não apoiaram.

Decidiu ir mesmo sem o apoio. Pegou nas poupanças amealhadas ao longo de cerca dois anos, no valor de 300 contos, e aproveitou uma parceria entre a Câmara Municipal do Sal, a Câmara Municipal de Macedo de Cavaleiros, a Santa Casa de Misericórdia de Macedo de Cavaleiros e a Escola Superior de Saúde de Jean-Piaget Nordeste. Foi para Portugal.

O curso: fisioterapia. O local, como referido, Macedo de Cavaleiros, uma cidade do Distrito de Bragança, bem no norte de Portugal.

Chegou , três meses depois das aulas começarem. O condutor do presidente da Câmara de Macedo foi buscá-los a Lisboa, a ela e mais quatro estudantes salenses, para uma longa viagem até ao norte. “Foi em 1998, fomos os primeiros alunos a ir para o distrito de Bragança. Não havia africanos em Macedo de Cavaleiros”, com excepção de uma senhora de Moçambique.

Apesar do bom acolhimento, que salienta, o início foi difícil. O inverno era muito rigoroso, e até calçar uma bota era estranho para quem está habituado à amenidade das ilhas. Difícil também foi viver num lar de Terceira Idade.

Quando chegaram, já não havia lugar no Lar dos Estudantes, foram morar num lar com cerca de 150 idosos gerido por religiosas. Um mundo que Carmelita nunca vira na sua terra natal, onde os avós eram cuidados pelas famílias.

As noites eram longas e cheias de lamentações.

“Tive que conviver com a dor”, conta. “Passei três meses a vomitar de rejeição”.

Não era fácil, mas a vontade era estudar era grande. E, além disso, para alguém que deixara um suposto emprego de sonho nos TACV, regressar sem nada não era opção.

Adaptou-se, resistiu, cumpriu as regras. Concluiu o bacharelato em fisioterapia e, no último ano, fez o estágio final no Hospital Universitário de Coimbra.

Daí, foi para Viseu trabalhar num hospital privado. Tinha 23 anos, um bom rendimento e regalias. Além disso, as condições de trabalho eram muito boas: “uma equipa multidisciplinar com internamento e uma fisioterapeuta disponível para me ensinar e para me acolher.”

Estava bem.

Regresso

Cerca de três meses passados recebeu um telefonema. Era um convite para vir para Cabo Verde. A Universidade Jean Piaget ia abrir um curso de fisioterapia e havia falta de professores.

Carmelita queria retribuir. Tinha estudado na Piaget de forma gratuita e assim poderia também dar o seu contributo para o seu país.

“Pensei como a fisioterapia podia ser importante para as pessoas de Cabo Verde”, lembra.

Sem olhar para as condições que iria encontrar, aceitou. O salário era bem inferior ao que tinha, e mal dava para cobrir as necessidades. No choque com a realidade, ainda pensou regressar a Viseu, mas aguentou.

Estávamos em 2001 e a Universidade Jean Piaget dava os primeiros passos. Não havia acesso generalizado à internet, pelo que era difícil consultar estudos científicos e técnicas, não havia livros sobre a área na biblioteca, nem um laboratório.

Havia apenas os alunos: cerca de 40, ávidos de aprender e vários deles muito mais velhos do que ela.

“Mas o instituto estava disponível”. Atendiam com solicitude ao pedidos de Carmelita e rapidamente se conseguiu equipar a biblioteca e o laboratório “com equipamentos de ponta”. Para leccionar técnicas em que ela ainda não tinha prática, convidavam professores. Além disso, conseguiram engajar as poucas fisioterapeutas que havia no país, para acolherem os alunos em estágio.

“E assim começou o primeiro curso de fisioterapia em Cabo Verde”, recorda. Carmelita queria que fosse o melhor curso e para isso trabalhava 12 a 13h por dia. “Tentava sempre dar o melhor”. A certa altura, sentiu necessidade de aumentar o seu grau académico. Com o apoio da Piaget, no ano lectivo de 2003/2004 voltou a Portugal para fazer o complemento de licenciatura, que tinha duração de um ano. “Fiz um ano em Valongo, na Escola Superior de Saúde de Vale de Sousa. Cheguei, mais uma vez, três meses atrasada”.

Os colegas disseram-lhe que não conseguiria ter sucesso nesse ano, mas com a “bagagem de estudo” e força para atravessar dificuldades que já ganhara, conseguiu terminar.

Regressa à Praia com o então raro título de licenciada em Fisioterapia para continuar o seu trabalho na universidade, que acumulou com o de coordenadora e fisioterapeuta no gimnodesportivo [Vavá Duarte]. Depois, recebeu o convite para abrir um Centro de Fisioterapia e foi uma das primeiras sócias do centro Physical, do qual foi também directora clínica.

Mas rapidamente a vontade de saber mais a voltou a consumir. Pensou: “Se quero continuar com a vida académica não posso ter só licenciatura”.

Em 2007/2008, rumou mais uma vez para Portugal, desta vez para o sul, para fazer o mestrado em Psicologia Clínica e da Saúde na Universidade de Algarve.

A nova área obrigou-a a “entrar num outro processo mental”, mas hoje considera que essa área “faz todo o sentido” pois consegue adaptar-se às diferentes situações.

Uma acontecimento marcou-a. Quando chegou, mais uma vez com atraso, logo teve um curto prazo para entregar um trabalho, sobre uma tema de que pouco ou nada sabia. Chorou a noite inteira. Entregou e o professor disse-lhe que embora o trabalho merecesse um 3 (numa escala de 20), lhe daria um 10 em consideração à sua chegada tardia ao curso.

Talvez com o 3 tivesse desistido logo naquele momento do Mestrado. Mas a positiva deu-lhe ânimo para continuar. E assim se tornou Mestre, com nota final de 17 valores.

“Encontrando estas boas pessoas também começas a perceber que a vida não tem que ser tão linear”, observa.

Na altura em que estava a fazer a tese, tinha bolsa de estudos. Então, como “já estava habituada a uma ginástica grande” decidiu dedicar-se também a outros estudos e “absorver o máximo” possível.

Assim, começou o seu percurso na Osteopatia.

Entrou na escola de osteopatia de Madrid, uma escola internacional, presente em vários países, inclusive Portugal, onde fez o grosso dos estudos deste master, antes de ir para a capital espanhola fazer o estágio. Terminado o curso, casada e já com um dos seus dois filhos nascido e outra já gerado, Carmelita tinha várias oportunidades de emprego, inclusive a dar aulas, em Portugal.

Mas, “tinha cabeça voltada para vir para Cabo Verde e dar o meu contributo”. E assim fez.

O ano, 2011. O intuito inicial era regressar às aulas na Piaget, onde continuava sob licença sem vencimento. Mas a proposta já não a satisfez. Assim, mudou os planos e começou uma nova vida no seu ponto de origem: o Sal.

Na ilha e casa que a viram nascer, juntamente com o marido, que também é fisioterapeuta, abriu uma clínica, a “ Atlas, osteopatia e fisioterapia”.

“Como não havia osteopatas em Cabo Verde, o meu interesse era trabalhar essencialmente nesta área. Era uma área que eu queria desenvolver no Sal e depois em outras ilhas, mas ninguém conhecia a osteopatia. Então, também abri a fisioterapia”, conta.

Na altura, pelo desconhecimento a procura da osteopatia era realmente muito fraca, o que Carmelita vê como parte de um processo normal. “Como pioneira, levava o seu tempo”, analisa.

A certa altura passou, então, a centrar-se apenas na osteopatia, pela escassez de profissionais, e a deslocar-se a outras ilhas para a exercer.

De qualquer modo, confessa, tanto fisioterapia como osteopatia são ambas uma paixão. Da osteopatia, gosta do raciocínio clínico, que permite explorar a origem das dores e construir a história da patologia do paciente. Já na fisioterapia, adora o contacto humano, “essa proximidade com pessoas”, e a satisfação de contribuir para o fim das limitações dos pacientes. E algo que rege qualquer um dos seus tratamento, é espelhar-se na pessoa que trata. “Hoje é ela, amanhã posso ser eu”, sente, colocando-se no lugar no outro.

Na verdade, “para entrar nessa área, é preciso gostar de seres humanos. Não há como.”.

Laboratório

A clínica Atlas, como referido, foi instalada numa casa de habitação, a casa onde nasceu, entretanto adaptada para acolher esses serviços. Mas as barreiras arquitectónicas do espaço impediam o crescimento.

“Tínhamos know-how, uma boa equipa, mas o espaço e o acesso à clínica não nos deixavam crescer”.

Assim, Carmelita e o marido decidiram que era necessário um novo projecto. Aliás, do marido diz ser a “pedra basilar neste projecto e anda par a par com os meus sonhos, que acabam também por se cruzar com os sonhos dele”.

Com o apoio das famílias, destacadamente dos pais de Carmelita que cederam o terreno, os dois começaram a delinear um edifício novo.

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A experiência que traziam das instalações anteriores – que funcionaram como uma espécie de “laboratório” – permitia idealizar um espaço que correspondesse a todas as necessidades.

E avançaram. Sem estudo de mercado, nem algo semelhante, Carmelita apenas confiante de que, conjuntamente com a equipa, seriam capazes.

“O que vier será consequência daquilo que fizermos”, é a sua filosofia.

Começou então a construção de um centro, alinhado com as melhores práticas internacionais.

O centro

A construção não foi fácil. Enfrentou desafios, como a falta de mão-de-obra e o elevado custo dos materiais.

“Queríamos que o centro tivesse nada menos do que um padrão internacional. Não por vaidade, mas acho que os nossos pacientes e a nossa equipa merecem”, diz Carmelita.

Mas, em Fevereiro, finalmente, o sonho que já tinha nove anos concretizou-se e o Centro foi inaugurado.

Com o novo espaço, cresceu também a equipa. Neste momento, conta Carmelita, que é a directora-clínica, o centro conta com oito funcionários a tempo inteiro a que se juntam seis que se deslocam para prestar serviço: uma fonoaudióloga, nutricionista, dois ortopedistas, uma pediatra e uma clínica geral.

“Temos várias valências e ainda estamos a crescer”, aponta.

A recepção tem sido boa. E a pouca população do Sal, que poderia resultar numa fraca demanda, não é uma preocupação para Carmelita.

“Não penso isso. Uma das preocupações do meu companheiro era essa: não temos massa crítica. Pensou que seria melhor ir para a Praia ou São Vicente. Mas, uma das coisas que aprendi na Psicologia Clínica e da Saúde é que não temos controlo sobre nada”. É preciso arriscar.

Afinal, como referido: “o que vier será consequência daquilo que fizermos.”

Reabilitação em Cabo Verde. Este é um centro para todas as idades e tem uma área infantil. Há procura?

Temos uma secção para crianças que ainda não está a ser explorada, porque não há essa cultura. Temos pediatra no centro, mas a população carece de informação para os tratamentos que fazemos. Gostaríamos de ter mais utentes na área da obstetrícia e, principalmente, na área de pediatria. Acreditamos que há necessidade. Por exemplo: há crianças que nascem com alterações no formato do crânio. Na osteopatia conseguimos fazer modelagem do crânio, mas não há essa demanda. Vamos fazer um trabalho de divulgação, de literacia em saúde para que as pessoas estejam mais informadas e saibam há solução. Normalmente, as pessoas que recorrem à fisioterapia são adultos e cerca de 90% dos pacientes são de foro músculo-esquelético. Muitas pessoas até dizem: “venho fazer massagem”. Fisioterapia não é massagem, é muito mais do que isso, exige uma avaliação. A pessoa tem o diagnóstico médico, mas temos de fazer o diagnóstico em fisioterapia. E a massagem é apenas um dos recursos que utilizamos. Temos um conjunto de técnicas que vamos usar conforme a necessidade do paciente.

Quando veio para Cabo Verde, em 2001, para montar o curso de fisioterapia em Cabo Verde havia cerca de meia dúzia de fisioterapeutas no país. E agora?

Neste momento, estamos com escassez. A fisioterapia já é algo que toda a gente reconhece e tenho muito orgulho nisso. Temos fisioterapeutas nos hospitais, nos centros de saúde, nas clínicas privadas. Até temos fisioterapeutas a fazerem urgências 24 horas no Hospital Agostinho Neto. Portanto, houve uma mudança grande nessa área.

Uma das queixas que se ouve é que o número de sessões de fisioterapia comparticipadas pelo INPS não é suficiente.

Há problemas, mas se compararmos, por exemplo, com a realidade portuguesa, estamos melhor. Em Portugal demoram seis meses a fazer um pagamento. Aqui, sem o pagamento do INPS não conseguimos funcionar. Eles pagam pontualmente. E na fisioterapia, apesar das dificuldades, podemos considerar que somos privilegiados, porque a fonoaudiologia ou a psicologia, por exemplo, não estão no INPS. Ainda há muita coisa por fazer.

Mas 15 sessões são suficientes?

Geralmente, os pacientes não recorrem à fisioterapia sem dor. Recorrem quando já têm várias patologias. No diagnóstico médico pode ter uma patologia, que é a primária, mas quando vamos fazer o nosso diagnóstico, vemos que tem, em média, três. Por exemplo, manifesta-se no joelho, mas no entanto tem problemas na coluna e na anca. Dificilmente encontramos um paciente que só tem uma patologia. No mínimo, temos dez sessões. Então, tentamos dar o nosso máximo, para dar respostas rápidas, o melhor possível. Na fisioterapia traçamos o objectivo a curto, médio e a longo prazo. Conseguimos, na maior parte dos casos, o objectivo a curto prazo, que é a diminuição da dor, da inflamação, mas não os outros. O limite de sessões comparticipadas, acaba por limitar. Ainda há potencial de reabilitação e a pessoa, por vezes, não tem essa capacidade financeira e acaba por ficar com o tratamento a meio. Neste momento temos essa dificuldade e já a transmitimos ao INPS em várias reuniões.

E turismo de saúde. O Atlas tem capacidade para essa valência?

É uma área em que vamos trabalhar em breve. O centro também foi desenhado para isso, para que pessoas que venham de férias façam a sua reabilitação. Há um grande investimento a nível financeiro neste centro, que tem um nível de qualidade internacional, em termos de equipamento, instalações e formação dos nossos profissionais. Além disso, temos bom clima, temos outras potencialidades na ilha,pelo que faz todo o sentido as pessoas venham fazer a sua reabilitação aqui.

trabalham com os resorts e operadores turísticos, por exemplo?

Acabamos de nos mudar e onde estávamos instalados não permitia criar expectativas. Devemos criar expectativas quando temos a capacidade de resposta e agora temos um leque de situações que podemos explorar. Vamos fazer isso, pois o nosso objectivo é atingir esse mercado. Mas já tivemos pessoas da Praia que vieram por parte de seguradoras fazer o seu tratamento de osteopatia. Eu costumava deslocar-me, mas neste momento, com este projecto do Centro, não consigo. Então a pessoa veio passar 15 dias no Sal. Acho que é a primeira vez que alguém de Praia vem para o Sal para se tratar. Mas, as pessoas também não vão para Senegal? Podem vir pessoas de outras ilhas. Este é um centro que pode acolher tanto pessoas de Cabo Verde, como pessoas de outras partes do mundo.

Alguma mensagem final?

A de que há muito que fazer em Cabo Verde. Temos é de ter coragem e apoio. No meu caso, o apoio foi familiar. Já tive muitas experiências fora, fiz 11 anos de ensino superior. Porque regressei? Porque lá sou mais uma numa roda dentada de muitos profissionais. Poderia ter um bom vencimento, mas aqui é, apesar de mais difícil, é mais gratificante. É preciso sonhar, mas sem esquecer que tudo isso exige muito trabalho e investimento pessoal. Estou satisfeita. 

Texto originalmente publicado na edição impressa do Expresso das Ilhas nº 1216 de 19 de Março de 2025.

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Autoria:Sara Almeida,23 mar 2025 8:21

Editado porFretson Rocha  em  24 mar 2025 8:07

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